Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Virou febre nas redes sociais. Em outubro do ano passado, o meia do Vasco, Nenê, provocou frisson entre os torcedores ao postar uma foto no Instagram em que aparece pendurado em uma pedra, sobre um penhasco, beijando a esposa, tendo ao fundo um belo cenário que mescla mar e montanha. Não foi o único. As selfies na Pedra do Telégrafo, em Barra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, simulam um efeito radical, que não passa de uma ilusão de ótica, e se tornaram a nova mania de cariocas e turistas que gostam de aventura. Mas esse paraíso ecológico da cidade, até pouco tempo atrás desconhecido, passou a sofrer com a depredação, lixo e até pichações. Obra e graça de maus turistas que deixam para trás um rastro de destruição e desrespeito à natureza.
A montanha de 354 metros, fincada no Parque Estadual da Pedra Branca, começou a se popularizar há pouco mais de um ano. Hoje, recebe milhares de visitantes, a maioria deles em busca de fotos incríveis para impressionar amigos e seguidores nas redes. Diante de várias denúncias, na última sexta-feira, o local recebeu uma Operação Verão, promovida pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que administra o parque, com apoio do Mosaico Carioca, grupo de gestores de unidades de conservação do Rio.
Parece montagem%3A fotos que simulam abismo viralizam na internet. Na verdade%2C os ‘destemidos’ visitantes estão a um metro e meio de altura%2C em platô seguroDivulgação

“Apenas moradores da região e montanhistas conheciam o local. Agora, a média é de mil a 1.500 pessoas por fim de semana. A grande maioria se incomoda com o vandalismo”, conta Andrei Veiga, chefe do parque. Os agentes iniciaram a instalação de placas educativas e indicativas, com orientações sobre a conduta mais adequada em áreas protegidas, e também de dormentes e cantoneiras para impedir o acesso de motocicletas, além de retirar pichações das pedras e fazer o manejo e manutenção das trilhas.

Publicidade
“Com a divulgação das fotos nas redes sociais, o turismo mudou bastante a região. Agora vem outro público, o das trilhas, alguns mais pelo modismo da foto e não pelo espírito de trilhar”, diz o ambientalista Pedro Felipe Carvalho, de 26 anos, morador de Guaratiba e guia de turismo.
“Pode ser que abram a mente para essa ideia de natureza e vida saudável e procurar outras trilhas, mas, infelizmente, a maioria não sabe respeitar. Deixa lixo, pichação. Fica feio, estraga a foto”, completa.
Campings e comércio ilegal de bebidas e comidas e outros artigos na Praia do Perigoso, que integra o vizinho Parque Natural Municipal de Grumari, também estiveram no alvo da recente ação de ordenamento público. “Queremos promover uma visitação adequada, sem prejuízos à biodiversidade e aos atrativos naturais do parque”, disse Andrei Veiga. Segundo ele, a partir de agora, aos finais de semana, a equipe do Inea e dos dois parques estará presente nas praias do Meio e Perigoso e na Pedra do Telégrafo.
Publicidade
Moradores se unem para salvar as praias selvagens
Em dezembro, a ONG Amigos do Perigoso retirou meia tonelada de lixo da praia e da trilha. Foram plantadas ainda 80 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. “A gente vem cobrando sempre, faz mutirão, leva mudas e plantas para tentar conscientizar as pessoas. Mas a prefeitura e o parque deveriam fazer esse papel há muito tempo. Com essa fiscalização e a operação, agora vai passar a melhorar”, aposta Pedro Felipe, formado em Turismo pela Uerj.
Publicidade
Ele e os amigos Rafael Klein, 35, e Wilton Maral, 31, se uniram há um ano para criar o Trilhando Guaratiba, que organiza caminhadas às Pedras do Telégrafo e da Tartaruga e às chamadas Praias Selvagens (Perigoso, Búzios, Meio, Funda e Inferno).
A Pedra do Cavalo é a mais famosa do Morro do Telégrafo. Ganhou este nome por conta de uma foto, tirada há mais de 20 anos por Victor Klein, pai de Rafael, em que um cavalo aparece como se contemplando a paisagem de tirar o fôlego. É ali que as selfies mais concorridas do passeio são tiradas. Filas de até duas horas se formam para a foto tão desejada. 
Publicidade
O local é um dos quatro mirantes do passeio, que dura em média três horas, ida e volta, e custa R$ 30. Ou R$ 50 se o visitante optar por um ensaio com 120 a 150 fotos profissionais, tiradas pelo guia Victor. Para chegar ao ponto mais alto da montanha é preciso enfrentar uma trilha de dificuldade moderada, que dura cerca de 40 minutos. Nada aconselhável para quem não tem preparo físico.
Mas o sacrifício compensa: lá de cima, é possível avistar uma paisagem deslumbrante das praias selvagens da região, da Restinga da Marambaia, da Barra da Tijuca e da Pedra da Gávea.
A foto de um cavalo observando a paisagem%2C tirada há 20 anos%2C motivou moradores a batizar mirante mais famoso da Pedra do TelégrafoAcervo pessoal / Trilhando Guaratiba