Por gabriela.mattos
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Brasília - Ao analisar as práticas de crimes financeiros e de corrupção no Brasil, uma consultoria especializada em serviços de prevenção à lavagem de dinheiro, a AML Consulting, chegou a uma conclusão assustadora. Em um universo de 714 mil pessoas físicas e empresas associadas a atividades ilícitas vinculadas a crimes financeiros ou infrações penais que antecedem à lavagem de dinheiro, 281 mil tem alguma vinculação com a política.

Elas são classificadas como Pessoas Expostas Politicamente (PEPs), indivíduos que ocupam ou já ocuparam cargos, empregos ou funções públicas de relevância, bem como seus familiares e outras pessoas do seu círculo de relacionamento. As PEPs podem ser pessoas eleitas, como governadores e prefeitos, ou nomeadas, como reitores de universidades e ministros.

Prefeitos, vereadores e deputados federais são os cargos mais vinculados a crimes de corrupção, de acordo com o estudo. “A análise de dados evidencia um ambiente hostil para empresas atuarem no Brasil”, conclui Alexandre Botelho, sócio-fundador da AML Consulting. “Trata-se de um ambiente pautado por interesses individuais, com decisores de leis e processos regulatórios trabalhando em causa própria e gerando um cenário de instabilidade jurídica e econômica de forte impacto no mercado”, avalia.

Segundo o levantamento, dos 11.171 prefeitos e vice-prefeitos eleitos em 2016, 1.833 estão envolvidos em crimes de diferentes naturezas, o que corresponde a 16,5%, sendo que 99 deles são casos de corrupção, ou seja, 5%. Dos 57.949 vereadores eleitos no mesmo ano, 2.110 também estão envolvidos em diferentes crimes, o que significa 3,6%. Desse total, pelo menos 163 estão envolvidos com os crimes de corrupção, o que corresponde a 7,7%.

“Os dados mostram que é fundamental que as empresas tenham práticas de governança corporativa muito estruturadas e áreas de compliance fortalecidas para fazer frente aos desafios de um ambiente em que interesses individuais de interlocutores se sobrepõem”, acrescenta Botelho.

As informações relacionadas às Pessoas Expostas Politicamente são preocupantes. Cerca de 29.139 das 281 mil PEPs cadastradas na base de dados da AML Consulting estão ligadas a crimes econômicos, como corrupção e peculato, o que corresponde a 10,3%. O número é expressivo assim como a quantidade de envolvidos na Lava Jato.

“Identificamos mais de 11 mil pessoas físicas e jurídicas que têm ligação com a maior operação que está acontecendo em nosso país. O que mostra que esses crimes ocorrem devido também a contribuição e participação significativa do setor privado”, indica.

Ex-governador Sérgio Cabral está preso no Complexo de Bangu por conta de esquema de corrupçãoMárcio Mercante / Agência O Dia

“Rio tem 65 na Lava Jato”

A AML também analisou os dados relativos aos cargos das PEPs titulares (políticos eleitos ou nomeados) vinculados restritamente com a operação Lava Jato. Brasília é a cidade com mais membros do Executivo e Legislativo investigados na Lava Jato. Nada menos do que 223 políticos do Distrito Federal são alvos do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da República que integram a Força Tarefa, cerca de 24%. Na sequência vem São Paulo, com 75 envolvidos ou 8,1%, e Rio Grande do Sul com 74 envolvidos ou 8%. O Rio de Janeiro tem 65 políticos envolvidos na Lava Jato, o que corresponde a mais de 7%, à frente da Bahia, com 57 envolvidos ou 6,2% do total. O cargo de deputado federal é o que tem mais envolvidos com os crimes vinculados à operação, seguido de senador e prefeito.

Além dos crimes de ordem financeira, o relatório destaca a alta recorrência no envolvimento de políticos eleitos pela população. São Paulo lidera a relação de estados com maior índice de eleitos envolvidos em crimes econômicos: 1.234 ou 9,7%; seguido do Distrito Federal, com 874 ou 7%; Bahia e Minas Gerais, com 752 e 718 cargos, respectivamente, o que corresponde a quase 6%; e Paraná, com mais de 597 ou 4,7%.

Proprietária da maior agência reputacional e líder nacional no mercado de soluções e serviços de prevenção à lavagem de dinheiro, a AML Consulting realizou a análise da prática de crimes financeiros e corrupção no Brasil a partir da consolidação de dados do Risk Money, plataforma que reúne informações sobre pessoas físicas e empresas associadas a atividades ilícitas vinculadas a crimes financeiros ou infrações penais que antecedem à lavagem de dinheiro e possui 714 mil perfis identificados.

Entrada de capital internacional no País caiu US$ 15 bi ano passado

O fluxo de investimento estrangeiro direto (IED) teve queda de 23% no Brasil em 2016. Comparado com 2015, foram menos 15 bilhões de dólares (R$45 bi) de capital internacional que deixaram de entrar no país para investimentos. O recuo foi de US$ 60 bilhões para US$ 50 bi. Os números constam de relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), divulgado em fevereiro.

Presidente do Senado%2C Eunício Oliveira (PMDB) é acusado de receber propina para favorecer OdebrechtAgência Brasil

“É particularmente preocupante a forte queda dos investimentos em projetos industriais, que têm papel importante na melhora da produtividade dos países em desenvolvimento”, disse o secretário-geral da UNCTAD, Mukhisa Kituyi.

A retração dos investimentos estrangeiros no Brasil ficou bem acima da média mundial, cujo recuo foi de 13%. “Como convencer o investidor se a gente não sabe nem quem governa o Brasil? Ele não tem garantia nenhuma”, reclama o professor de Marketing Alexandre Coelho. Segundo ele, assim como enfrentamos a descrença interna nas nossas instituições, a desconfiança internacional também é grande. “Para eles, somos o país do vale tudo, da desordem, da corrupção. A degradação da imagem é muito grande”.

País está mal aos olhos do mundo

“O Brasil está vivendo a pior crise de imagem pela qual o país já passou”. Essa é a avaliação do professor de Marketing da Faculdade Mackenzie Rio, Alexandre Coelho, sobre o escândalo envolvendo políticos brasileiros nos últimos dias. De acordo com ele, vai ser necessário bastante tempo até que a situação se estabilize novamente e o país volte a passar credibilidade, principalmente para os investidores estrangeiros. Segundo o professor, o impacto do escândalo colocou em xeque a credibilidade do país e manchou a boa imagem que o Brasil havia passado ao mundo depois de ter recebido dois grandes eventos esportivos como a Copa e as Olimpíadas.

“O país já viveu momentos complicados, como na época da ditadura, por exemplo, mas o alcance da notícia era muito menor”, afirma Coelho, explicando que, com as redes sociais, o mundo é atualizado em tempo real sobre o que está acontecendo por aqui. “Além disso, o escândalo atingiu diversos setores da economia brasileira. Todas as empresas que pensavam em investir no país estão agora aguardando os acontecimentos”.

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