São Paulo - Após depor durante três horas no escritório da Polícia Federal (PF), no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista coletiva de 40 minutos na sede do PT, nesta sexta-feira. Pela manhã, foi deflagrada a 24ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Aletheia, na qual os agentes levaram Lula de sua casa, em São Bernardo do Campo, sob um mandado de condução coercitiva.
A operação teve base em investigações sobre a compra e reforma de um sítio em Atibaia frequentado pelo petista, o fato de sua mudança ter sido transportada para o local e a relação desses episódios com empreiteiras investigadas na Lava Jato. Além disso, uma reportagem da revista Istoé desta semana revelou que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) acusou Lula e a presidente Dilma Rousseff de participarem do esquema do petrolão.
Na entrevista desta sexta-feira, o ex-presidente se mostrou "indignado" com a maneira como a PF foi até a sua residência, disse que sentiu um "prisioneiro" e chamou a ação como um "espetáculo de pirotecnia". "Sinceramente, já passei por muita coisa na minha vida, não sou homem de guardar ressentimento, guardar mágoa, mas não pode continuar assim. Eu acho que eu merecia um pouco mais de respeito neste país", afirmou.
Ele destacou ainda que jamais se recusou a dar depoimentos durante as investigações da Operação Lava Jato e lembrou que já conversou com os agentes em outras ocasiões, como em janeiro, em Brasília. "A minha indignação é pelo fato de 6h da manhã terem chegado na minha casa, vários delegados, aliás, muito gentis, não sei se são sempre assim, mas muito gentis, pedindo desculpas, que estavam cumprindo uma decisão judicial e a decisão era do juiz Moro. A minha bronca é com o Ministério Público", reforçou.
Lula ressaltou ainda que a PF não precisava ter levado uma "coerção" na casa dele. "Era só ter me comunicado. Antes dele, já fazíamos a coisa correta nesse país. A gente já lutava para fazer a coisa certa nesse país. Lamentavelmente preferiam usar a prepotência, a arrogância. Se o juiz Moro e o Ministério Público quisessem me ouvir, era só ter me mandado um ofício e eu ia como sempre fui porque não devo e não temo", contou.
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No discurso, o ex-presidente criticou a imprensa, principalmente a TV Globo e as revistas Istoé e Época, pelo que considera um "espetáculo midiático" e disse que "hoje quem condena as pessoas são as manchetes". "Eu me senti ultrajado, como se fosse prisioneiro, apesar do tratamento cortês do delegado da Polícia Federal. Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. A jararaca tá viva, como sempre esteve", afirmou.
Por fim ele ainda deu um recado para a oposição e deu a entender que pode vir como candidato às eleições presidenciais de 2018. "De qualquer forma nada disso diminui minha vontade. Eles acenderam em mim a chama de que a luta continua", finalizou Lula.
Além da condução coercitiva, foram expedidos mandados de busca em diversos endereços do ex-presidente, como parte da 24ª fase da Operação Lava Jato. Segundo o procurador da República, Carlos Fernando Lima, da Operação Lava Jato, há indícios de que Lula recebeu pagamentos, seja em dinheiro, presentes ou benfeitorias em imóveis das maiores empreiteiras investigadas na operação policial. De acordo com o procurador, foram cerca de R$ 20 milhões em doações para o Instituto Lula e cerca de R$ 10 milhões em palestras de empresas que também financiaram benfeitorias do sítio em Atibaia e de um apartamento tríplex no Guarujá.
Com informações da Agência Estado e da Agência Brasil