Por felipe.martins

Rio - A Copa do Mundo acabou, e surge a dúvida: será também o fim do Fuleco da vida real? Para tentar salvar o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) da extinção, o biólogo Felipe Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, propôs abaixo-assinado na internet para obter apoio ao seu pedido de criação de um parque nacional na Caatinga, dedicado à preservação do animal. Em menos de um mês, conseguiu mais de 160 mil assinaturas, já entregues ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

Clique na imagem para melhor visualizaçãoArte O Dia

Por enquanto, o parque segue no papel. “Há duas propostas em análise: o Parque Nacional do Boqueirão da Onça, na Bahia, e o Parque Estadual do Tatu-bola, em Pernambuco”, explica Leandro Jeruzalisnky, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, do ICMBio. Segundo Felipe Melo, a Caatinga e o Cerrado, ecossistemas do tatu-bola, têm sérios problemas de preservação.

Há ainda a caça, que torna mais grave a ameaça de extinção. Em maio, com outras 15 instituições, o ICMBio lançou o Plano de Ação Nacional para a Conservação do Tatu-Bola (PAN). São 38 ações para tentar aumentar a população do bicho, catalogado como “vulnerável”. As ações visam a ampliar o conhecimento de cientistas sobre a espécie, tomar medidas para proteger e recompor seus habitats e reduzir ou eliminar a caça.

Carne de tatu-bola foi apreendida pelo Ibama com uma mulher no aeroporto do Rio. Ela foi multadaDivulgação

SEM VERBA DA FIFA

Uma das instituições parceiras do ICMBio é a Associação Caatinga, que receberia verba da Fifa para o projeto. O dinheiro jamais chegou. A ONG afirma que a federação ofereceu R$ 300 mil reais, valor considerado “incipiente”, e as negociações fracassaram.

“Tudo deve ser implementado com a participação da sociedade e das comunidades locais para garantir a sobrevivência da espécie”, diz Jeruzalisnky, que elogiou o abaixo-assinado. “Sinaliza que teremos mais parceiros”, diz. A petição está disponsível em www.change.org/parquedotatu.

Carne pode transmitir doença

Em seus estudos, o biólogo Felipe Melo e outros pesquisadores fizeram expedição à Caatinga e constataram que a caça de tatus ainda faz parte da cultura local. “A gente chegava nos lugares e perguntava para as crianças quem tinha comido tatu no último ano, e todo mundo levantava a mão”, contou à Agência Brasil. Ele ressalta que comer a carne do bicho traz o risco de o consumidor contrair hanseníase, já que o tatu-bola é um ‘reservatório’ da doença.

Há uma semana, o Ibama flagrou, no Aeroporto Internacional Tom Jobim, uma passageira carioca que levava carne de um tatu adulto, em pedaços, numa caixa de isopor. A mulher, que ia para o Maranhão, foi multada em R$ 500 por transporte ilegal de espécime da fauna nativa brasileira.

Em seu ambiente natural, o tatu-bola tem o papel de movimentar os nutrientes da terra e controlar a presença de formigas. Eles também são alimento para grandes felinos. Para Felipe Melo, a principal ferramenta para conservar o tatu é a criação de áreas naturais, protegidas por lei, para a manutenção de espécies e ecossistemas.



Você pode gostar