Por rafael.souza

São Paulo - Estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie fizeram na noite dessa quarta-feira, na Rua Maria Antonia, no Centro da capital paulista, um ato contra o impeachment da presidenta da República Dilma Rousseff. O ato foi intitulado “Mackenzistas contra o Golpe: A História Não se Repetirá!”. Os estudantes impediram o tráfego de carros na rua e, sob chuva, discursaram sobre um caminhão de som.

A manifestação ocorreu do lado de fora do campus da universidade – localizado em Higienópolis, no Centro – em frente ao prédio da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), local onde em 1968 ocorreu o episódio que ficou conhecido como a Batalha da Maria Antonia.

A manifestação ocorreu do lado de fora do campus da universidadePaulo Ermandino / Parceiro / Agência O Dia

“Quisemos fazer o ato na Maria Antonia já que a universidade não ofereceu espaço para a gente. Vai ficar simbólico, relembrando o que aconteceu em 1968 e mostrando que a Mackenzie pode ter uma cara nova e que não existe só um pessoal reacionário dentro da universidade, mas tem gente também querendo mudar isso, e querendo resistir”, disse a aluna Jamyle Hassan Rkain, estudante de jornalismo.

Manifesto

Um manifesto, lido pelo estudante de direito Calebe Paranhos, expôs a preocupação dos alunos diante da crise política do país. “É com grande preocupação que vemos a repetição de fatos que resultaram no golpe de 1º de abril de 1964”, disse.

Segundo o manifesto, mesmo diante da devassa feita no governo federal, nenhum crime pode ser imputado a presidenta Dilma Rousseff e a sua administração. “A oposição golpista, talvez em razão das seguidas derrotas nas eleições presidenciais, joga no lixo todo processo democrático, ignorando 54,5 milhões de votos, e tenta, de qualquer modo, e à custa de paralisar o país, derrubar um governo democraticamente eleito e assumir a Presidência da República à revelia do estado democrático de direito”.

Palavras de ordem como “não vai ter golpe” e “Eduardo Cunha na cadeia” foram gritadas pelos alunos, que levantaram cartazes criticando a cobertura da mídia sobre a crise política e decisões do juiz federal Sergio Moro.

“Entendemos que em todo o tempo, mas principalmente em momentos de perigosos movimentos golpistas, como os presenciados, a universidade é local para resistência aos anseios antidemocráticos, para a defesa da Constituição Federal, o devido processo legal, e do estado democrático de direito”, diz o manifesto.

Segundo a estudante de direito Melissa Cambuhy, o processo de impeachment pretende, na verdade, atacar os direitos sociais e acabar com o processo desenvolvimentista do país. “Estamos aqui para denunciar e barrar o golpe que está em curso em nosso país. Esse golpe que vem sendo orquestrado, como em 1964, pela mídia e pelo setor empresarial”, disse. “O golpe busca o desmonte dos nossos direitos sociais, que foram conquistados com tantas mortes, tanto sangue e tanta tortura sofrida.”

Batalha da Maria Antonia

Em 3 de outubro de 1968, estudantes da Universidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) entraram em confronto na Rua Maria Antonia, onde ficavam as duas instituições.

A “batalha da Maria Antonia” teve início devido a um pedágio cobrado pelos alunos da USP para levantar fundos para o 30° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Parte dos alunos da Mackenzie era simpatizante do regime militar, sendo que alguns deles eram integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC).

A Rua Maria Antonia transformou-se em uma verdadeira zona de guerra: a fachada do prédio da USP foi destruída, houve focos de incêndio e dezenas de feridos. Um estudante secundarista, José Guimarães, morreu atingido por um tiro na cabeça.

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