Por karilayn.areias

Rio - Todos os dias, às 7h da manhã, durante a safra do açaí, Ana Maria Ferreira Cardoso, 45 anos, coloca o cesto que ela mesma teceu nas costas e sai pela Floresta Amazônica em busca da fruta. O trabalho vai até as 12h. O rotina se repete há 33 anos na comunidade Jauari, no Pará, a pouco mais de 200 km de Belém, onde Ana nasceu e vive até hoje. A desenvoltura com que sobe na árvore ainda é a mesma da menina de 12 anos, idade em que começou a colher o açaí.

Ana vai com desenvoltura atrás do açaí. Ela é uma das moradoras de Jauari cuja renda vem da colheita da fruta%2C usada para fazer sabonetesMarcos Suguio

Ana é uma das integrantes das 35 famílias do local, às margens do Rio Moju, que fornecem sementes de andiroba e murumuru, além do açaí, para a Natura. O material é usado na fabricação dos produtos da linha Ekos da empresa de cosméticos, principalmente nos sabonetes. A parceria entre os moradores e a Natura começou há sete anos.

De Belém até Jauari, na floresta, são 3 horas de viagem. A maior parte, de carro pela rodovia. O trajeto segue por estrada de chão e termina com a travessia de barco por quase 1 km pelo rio. Além de pagar pelas sementes, a Natura tem promovido melhorias na comunidade, como o ensino do manejo das árvores, entre elas o murumuru, que era descartado. Há cursos de capacitação, material para segurança do trabalho, implantação de sistema de filtragem de água e de sala de estudos com computadores e internet.

“Sempre tivemos vida muito difícil. A gente vivia da colheita do açaí e tinha dinheiro apenas para comida. A parceria com a Natura nos ajudou a melhorar. Consegui comprar sofá e ajeitar minha casa”, conta Ana, mãe de 12 filhos. “Não gostava de colher o murumuru porque tem espinho, mas hoje já acostumei”, diverte-se ela, que também planta maniva (caule da mandioca).

A criação da Associação de Jauari foi outra conquista. Francisco José Ferreira, 23 anos, o presidente, é responsável por cuidar da relação com a Natura. Até a chegada da empresa, a produção dos moradores era focada no açaí, e eles até incendiavam as árvores de murumuru. “Elas têm espinhos, era ruim passar por elas. Aprendemos o manejo e passamos a vender as sementes”, comemora ele, que com mais essa renda comprou geladeira ano passado, quando a luz chegou a Jauari.

Francisco conta que, para se chegar até o posto de saúde mais próximo, era preciso enfrentar 4 horas de barco. Com a renda gerada pelas vendas à Natura, foi possível comprar uma embarcação a motor que reduziu o tempo para 40 minutos. E o barco ainda leva as crianças à escola em Moju. O piloto é um dos filhos de Ana.

Atuação da empresa acabou com atravessadores

Das mãos de Ana e dos moradores da Jauari, e dos milhares de parceiros que a Natura tem na Amazônia, as sementes de andiroba e murumuru e o açaí vão para o Ecoparque ou a Casa da Sustentabilidade, como também é chamado o complexo industrial. Orçado em R$ 200 milhões, foi inaugurado em maio, em Benevides, a 30 km de Belém, e produz os sabonetes da linha Ekos (30 mil por dia), que contêm as essências da Amazônia, entre outras.

O Ecoparque ou a Casa da Sustentabilidade%3A complexo industrial totalmente sustentável fica em Benevides%2C no Pará%2C e produz sabonetesMarcos Saguio

O Ecoparque tem 1,729 milhão de m², é todo sustentável, cercado por grande área verde de floresta, e com mão de obra 90% da região. Há lotes à disposição de empresas que queiram se instalar, desde que tenham o conceito da sustentabilidade. Uma indústria alemã já opera ali.

“A Ekos foi o grande salto da Natura no conceito negócios e sustentabilidade, porque conseguimos o retorno financeiro, ambiental e social.Trabalhamos com o conceito da floresta em pé, valorizando a cultura e a tradição da região. Os atravessadores eram o grande problema: pagam pouco pelo produto. Fizemos uma conta com os moradores e mostramos a eles quanto realmente vale o que colhem e pagamos esse preço. A grande beleza é integrar sustentabilidade e negócios”, conta a gerente de Sociobiodiversidade da Natura, Renata Puchala.

A Natura nasceu há 45 anos. Seus produtos já chegaram a França e Bolívia.

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