Rio - Muitos brasileiros cresceram acreditando que não precisam economizar água. Passaram a infância com a ideia de que esse é um recurso natural em abundância no país. De repente, o que era certeza absoluta foi por água abaixo e a população se assustou com a pior estiagem dos últimos 18 anos. Se para os mais antigos evitar o desperdício exige uma mudança de comportamento, entre as novas gerações a consciência ambiental é levada a sério.
A convivência desde cedo com a escassez nos reservatórios que abastecem as regiões metropolitanas motivou um grupo de alunos do curso de Eletrônica da escola João Luiz do Nascimento, da rede Faetec, em Nova Iguaçu, a criar um projeto do irrigação sustentável.
O modelo funciona acoplado a um sensor que é ativado sempre que a umidade e a temperatura do ar estão abaixo ou acima dos níveis desejados. Acionada pelo sensor, a bomba d’água é ligada por um tempo determinado. Se o solo ainda permanecer seco, a bomba é reativada automaticamente.
“Isso evita que a água fique jorrando sem controle até que a bomba seja desligada por alguém”, diz o estudante do 3º ano de Eletrônica, Rafael Calassara, de 18 anos. Outra aluna que participou do experimento, Amanda Lopes, 18 anos, afirma que o equipamento tem inúmeras aplicações. “Além de irrigar plantações, permite monitorar a temperatura em florestas e parques para impedir as queimadas”, diz. Amanda reforça que o sistema possibilita a captação da água da chuva na irrigação.
Iniciativas de reuso da água seguem recomendação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Relatório de Governança dos Recursos Hídricos no Brasil, produzido pela entidade em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA), criticou a comodidade dos governos diante da sensação de que o Brasil é um país abençoado. De acordo com o organismo internacional esse comportamento menospreza a gestão dos recursos hídricos no longo prazo. “ Vários países têm passado por essas mudanças e o Brasil pode dar esse passo para aperfeiçoar mecanismos de gestão”, sugere o representante da OCDE, Luiz de Mello.
Organismo pede transparência na cobrança pelo uso da água no Rio
Uma das soluções propostas pela OCDE para contornar a crise hídrica é a cobrança pelo uso da água. O Rio de Janeiro foi pioneiro na implementação da medida, em 2003. A arrecadação só aumentou, sete anos depois, quando a companhia de saneamento (Cedae) passou a pagar pela utilização de recursos hídricos.
Mas, na avaliação da organização internacional, falta transparência na gestão fluminense. “Os dados sobre a cobrança pelo uso da água estão relatados no site do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), mas não estão inteiramente disponíveis para o público em geral, o que não lança uma luz sobre quem paga o quê”, cobra o representante da OCDE, Luiz de Mello.
O relatório chama atenção também para o fato de que o Rio tem um dos sistemas de gerenciamento de recursos hídricos mais avançados do país, mas enfrenta uma série de desafios. Um deles é a elevada dependência da água que vem dos estados de Minas Gerais e de São Paulo.
O Estado do Rio é afetado ainda por secas prolongadas e inundações. A baixa qualidade da água é outro problema relatado no dossiê. Segundo o texto, 92% dos municípios fluminenses têm coleta de esgoto, mas apenas 59% são tratados antes de ser lançados nos rios e lagoas. Segundo o estudo, a gestão da água deve ser vista como prioridade estratégica, com benefícios econômicos, sociais e ambientais mais amplos para a política nacional. O Brasil não pode mais fazer gestão de crises hídricas, mas, sim, gestão de riscos, que leve em conta o crescimento da população e mudanças climáticas.