Por felipe.martins

Rio - Enquanto a Baía de Guanabara agoniza com a poluição, ilhas próximas ao litoral estão surpreendendo pesquisadores com uma constatação incrível: a biodiversidade ímpar da flora e da fauna marinhas, revelando espécies raras, apesar das adversidades ecológicas. Levantamento inédito feito por dez biólogos, botânicos, oceanógrafos e zoólogos ligados ao Projeto Ilhas do Rio, em três arquipélagos — Cagarras, Tijucas e Maricás — descobriu centenas de espécies, entre peixes, algas, crustáceos, invertebrados marinhos, bichos e plantas terrestres, além de aquáticas, e aves. O estudo durou cinco anos e catalogou 643 espécies nos arquipélagos das Cagarras, 173 nos Tijucas, e 174 nos Maricás.

O biólogo Fernando Moraes fotografa uma das ilhas pesquisadas em cinco anos. Imagens aéreas%2C terrestes e aquáticas compõemÁTHILA BERTONCINI/PROJETO ILHAS DO RIO

“Os resultados demonstram que a força da natureza é maior que a escassez de consciência ecológica”, afirma Fernando Moraes, biólogo marinho associado ao Instituto de Pequisa Jardim Botânico, especializado em esponjas marinhas e coordenador da pesquisa. Segundo ele, os nomes das espécies catalogadas ainda não podem ser divulgados porque primeiro têm que ser registrados em uma publicação científica. “Mas podemos adiantar que tipos raríssimos de anemonas (animais marinhos sem nenhum esqueleto, que parecem flores) e corais, entre outros, foram encontrados.”

Para outro biólogo, Carlos Rangel, o levantamento dará suporte a outros estudos. “Vai contribuir para, além de comparar os tipos de biodiversidades das ilhas litorâneas, saber se daqui a alguns anos essas espécies ainda estarão nesses ambientes ou terão desaparecido com os impactos causados pela proximidade com a cidade”, diz Rangel, citando o reaparecimentos de lagostas e peixes, como garoupa e cavaquinha, que andavam sumidos.

Os arquipélagos Tijucas e Maricás estão respectivamente a 10 e a 28 quilômetros do Monumento Natural das Ilhas Cagarras (MoNa Cagarras). As Ilhas Tijucas estão mais próximas do litoral, a apenas dois quilômetros da praia. Já as Ilhas Maricás estão a pouco mais de quatro quilômetros da costa de Maricá, cidade a 60 quilômetros do Rio.

“Apesar de não serem unidades de conservação e não possuírem proteção ambiental em nível governamental, as ilhas Tijucas e Maricás possuem grande riqueza de peixes e invertebrados marinhos”, comemora Athila Bertoncini, oceanógrafo especialista em peixes recifais e pesquisador do projeto, associado à Unirio.


Ameaças ao ecossistema

Os números coletados em relação à quantidade de peixes chamam a atenção. Só nas Cagarras são 142 espécies diferentes. “Nas Tijucas catalogamos 85 e nas Maricás, 100”, comemora Athila Bertoncini, lembrando que a fauna de invertebrados possui em torno de 160 espécies nas Cagarras, 88 nas Tijucas, e 74 nas Maricás.

Na Ilha Pontuda%2C nas Tijucas%2C espécies aquáticas raras chamam a atençãoDivulgação

Mas nem tudo são flores no caminho dos pesquisadores. Em recente monitoramento feito por meio de mergulhos, por exemplo, a equipe encontrou uma tartaruga morta numa rede no fundo do mar. “A captura involuntária, conhecida como pesca fantasma, de animais marinhos, causada por apetrechos de pesca abandonados, perdidos ou descartados, é uma ameaça constante para as espécies. São redes, anzóis e armadilhas flutuantes, bem como cabos e cordas, que se tornam responsáveis pela morte de milhares de animais”, comenta o biólogo.

Outro problema é o desequilíbrio ecológico. No Arquipélago de Maricás, por exemplo, dezenas de cabras estão destruindo a vegetação, causando erosões. Lá, curiosamente, cresceu uma floresta de pitangueiras, pois as cabras não comem pitangas. “Esses animais foram colocados lá pelo homem. Têm de ser levadas para o continente”, diz Fernando. Termina hoje no Museu do Meio Ambiente, no Jardim Botânico, exposição interativa de fotos e palestras sobre as Ilhas Cagarras.


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