Por felipe.martins

Rio - A sexta-feira promete ser mais um dia de batalhas. Os defensores do governo agendaram manifestações hoje em todo o país. No Rio, os protestos se chamam Canto da Democracia e vão ocorrer na Praça XV a partir das 16h. Em São Paulo, o ex-presidente Lula deve comparecer ao evento na Avenida Paulista. Há uma polêmica sobre sua segurança. Como ministro de Estado, ele teria escolta da Polícia Federal. Como, no entanto, oficialmente sua posse está suspensa, o ex-presidente tem direito apenas à proteção de dois agentes. 

Além dos tradicionais partidos aliados do governo, a presidente Dilma tem recebido solidariedade de representantes de outras legendas, como o Psol. O deputado estadual Marcelo Freixo gravou vídeo com um apelo para o bom senso. “Parece que o mundo se divide entre coxinhas e petralhas, mas nada é tão simples. Não é possível que alguém que não defenda o impeachment seja tratado como defensor da corrupção”, questiona o parlamentar. “Tenho profundo respeito pelas regras democráticas e por isso não defendo o impeachment.”

Outro apoio que os petistas têm recebido vem das universidades. Na noite de ontem, juristas, professores e estudantes fizeram manifestação na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo, contra o impeachment. “O Poder Judiciário está acovardado a ponto de ter modificado o princípio da presunção de inocência”, acusou o professor Sérgio Salomão Shecaria.

Posse de Lula é marcada pela ausência de Michel Temer

A guerra entre oposicionistas e governistas ocupou ontem quatro fronts: o Palácio do Planalto, as ruas, os tribunais e o Congresso Nacional. A primeira batalha começou às 10h na sede do governo federal, durante o ato de posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chefia da Casa Civil. Não foi apenas uma solenidade de transmissão de cargo. Mais parecia uma cerimônia de guerra.

O ato foi marcado por críticas severas ao juiz Sérgio Moro, por gritos de “não vai ter golpe” e pelo mais duro discurso da presidente Dilma desde sua chegada ao poder em 2010. “A gritaria dos golpistas não vai me tirar do rumo e não vai colocar o nosso povo de joelhos”, atacou Dilma, diante de uma plateia cheia de petistas e vazia de peemedebistas.

O vice-presidente Michel Temer estava no Palácio, mas não compareceu ao evento. É ele que ocupa o cargo se Dilma for afastada pelo Congresso. Também não foi à cerimônia, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). “São claro sinais de que o PMDB está desembarcando do governo”, resumiu o cientista político Murilo Aragão.

Se dentro do Palácio a presidente liderou o ritual clássico dos embates, convocou seus aliados e avisou que não entregaria os pontos, do lado de fora a quinta-feira também foi de conflitos. Na Praças dos Três Poderes, em Brasília, nas ruas e varandas de 11 capitais, o discurso de Dilma foi acompanhado de protestos, panelaços e passeatas. Na Avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo, defensores do impeachment protagonizaram várias agressões a quem imaginavam simpatizar com o PT.

Cerimônia de posse de Lula estava mais para ato de guerraRoberto Stuckert Filho/PR

Nos tribunais, os confrontos não chegaram às vias de fato, mas foram severos. Lula ainda recebia os abraços e beijos de seus companheiros no Palácio quando o juiz Itagiba Catta Preta concedeu liminar cancelando a posse. O governo recorreu e obteve vitória, mas o destino de Lula continuava em suspenso até o fechamento dessa edição porque uma outra juíza concedeu uma segunda liminar impedindo a posse.

O último cenário do duelo de ontem, entre governistas e oposicionistas, ocorreu no Congresso Nacional e foi marcado pelo início do ritual formal do julgamento do impeachment. Ele terá duas fases, uma na Câmara e outra no Senado. Os deputados irão decidir se o processo deve ser instaurado. Os senadores julgarão o mérito.

Depois de intenso debate, foram escolhidos ontem os 65 deputados que participarão da comissão na Câmara. Há representantes de 24 partidos. O presidente é Rogério Rosso (PSD-DF), e a relatoria ficou com o líder do PTB, o governista Jovair Arantes, de Goiás, aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Uma das principais polêmicas é o tempo de tramitação. Cunha disse que, no que depender dele, o impeachment tramitará da forma mais rápida possível, como deve ser um “processo dessa gravidade”. Sua previsão é de que o pedido seja julgado pelo plenário em 45 dias. “Se a presidente quiser enfrentar logo a votação, é só apresentar a defesa imediatamente e pular o prazo de 10 sessões (que tem para apresentar defesa)”, provocou Cunha na entrada do plenário.

Fora, no gramado em frente ao Congresso, a batalha se estendeu por todo o dia. Foram mais de 15 horas de brigas. De um lado, milhares de manifestantes com roupas negras bradavam apoio ao juiz de Sérgio Moro. Do outro, um grupo menor, mas não menos barulhento, defendia o governo e entregava cópias do duro discurso feito de manhã pela presidente Dilma com o seguinte trecho grifado: “Convulsionar a sociedade brasileira em cima de inverdades, de dados escusos, de práticas criticáveis viola princípios e garantias constitucionais, os direitos dos cidadãos e abre precedentes gravíssimos. Golpes começam assim.”


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