Rio - Os tubarões, arraias e cações estão em perigo nos mares brasileiros. O país tem uma das maiores biodiversidades de peixes cartilaginosos do mundo, mas corre o risco de perdê-la, já que nada menos do que 40% das 151 espécies estão com algum grau de ameaça de extinção. A constatação é de análise do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, que pesquisa a fauna ameaçada do Brasil.
A pesca excessiva e desordenada ainda é a principal ameaça à existência de 90% desses animais. De acordo com dezenas de especialistas envolvidos no trabalho, os peixes cartilaginosos marinhos integram o grupo que apresentou a maior porcentagem de espécies ameaçadas nos últimos anos.
E o número pode ser ainda maior. Segundo a gerente de Biodiversidade Aquática e Recursos Pesqueiros do Ministério do Meio Ambiente, Mônica Brick Peres, além dos 40% de espécies ameaçadas, outros 34% não puderam ser avaliados, devido a dados insuficientes. “Podem ser espécies também ameaçadas, mas não temos informações suficientes para dizer em que categoria se enquadram”, afirma Mônica.
Todos os ambientes
As 151 espécies marinhas habitam todos os ecossistemas, desde águas próximas ao litoral até as profundezas. “São seres que apresentam estratégia de vida única e estão entre os mais vulneráveis e sensíveis à ação humana nos nossos mares. Amaioria tem baixa fecundidade”, diz. Algumas das espécies têm apenas um ou dois filhotes a cada três a cinco anos. Além disso, sua longevidade é elevada: podem viver de 80 a 130 anos. E a maturação sexual ocorre muito tarde: algumas espécies só se tornam adultas aos 25 anos de idade.
Por tudo isso, as espécies são extremamente vulneráveis à pesca. E, quando ameaçadas de extinção, a recuperação populacional ocorre muito lentamente — algumas podem levar mais de 300 anos.
Os tubarões têm papel ecológico fundamental na manutenção de ecossistemas. São responsáveis pelo equilíbrio populacional da maioria dos peixes que sustentam a atividade pesqueira. A diminuição dos tubarões já fez com que a pescaria entrasse em colapso em várias partes do mundo, causando grandes prejuízos econômicos.
Importantes para o turismo e a medicina
Do ponto de vista ecológico, as espécies cartilaginosas marinhas são fundamentais. Mas não é só isso. Tubarões e arraias também têm valor farmacêutico e turístico. Pesquisas mostram que substâncias derivadas dessas espécies ajudam até mesmo no combate ao câncer, entre outras doenças.
Em relação ao “ecoturismo de observação”, o mergulho com tubarões é praticado em 83 localidades de 29 países, e é uma atividade diretamente responsável pela geração de empregos e pelo crescimento econômico dessas regiões.Na República das Maldivas, na Ásia, por exemplo, estes mergulhos equivalem a nada menos do que 30% do Produto Interno Bruto.