Por lucas.cardoso

Brasília - O lobista Fernando Soares, conhecido como Baiano, confirmou ontem pagamentos de R$ 4 milhões ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. A confirmação ocorreu durante depoimento ao Conselho de Ética. O lobista também explicou de que maneira recebeu a ajuda de Cunha para cobrar dívida de R$ 10 milhões do lobista Júlio Camargo em troca de doações eleitorais, a partir de 2010. No acordo, inicialmente de 20% e que subiu para 50%, Cunha pressionaria Júlio por meio da comissão de fiscalização sobre contratos de empresas que Júlio representava junto à Petrobras.

Segundo Baiano, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, teria informado que Júlio estava preocupado com a ameaça. Ele então propôs um acordo para pagar a dívida. A parte de Cunha seria de R$ 4 milhões e foi entregue em espécie por Baiano no escritório dele no Rio de Janeiro.

O presidende da Câmara de Deputados, Eduardo cunhaValter Campanato/ Agência Brasil

Questionado pelo advogado de Cunha, Marcelo Nobre, o lobista disse que nunca fez pagamentos ao peemedebista no exterior. Ele disse ainda que não entregou dinheiro diretamente ao deputado, e sim a pessoas ligadas a ele, como um funcionário chamado Altair.

Nobre reclamou que as perguntas dos membros do Conselho não tinham relação com o “objeto da causa”, que é ligado ao fato de Cunha ter mentido ou não sobre possuir contas no exterior durante a CPI da Petrobras. “Não tem como existir imputação neste momento de algo que foi suprimido”, declarou o advogado de defesa. Baiano disse que só soube de transferência internacionais de Júlio Camargo e do doleiro Alberto Youssef ao presidente da Câmara através da imprensa, mas que não fez repasses para Cunha em 2013 e 2014.

O lobista disse que conheceu Cunha durante um café da manhã em um hotel, em 2009. O peemedebista teria pedido a Baiano, em 2010, para verificar com as empresas que ele trabalhava se poderiam fazer doações para a sua campanha. Como as empresas representadas por Baiano disseram que não poderiam contribuir, o lobista teria proposto a Cunha que o ajudasse a cobrar a dívida de Camargo.

Baiano contou que possuía boa relação com Cunha e que eles nunca usaram o termo “propina” nas negociações, mas reconheceu que as quantias eram ilegais. "O deputado Cunha sempre foi muito cordial e educado comigo, não teve nenhuma reação abrupta, ameaça, nada disso”, contou. Ele confirmou que esteve na casa do deputado no Rio cerca de 20 vezes, geralmente aos finais de semana. 

Celular só para propina

O lobista Fernando Baiano negou ao Conselho de Ética que tenha sido operador do PMDB, mas admitiu que funcionários da Petrobras pediam vantagens indevidas a políticos do partido. Ele afirmou que há um erro na tentativa de “imputar aos empresários a corrupção”. “Em todo o lugar tem gente boa e tem gente ruim. A corrupção não começou aqui”, disse. “Nenhum empresário acha bom tirar dinheiro do bolso para pagar propina”.
“Nunca procurei ninguém, a não ser nesse caso do deputado Eduardo Cunha”, disse. “Eu nunca procurei nenhum político para oferecer dinheiro. Os pleitos sempre vinham dos políticos, utilizando agentes colocados por eles nas empresas públicas”, completou o lobista.

Baiano mencionou que possuía uma empresa na área de Tecnologia da Informação, a Piemonte Investimentos, que prestava serviços para a Petrobras. De acordo com ele, depois de um determinado momento ele se recusou a pagar propina aos funcionários da empresa, mas que teria sofrido perseguições.
O lobista contou ainda que gastou mais de R$ 12 milhões tentando salvar a empresa e que “ficou no prejuízo”. Ele admitiu que recebeu vantagens indevidas e que possuía um celular específico para tratar de propina com políticos.


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