Rio - A qualidade do Ensino a Distância (EaD) é semelhante ao ensino presencial tradicional? O mercado de trabalho tem preconceito dos formados em EaD? Todos os cursos são obrigados a ser credenciados ao Ministério da Educação? Essas são as dúvidas mais recorrentes de quem mostra interesse pelo EaD. Dados do MEC e avaliação de especialistas da área mostram que o EaD já é uma realidade e é aceito sem restrições pelas empresas.
Os últimos números do Ministério, de 2000 a 2011, mostram que a oferta de cursos na modalidade EaD no Brasil vem crescendo exponencialmente, tanto na educação não formal (curso livres) como na educação formal. Cresceu 18.860% num espaço de apenas 11 anos.Enquanto que em 2000 haviam apenas 5.287 alunos matriculados rm cursos EaD, em 2011, esse total saltou para 992.927.
Tal magnitude do aumento pode ser constatada também nas matrículas em cursos técnicos: somente por meio da Escola Técnica Aberta do Brasil – e-TEC, do Ministério da Educação, as matrículas em 2012 subiram para cerca de 1 milhão. Hoje são mais de 1 mil cursos superiores em oferta no país. por instituições públicas e privadas. Segundo a Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), em 2012, os alunos de EAD foram maioria do sexo feminino (51%), com idade de 18 a 30 anos (50%), que tanto estudam e quanto trabalham (85%). A exceção são os cursos corporativos em que o público masculino é maior (52%).
Aceitação do mercado
Coordenadora-Geral de Regulação da Educação Superior a Distância do MEC, Cleunice Rehem diz que reduziu bastante o preconceito no mercado de trabalho para quem se forma a distância. Segundo ela, as empresas têm constatado que alunos de cursos por EaD são focados, desenvolvem maior capacidade de leitura e de iniciativa.
“No Brasil o setor produtivo já dá sinais de avanços nesta descoberta e preferência. Há muito o que ser feito, mas já estamos avançando gradualmente e em passos seguros quanto à confiabilidade na formação superior a distância”, atesta a especialista do MEC.
Ricardo Moreira, da Anhanguera Educacional Participações, com mais de 500 unidades de educação a distância, diz que muitas empresas hoje contratam esses cursos para capacitação de seus funcionários. “Além disso, o perfil de um profissional formado a distância pode ser diferencial na hora de contratar. Afinal, ele demonstra responsabilidade e a capacidade de se organizar para cumprir programas e prazos”.
Visão distorcida de facilidade
A coordenadora do MEC Cleunice Rehem diz que somente os cursos chamados livres — de aperfeiçoamento, de extensão — não precisam de autorização governamental. “Já os cursos de graduação e pós-graduação a distância precisam”, destaca a coordenadora. Ela diz que o polo presencial é uma exigência do MEC. “Neles, os alunos recebem orientação de um tutor, têm acesso à internet e fazem as provas”, conta Magno Vianna, gerente Nacional de Operações EAD da Estácio.
Ele afirma que a visão distorcida de que o EaD é fácil, pela autonomia de estudo e pela flexibilidade de horário, leva a um percentual de evasão. “Ao se depararem com a necessidade de uma maior disciplina e dedicação, eles se assustam”, afirma o gerente da Estácio, que forma uma média de 1,5 mil alunos de EaD por ano nos cursos de graduação, pós e livres.
Diretor de pós-graduação a Distância da Fundação de Apoio ao Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. (Funcefet - Online), Raul Rousso diz que o EaD oferece educação a quem não está nos grandes centros. “Se o conhecimento se afasta de determinados locais, vemos formar-se muitos grotões de pessoas sem capacitação, a mercê da importação de mão de obra”, explica. A Funcefet têm cursos EaD em Petróleo e Gás, Engenharia, Segurança do Trabalho e Farmácia.
Para conciliar estudo e trabalho
Carlos Bielschowsky, presidente da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CECIERJ), consórcio que congrega sete instituições públicas de Ensino Superior, destaca que o EaD contribui para a formação de mão de obra qualificada fora dos grandes centros.
“Uma pessoa que mora no interior do estado talvez não conseguiria estudar numa universidade pública do Rio por morar longe. Afinal, mesmo sendo pública a pessoa teria que vir morar na capital ficando longe da família e tendo despesas com aluguel”, diz. Julianna Vieira Lima, de 24 anos, oficial de máquina da empresa Solstad Offshore, faz pós-graduação de EAD em Gestão e Refino pela Funcefet e optou pelo ensino a distância por trabalhar embarcada. “Trabalho 35 dias embarcada e folgo outros 35. Só assim consigo fazer o curso”, conta. Técnico de inspeção da Petrobras, Ludeni Fortuna, de 36, vive situação semelhante. Faz pós de EAD em Gestão e Refino pela Funcefet e optou pelo ensino a distância por trabalhar embarcado.
“Seria muito difícil frequentar as aulas”. O farmacêutico Gilberto Carvalho, de 30, que faz MBA à distância em Finanças pela Estácio, revela que o EaD otimiza seu tempo. “Além de evitar perder horas no trânsito, tenho liberdade para outras atividades”.