Rio - Na cidade que tem o nome de Rio, os rios nem agonizam mais: estão mortos. De 77 rios e canais que cortam a cidade, 70 morreram, ou seja, 90% deles não possuem mais oxigênio. Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica monitorou e recolheu água de 14 rios e canais que cortam a cidade entre março de 2104 e fevereiro de 2015. Segundo os parâmetros da Agência Nacional de Águas (ANA), sete apresentaram qualidade péssima da água e outros sete, ruim. O panorama é ainda mais desolador, de acordo com o ambientalista Mário Moscatelli, que há anos monitora rios e lagoas no Rio: “A esses 14, podemos somar 49 rios de 55 da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara e sete dos oito do sistema de Jacarepaguá: todos mortos”.
Nenhum dos rios monitorados por ele atingiu o nível 35 de uma escala de zero a 100 (água limpa), criada nos Estados Unidos e que leva em conta, além de coliformes fecais, níveis de oxigênio e outros componentes químicos, como fósforo e nitrogênio. “São valões, tomados por metano e gás sulfídrico, com cheiro de ovo podre. Saneamento nunca foi prioridade e continua a não ser para os governos”, dispara o biólogo.
Em momento de crise hídrica, o exemplo é de desperdício do recurso que garante a vida no planeta. “Não estamos com falta d’água porque estamos no semiárido. Estamos com falta d’água porque nós poluímos, deixamos os rios indisponíveis”, adverte Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica. Ela explicou que a água classificada como ruim ou péssima não pode ser consumida e nem serve para a produção de alimentos, o que mostra o tamanho do problema.
Segundo ela, esses indicadores revelam a precária condição ambiental dos rios urbanos monitorados que, somada aos impactos da seca, reforça a necessidade urgente de investimentos em saneamento básico. “A falta d’água na Região Sudeste é agravada pela indisponibilidade decorrente da poluição e não apenas da falta de chuvas”, afirma.
Moradores dos morros do Fallet e da Mineira, no Catumbi, ficam desolados ao ver o Rio Papa-Couves nascer limpo, no alto de Santa Teresa, e receber esgoto no trajeto até o Canal do Mangue. “Já tentei várias vezes junto à prefeitura, pelo menos, a construção de um reservatório, que estocasse parte da água ainda limpa para que a comunidade usasse, já que falta água encanada de vez em quando, mas dizem que a legislação ambiental não permite”, contou o presidente da Associação de Moradores do Fallet, Flávio Mazzaro. “Aqui o rio chega já em péssimas condições. Um trecho ganhou o apelido de ilha dos ratos”, detalhou o presidente da associação da Mineira, Pedro Paulo Ferreira.
Solução tem, mas falta responsável
Para Malu Ribeiro, o processo de despoluição de um rio exige educação ambiental, para que não se jogue lixo, e criação de estações de tratamento de esgoto. “Temos tecnologia e é possível fazer. A Floresta da Tijuca foi reflorestada por ordem do Imperador Dom Pedro II porque o Rio de Janeiro estava sem água. O sistema Cantareira, em São Paulo, foi feito por engenheiros ingleses no século retrasado. Não aprendemos com a história”.
O DIA procurou quatro órgãos públicos para saber sobre medidas tomadas ou planos para melhorar a qualidade das águas da cidade. Sobre as críticas de Moscatelli, a Cedae informou que a preservação dos rios depende de trabalho integrado de governos e indústrias. A empresa ressaltou que avança com coleta e tratamento de esgoto em diversas áreas do estado nos últimos oito anos.
Sobre a despoluição de rios, informou que a responsabilidade é da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA). Por sua vez, o órgão disse que a maior parte dos rios listados é monitorada pelo município. Já a Secretaria Municipal de Meio Ambiente alega que não faz despoluição de rios e preferiu que a reportagem questionasse a Rio Águas, que não respondeu.