Por rafael.nascimento

Brasília - A presidente afastada Dilma Rousseff concedeu uma entrevista ao programa da jornalista Mariana Godoy, na RedeTV!, na última sexta-feira. Diretamente do Palácio da Alvorada, Dilma falou sobre últimos acontecimentos da política brasileira, afirmando que está “tranquila” e que lutará para voltar ao poder, além de fazer críticas ao governo interino de Michel Temer.

Sobre o governo de Temer, Dilma fez críticas às medidas adotadas que, segundo ela, “desmantelaram o Estado”. "Não dá para acabar com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. O futuro do nosso País depende da ciência, da tecnologia e da inovação (...) Não é assim que se dirige um Estado. Reduzindo ministérios a economia é mínima, isso se houver economia, se não ficar mais caro”, defendeu.

No Palácio da Alvorada%2C Dilma falou sobre últimos acontecimentos da política brasileiraRoberto Stuckert Filho/PR

A presidente afastada foi indagada a respeito da reforma política, se seria prioridade do governo, caso retorne ao poder. “Eu acho imprescindível que o meu mandato seja restabelecido, mas não acho que só isso resolva as questões. Acho que o Brasil vai ter que repactuar a política. Não abro mão do fim desse processo fraudulento de impeachment”, respondeu. Ainda sobre o tema, explicou porque considera ter sido vítima de um golpe.

“Dizem que não é golpe porque as instituições estão funcionando. Há hoje, no mundo, outra compreensão a respeito dos tipos de golpe existentes. O golpe militar afastava o presidente, mas ao mesmo tempo destruía o regime democrático, acabava com o direito de imprensa, acabava com a liberdade de opinião. O golpe no momento atual usa de outro método, ele quebra a legalidade, quebra a Constituição, e tenta manter o regime democrático”.

Dilma afirmou que lutará para retornar o poder e que irá “até as últimas consequências para defender não o meu mandato, mas, sim, as instituições”.

Ao responder uma pergunta feita nas redes sociais, a presidente afastada afirmou ter feito alianças ruins. “Meu maior erro foi ter feito uma aliança com quem eu não devia”, afirmando ainda que “saberá lidar” com o fato de que, se voltar ao poder, Temer ainda será seu vice.

Lula

Para a presidente afastada, o impeachment é uma forma de evitar que as investigações cheguem a determinados políticos e, quando questionada se as mesmas não poderiam afetar o ex-presidente Lula, Dilma dispara “há dois pesos e duas medidas quando se trata de Lula”. 

A política ainda revelou não concordar com a prática dos vazamentos. “Acho que a prática de vazamento leva a uma das piores consequências: a espetacularização da política e o uso da investigação criminal parcial, não revelada integralmente, não julgada, como instrumento político de acabar com o adversário”. E completou: “vazam delações premiadas que ainda não foram concluídas. Vazam informações a meu respeito e elas nunca são provadas. O último vazamento foi o do senador Delcidio sobre Pasadena. Pasadena foi uma compra que a Petrobras fez em 2006. Comprou 50% das ações da refinaria”, concluiu.

Corrupção

A corrupção também foi pauta da entrevista e a presidente defendeu ter buscado a transparência durante seu governo. “Houve corrupção. Não é privilégio da direita ou do centro ser corrupta e a esquerda ser uma santa. (...) Essa visão de que tem os corruptos que são políticos e todo o resto da sociedade não é corrupta é uma visão absolutamente equivocada a respeito do mundo. A pessoa não é corrupta porque ela desempenha uma finalidade, ela é corrupta porque não resiste às condições para enriquecer ilicitamente. Tem uma questão ética aí. Todas as pessoas que resistem, resistem porque tiveram uma criação: pai, mãe, professor; alguns por convicção religiosa, outros por convicção ideológica”.

Crise econômica

Ao falar sobre a crise econômica, Dilma Rousseff defendeu a volta da CPMF como forma de “obtenção de recurso de receita” e afirmou que o governo provisório está “fazendo demagogia” e “esperando a eleição passar” para apresentar as medidas necessárias. "A transação financeira da CPMF permite que a Receita Federal controle todo o processo de evasão fiscal, controle se os impostos devidos estão sendo pagos. Nunca  gostaram da CPMF. Não só porque ele é um imposto. É porque ela é um mecanismo muito forte de controle. (…) Você sabe quem ganha mais e está evadindo o fisco. No Brasil nós temos uma imensa dificuldade em tributar aqueles que mais ganham”. 

Eduardo Cunha

Sobre o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Dilma afirmou que espera que ele responda na Justiça pelas “contas na Suíça e por ter negado que tinha as contas”. “Eu espero que a Comissão de Ética cumpra seu papel, que essa postergação sistemática, essa manipulação sistemática da Comissão de Ética pare. Eu não gosto de condenar ninguém porque eu não faço papel de juiz, mas que se cumpra rigorosamente a pauta, e que as manipulações parem e sejam interrompidas”, afirmou.

Fonte: iG

Você pode gostar