Por felipe.martins

Rio - As consequências dos extremos climáticos vão além de mudanças na paisagem e destruição de imóveis e outros bens. Vítimas de tragédias, muitas destas causadas pelo aquecimento global, podem sofrer também com estresse, ansiedade e depressão. E as crianças são as mais vulneráveis.

Para avaliar os impactos dos fenômenos do clima na saúde mental dos pequenos, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) farão estudo com alunos mineiros, de 6 a 18 anos. De acordo com Marco Aurélio Romano-Silva, professor titular de psiquiatria da UFMG e líder do projeto, a pesquisa vai abordar os efeitos da seca e das enchentes no bem-estar mental dos alunos.

Enchentes%2C como as que afetam a Índia%2C causam a quebra repentina na rotina%2C o que pode tornar as crianças inseguras e desequilibradasReprodução

Ele explica o trauma e a ‘ruptura’ no curso da vida são os responsáveis pelo estresse. Crianças são mais suscetíveis, porque o sistema nervoso ainda está em desenvolvimento, esclarece. “No caso da enchente, de repente a vida é interrompida. Já na seca, as condições vão se deteriorando lentamente e isso gera estresse”, declara, acrescentando que o estudo vai avaliar se os dois eventos climáticos afetam de forma diferente as crianças.

A pesquisa com os estudantes — atingidos diretamente ou não por eventos climáticos — começa no próximo mês. Crianças e adolescentes passarão por avaliação para detecção de sintomas psiquiátricos. Aqueles que apresentarem sinais de transtorno serão encaminhados para serviços que fazem o diagnóstico específico.

Além da avaliação psicológica, o estudo vai utilizar imagens de seca e enchentes, associadas a questionários, para verificar a percepção das crianças sobre os fatos. Os participantes serão também monitorados por meio de ‘eye-tracking’. “A tecnologia acompanha o olhar e podemos avaliar qual parte das imagens chama mais atenção. Por exemplo, se as pessoas ou a paisagem”, disse.

A ligação entre saúde mental e mudanças climáticas foi um dos assuntos abordados no Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que aconteceu este mês, em Brasília. O estresse, diz o especialista, pode ser a origem de outros problemas, como depressão, abuso de álcool, ansiedade, além do Transtorno de Estresse Pós-Traumático. “Mas nem todas as vítimas sofrem problemas psicológicos. Depende da interação entre genética e ambiente onde a pessoa se desenvolveu”.


Pesquisa vai orientar ações para tentar evitar os males

Segundo o psiquiatra Marco Aurélio Marco Aurélio Romano-Silva, da UFMG, outro objetivo do seu projeto é traçar estratégias de como agir e quais medidas tomar para que o impacto na saúde mental seja menor.
“Mas, para propormos ações, é necessário conhecer a natureza e o tamanho do problema. Quando tivermos os dados, poderemos pensar em estratégias para aliviar os impactos”, declara.

Pesquisadores vão verificar ainda se existe algum efeito ‘cumulativo’ no no bem-estar mental dos pequenos. Por exemplo, se vivenciar sucessivas enchentes seria mais danoso ou não. Estudo inglês, feito em 2004, apontou um risco quatro vezes maior de estresse psicológico após inundação na cidade de Lewes, no sul da Inglaterra. Outra pesquisa, de 2007, mostrou que, mesmo após um ano, metade das crianças e adolescentes expostos a um ciclone no estado de Orissa (India) relataram sintomas de Transtorno de Estresse Pós-traumático.



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