Rio - O Brasil precisa monitorar e prever o impacto das mudanças climáticas do planeta em suas atividades econômicas, na população e no ambiente. A meta foi apresentada pelo secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre, durante workshop em Brasília, semana passada. Desta maneira, informou, seria possível antecipar problemas, “para que a sociedade não seja tomada de surpresa” quando já estiverem ocorrendo.
“Consideramos central para o planejamento e as estratégias de desenvolvimento sustentável do Brasil termos conhecimento muito apurado sobre como as mudanças climáticas estão impactando e irão impactar a economia, a sociedade e o ambiente, com ênfase na nossa biodiversidade”, afirmou.
Como exemplo de problemas que precisam ser monitorados, Nobre citou o caso das savanas tropicais do Brasil Central, onde há aumento considerável de incêndios por ação humana de agosto a outubro, período de seca. “Isso perturba muito o ambiente biológico do Cerrado. Os impactos são muito grandes na biodiversidade e a fumaça também gera problema de saúde pública”, alertou.
Ele também exemplifica com as chuvas na cidade de São Paulo, que estão entre 30% a 35% maiores do que cem anos atrás. “Essa é uma mudança climática de origem local, uma ilha urbana de calor. O atual cenário agrava a questão dos desastres naturais numa região por onde transitam 20 milhões de pessoas”. Sobre a origem global, Nobre cita o 5º Relatório do IPCC (Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), publicado em 2013 e 2014. “O documento sugere, com forte embasamento científico, que a alternância de secas e inundações na Amazônia na última década já seria um resultado das mudanças climáticas globais”, disse.
O workhop ‘Desafios para o Monitoramento e a Observação dos Impactos de Mudanças Climáticas’, na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, foi parte do projeto Diálogos Setoriais entre Brasil e União Europeia, com organização do ministério e apoio da Embaixada Britânica.
Bioma requer mais atenção
Na Cúpula do Clima da ONU, semana passada, em Nova York, a presidenta Dilma Rousseff destacou que entre as medidas adotadas pelo Brasil para diminuir as emissões de gases do aquecimento global está o combate ao desmatamento, “não só na Amazônia, mas também no Cerrado”.
O WWF-Brasil, ONG dedicda à conservação da natureza, comentou que o Brasil ainda não tem sistema de monitoramento do desmatamento no Cerrado tão robusto quanto na Amazônia.
No setor privado, uma das iniciativas para tentar conter os incêndios sazonais é da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que administra a Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante (GO), uma das maiores reservas particulares do Cerrado. Há trabalho de prevenção e combate ao fogo, com uma brigada voluntária comunitária.