Por lucas.cardoso
O deputado federal, Jair Bolsonaro (PSC-RJ)EBC

Brasília - O supremo Tribunal Federal (STF) abriu nesta terça-feira duas ações penais contra o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) ambas por apologia ao crime e injúria. No caso, o parlamentar teria ofendido a deputada Maria do Rosário (PT-RS), na Cãmara de Deputados. "Não estupro porque você não merece", disse o deputado. Com a decisão, Bolsonaro se torna réu na Corte pela suposto crime.

No dia 9 de dezembro de 2014, em discurso no plenário da Câmara, Bolsonaro disse que só não estupraria a deputada Maria do Rosário porque ela “não merece”. No dia seguinte, o parlamentar repetiu a declaração em entrevista ao jornal Zero Hora. Relator dos dois processos, o ministro Luiz Fux entendeu que a manifestação de Bolsonaro teve potencial de incitar homens a prática de crimes conta as mulheres em geral. No entendimento do ministro, o emprego do termo “merece” pelo deputado, confere ao crime de estupro “um prêmio, favor ou uma benesse”, que dependem da vontade do homem.

“Cuida-se de expressão que não apenas menospreza a dignidade da mulher, como atribui às vítimas o merecimento dos sofrimentos. Percebe-se na postura externada pelo acusado desprezo quanto às graves consequências para a construção da subjetividade feminina, decorrente do estupro e aos desdobramentos dramáticos desta profunda violência”, disse Fux.

Nas redes sociais, Bolsonaro fez curto comentário: “Diante de tantos escândalos no país, a ética e a moral serão condenadas?”. Em entrevista na Câmara, emendou: “As desculpas que peço são para a sociedade, que não foi informada dos fatos. Ninguém mais do que eu defende a mulher desse tipo de violência.” Ele citou dois projetos em tramitação na casa que aumentam a pena por estupro, inclusive para menores de idade. Esse foi o ponto de discordância com Maria do Rosário, o que gerou todo o imbróglio.

De acordo com o relator Luiz Fux, Bolsonaro não está coberto pela regra constitucional que garante ao parlamentar imunidade criminal em relação às suas declarações, porque as afirmações foram feitas em entrevista ao jornal e fogem do embate político.“Essa repercussão significa também que a incitação há de colher resultados e ressonância pela opinião pública. Se essa opinião pública [do deputado] é exteriorizada pela internet ou através de jornais, significa dizer que o seu resultado foi alcançado, na medida em que várias manifestações públicas, principalmente na rede mundial de computadores, ecoaram essa afirmação”, disse o ministro.

A deputado Maria do Rosário (PT-RS) foi vítima das ofensas de Bolsonaro em dezembro de 2014Divulgação

O voto do Fux foi seguido pelos ministros Edson Fachin e Rosa Weber. Luís Roberto Barroso acrescentou que a imunidade parlamentar não permite a violação dignidade das pessoas.“Ninguém deve achar que a incivilidade, a grosseria e a depreciação do outro são formas naturais de viver a vida. O instituto da imunidade parlamentar é muitíssimo importante. Porém, não acho que ninguém possa se escudar na imunidade material parlamentar para chamar alguém de ‘negro safado’, para chamar alguém de 'gay pervertido', disse o ministro.

O ministro Marco Aurélio foi o único a divergir e entendeu que os fatos fazem parte de desavenças entre os dois parlamentares. Segundo o ministro, é “lastimável” que o Supremo “perca tempo” julgando a questão, pelos fatos estarem cobertos pela imunidade parlamentar.

Defesa

A defesa de Bolsonaro alegou durante o julgamento que o parlamentar não incitou a prática do estupro, mas apenas reagiu a ofensas proferidas pela deputada contra as Forças Armadas durante uma cerimônia em homenagem aos direitos humanos. Para os advogados, o embate entre Maria do Rosário e Bolsonaro ocorreu dentro do Congresso e deve ser protegido pela regra constitucional da imunidade parlamentar, que impede a imputação criminal quanto às suas declarações.

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