Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Quando acaba, a maior celebração da cultura brasileira coleciona restos. Além de copos, garrafas PET e latinhas, fantasias, bandeiras, ventarolas e outras tantas lembranças são deixadas para trás pelos foliões nas ruas e pelo público na Sapucaí. A produção esplendorosa das escolas de samba também acaba gerando toneladas de materiais que, muitas vezes, são descartados. Só na capital, o Carnaval desse ano produziu 900 toneladas de lixo, incluindo Sambódromo, Terreirão do Samba e blocos nas ruas. Do luxo ao lixo, é possível fazer um Carnaval ainda mais bonito, econômico e sustentável.
Enquanto o material coletado das ruas é encaminhado a cooperativas, os resíduos das escolas se renovam como arte. O carnavalesco campeão, Leandro Vieira, diz que os materiais usados pela Verde e Rosa devem ser reaproveitados pela Mangueira do Amanhã. “Acredito que desse total, cerca de 60% consigam ser reutilizados pela nossa escola mirim”. Entre os materiais mais alternativos utilizados pelo carnavalesco estão penas artificiais, canos de PVC e paetês. “Nós usamos materiais baratos, mas tivemos um forte trabalho de arte e pintura neles”, explica. Ainda segundo ele, esse ano o desfile ficou 40% mais barato que em 2015, quando a escola ficou em 10º lugar.
Com materiais baratos e alternativos%2C carnavalesco da Mangueira conseguiu reduzir custos do desfile em 40%André Mourão / Agência O Dia

Outra do Grupo Especial que reaproveita seu material é a Beija-Flor de Nilópolis. Quinto lugar em 2016, a escola tem forte consciência sustentável e reaproveita sempre que possível o material de seus desfiles no Carnaval seguinte. “Só tem aquela dificuldade quando o enredo é muito temático. O importante é não usar o barato que sai caro. Damos prioridade para materiais de qualidade, mais duráveis, que poderemos usar no futuro. Como é o caso da ala das baianas, que há três anos usa barbatana de aço, um material para a vida toda”, explica o diretor do Atelier de Luxo, Ale Ferrier.

Ainda segundo ele, a escola consegue uma economia de 40% reinventando a arte e usando o material. Aquilo que a escola não consegue aproveitar é doado às escolas e blocos parceiros. “Talvez sejamos a escola que mais doe. Estimo que, ao todo, apenas 5% do nosso material não são reaproveitados”, afirma.

A estimativa concreta, porém, será feita após o Desfile das Campeãs e o desfile em Nilópolis, quando vão estimar o que pode ser aproveitado.

Meire aprendeu a reaproveitar restos no curso de aderecista da FaetecDivulgação

Apesar de amargar o 12º lugar na Série A, a Acadêmicos de Santa Cruz também fez bonito no quesito sustentabilidade. Com o enredo ‘Diz mata! Digo verde. A natureza veste a incerteza. E o amanhã?’, a escola levantou a bandeira da ecologia na Avenida e também no barracão. Segundo o presidente Moisés Antônio Coutinho Filho, o Zezo, as ações de reaproveitamento são recentes, mas já fazem uma grande diferença para a agremiação. Pelo menos 20% do material apresentado no desfile foram reaproveitados. uma economia de cerca de R$ 200 mil. “Também usamos o material durante todo o ano com a nossa oficina de carnaval e doamos aos blocos e outras agremiações”, afirma.

Escola ensina arte de reciclar

A consciência ecológica no Carnaval ganhou as salas de aula. Na Escola de Artes Técnicas da Faetec, na agora festejada Mangueira, os alunos aprendem a importância de transformar as matérias-primas descartadas em novas peças para o desfile do ano seguinte. Os profissionais formados lá hoje levam o conceito para diversos barracões e ateliês pelo Rio.

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Meire Santos, de 63 anos, fez o curso de aderista e já há dois anos trabalha no barracão da Mangueira do Amanhã. Ela destaca a atenção reservada à reciclagem: “Cerca de 90% de tudo o que produzimos é reciclado. Pegamos fantasias da Mangueira e de outras escolas para fazer nosso Carnaval”. O incentivo a esta formação também ocorre na Escola de Artes Técnicas Paulo Falcão, em Nova Iguaçu. Outra unidade será criada dentro do Sambódromo.
Reportagem da estagiária Rita Costa