Por felipe.martins

Brasília - O governo corre contra o tempo para tentar estancar a sangria de votos de aliados e barrar a aprovação do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Apesar dos esforços, o Palácio do Planalto foi surpreendido ontem com o desembarque do PP e do PRB da base aliada. Juntos, os dois têm 69 deputados federais.

O PP era o principal partido com o qual o governo negociava a distribuição de cargos, como o Ministério da Saúde e a presidência da Caixa Econômica Federal. Mas de nada adiantou. No final do dia, o presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), anunciou a saída oficial do governo com entrega do Ministério da Integração Nacional, da presidência da Codevasf, além de cargos de segundo escalão.

“É uma decisão que eu não defendia, não vou negar. Eu defendia até o momento de hoje a permanência do partido na base de sustentação da presidente. Mas não me cabe outra alternativa, como seu presidente, que não acatar a decisão da bancada”, lamentou Nogueira.

Presidente chama Eduardo Cunha e Michel Temer de 'chefes do golpe'Lula Marques/ Agência PT

Agora, o maior temor do governo é que a saída do PP e do PRB acabe criando um efeito dominó em outras bancadas, como a do PSD e PR. Dois movimentos deixaram o Planalto em alerta: o voto anteontem do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), em favor do impeachment na comissão especial, e o anúncio do líder do PR, Maurício Quintella Lessa (AL), de deixar o cargo para votar pelo afastamento de Dilma da Presidência.

Paralelamente ao desembarque do PP e PRB, o nível de tensão no Planalto também aumentou depois que o PMDB do líder Leonardo Picciani (RJ) refez as contas e agora promete a Dilma apenas entre dez e 15 votos do total de 66 votos da bancada.

Contrário ao afastamento da presidente, Leonardo se reuniu com o vice-presidente Michel Temer na noite de segunda-feira. Garantiu que não fará pressão junto a peemedebistas indecisos. É mais uma vitória de Temer, que teve uma longa conversa com o pai do líder e presidente da Alerj, Jorge Picciani, e o ex-governador Sérgio Cabral. Ambos apoiam a saída de Dilma do governo.  Diante da debandada dos aliados, o Palácio do Planalto começou a trabalhar ontem com a real possibilidade de aprovação do impeachment no próximo domingo. São necessários 342 votos do total de 513 para que o texto contra Dilma seja aprovado e encaminhado para o Senado.

São muitos votos, mas a sensação dos ministros palacianos é de que a presidente está a cada dia mais isolada. Além disso, a avaliação é que Temer e seus principais conselheiros, os ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, têm sido bem sucedidos nas negociações para virar votos importantes, como foi o caso do PP.

Um dos integrantes da tropa de choque de Dilma, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) faz sérias críticas às iniciativas do grupo de Temer para conquistar votos pró-impeachment. “Frente a esse entorno do Michel Temer articulando para todo lado, Moreira, Padilha e Eduardo Cunha, os ministros do Palácio mais parecem freiras”, ironizou o senador.

Apesar das dificuldades, interlocutores de Dilma estão longe de jogar a toalha. As apostas estão nas negociações lideradas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conter a debandada da base aliada e frear o impeachment. Segundo o deputado Wadih Damous (PT-RJ), o governo conta com pelo menos 190 votos para conter o impeachment. São necessários 171 votos para barrar o processo. Wadih defende, no entanto, que é preciso aumentar a margem de votos governistas para evitar surpresas na votação. “Lula vai ter que tirar um coelho da cartola”, afirmou o ex-presidente da OAB/Rio.

Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), o trabalho até o dia da votação deve ser mais de conter uma eventual mudança de posição de qualquer deputado do que propriamente conquistar novos votos. “O trabalho agora é não perder ninguém, não precisamos ganhar mais votos”, disse.

CONTAGEM REGRESSIVA PARA VOTAÇÃO

Sexta-feira 15/04

A sessão começa às 8h55.

Os autores do pedido de impeachment e a defesa de Dilma terão 25 minutos, cada um, para falar.

Representantes dos 25 partidos da Câmara também farão discursos.

Cada partido terá o tempo de 1 hora para dividir para até cinco deputados da legenda. Não há hora para o término desses discursos.

Sábado 16/04

A sessão recomeça às 9h

Todos os deputados que se inscreveram terão 3 minutos para falar.

Haverá duas listas de inscrição para os discursos: uma contra e uma a favor do impeachment. A chamada será feita alternadamente (um deputado de cada lista).

Também não há hora para o término desses discursos.

Domingo 17/04

A sessão para votar o processo de impeachment recomeça às 14 h

Haverá tempo para os líderes partidários orientarem os deputados, em período proporcional ao tamanho de suas bancadas.

O voto de cada deputado será oral e falado ao microfone.

A previsão é que sessão termine até as 22h

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