Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - O número de espécies de plantas prestes a desaparecer no Brasil é cinco vezes superior à previsão oficial atual, alertam especialistas. Com isso, muitos avanços para a sociedade — como, por exemplo, remédios para doenças graves que poderiam ser descobertos a partir da flora — simplesmente jamais vão acontecer. Segundo o estudo, há pelo menos 2.118 espécies brasileiras com chances de sumir para sempre no país mais verde da América Latina.

“Todas as espécies em risco de extinção trazem uma consequência econômica e social”, afirmou o biólogo Gustavo Martinelli, coordenador do Livro Vermelho da Flora do Brasil (2013), segundo o portal Ecodebate. Mês passado, a publicação ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Ciências Naturais.

Orquídea%3A maior número de espécies na categoria ‘vulneráveis’%2C segundo o Livro Vermelho da FloraDivulgação

“Ainda precisamos conhecer o risco de extinção de 100% das 43 mil espécies da flora brasileira, mas pelo menos já temos um começo”, disse ele, que é coordenador geral do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), instituição ligada ao Jardim Botânico do Rio.

A obra — organizada por ele e pelo também pesquisador Miguel Ávila Moraes, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente (MMA) — quantifica a riqueza vegetal do Brasil.

De acordo com o Ecodebate, o ritmo da extinção é muito mais rápido do que o da ciência para identificar e descobrir novas espécies. Especialistas calculam que ainda se desconhece entre 10% e 20% das angiospermas (plantas com flores e frutos). Em contraste, a taxa de extinção é atualmente mil vezes maior do que o nível registrado historicamente, dize o livro.

Além disso, até 2012 apenas 14.500 espécies globais tinham sido incluídas na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Parcialmente financiado pelo Banco Mundial e pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), o livro brasileiro abrange quatro anos de estudos e analisa 4.619 espécies, cerca de 10% das plantas do Brasil.

Vitória-régia%3A planta aquática da região amazônica%2C pode chegar a 2%2C5 m de diâmetro e suportar 40 kgIstock

Segundo Martinelli, calcular os números e os riscos é um primeiro passo. A próxima etapa, afirma, é planejar ações para salvar de fato as espécies. Ainda em dezembro, deverá ser publicado um mapa de áreas prioritárias para a preservação da flora ameaçada.

Obras sem sustentabilidade e incêndios são perigos
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As atividades que colocam mais a flora brasileira em risco, segundo os pesquisadores, são as práticas insustentáveis na agricultura e na construção — principalmente projetos de infraestrutura. Também são nocivos os incêndios provocados pelo homem. Juntos, esses fatores representam quase 88% das ameaças registradas no livro, decorrências da degradação dos habitats.
As plantas da família das bromélias estão criticamente em perigo, seguidas das orquídeas, girassóis e margaridas, segundo a publicação. Ainda de acordo com o ‘Livro Vermelho da Flora do Brasil’, a maior parte das plantas brasileiras ameaçadas está na região Sudeste, em estados como Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Os biomas que mais concentram o perigo de extinção da flora são a Mata Atlântica e o Cerrado. Em seguida, vêm a Caatinga, os Pampas e a Amazônia.
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O Brasil concentra quase 15% da diversidade de plantas do mundo, com cerca de 44 mil espécies já catalogadas, além das milhares de desconhecidas. A publicação teve a participação de duzentos especialistas — tanto brasileiros como de outros países.
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