São Paulo - A Universidade de São Paulo (USP) pretende implementar, até 2021, cotas de 50% para alunos da rede pública em todos os cursos e turnos da instituição. É a primeira vez que a universidade prevê uma reserva de vagas geral nas graduações.
A mudança consta em minuta de resolução enviada aos integrantes do Conselho Universitário (CO), instância máxima da USP. O conselho votará o texto na próxima terça-feira. A proposta não indica reserva de cadeiras para pretos, pardos e indígenas (PPI)
A USP, principal instituição de ensino superior do País, tinha a meta de ter metade de alunos da rede pública entre seus calouros até 2018, mas ainda está longe: foram 36,9% de ingressantes de escolas públicas no último processo seletivo.
Com a nova proposta, o reitor Marco Antonio Zago quer estender o prazo até 2021. A USP é a última a aderir às cotas entre as estaduais - Unicamp aprovou reserva de vagas em maio deste ano e a Unesp, em 2013. Já o ensino superior federal usa cotas desde 2012.
Uma das primeiras tentativas da USP de aumentar a inclusão foi em 2007, com o início do bônus no vestibular tradicional, a Fuvest, para alunos da rede pública. O sistema passou por ajustes ao longo dos anos, como os pontos extras para os candidatos autodeclarados PPI.
Desde 2016, a universidade adotou outra forma de ingresso. A reitoria passou a usar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como método alternativo de ingresso. A nota do Enem serve para o aluno tentar parte das vagas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) - plataforma digital do Ministério da Educação que reúne vagas no ensino superior público. Coube a cada faculdade decidir se usaria o Sisu e se reservaria, pelo sistema, vagas para alunos da rede pública e para PPI.
A ideia da nova proposta é manter as duas formas de ingresso - sendo, no máximo, 30% das cadeiras via Sisu. Na avaliação da reitoria, isso ajuda a atrair talentos de outras partes do País, que não teriam condições de vir até São Paulo para prestar a Fuvest.
A adesão às cotas será de modo escalonado. Segundo a minuta, no próximo processo seletivo, que será iniciado em novembro, serão reservadas 37% das vagas para alunos da rede pública. No ano seguinte, 40%. Em 2020, serão 45% e, finalmente, metade das cadeiras em 2021.
Para conseguir esse patamar, a reserva de vagas deverá ser feita tanto na Fuvest quanto no Sisu - os 50% em 2021 serão atingidos com a soma das cotas nos dois processos seletivos . O sistema, diz a proposta, terá a duração de dez anos e será avaliado por comissão específica.
A proposta da reitoria também não prevê critérios de renda para cotistas da rede pública, como existe nas federais.
Posicionamento. Tema polêmico na instituição, a reserva de vagas vem ganhando espaço nos últimos anos. Faculdades tradicionais, como a de Direito, passaram a usar cotas desde 2016, quando a USP entrou no Sisu. Nesta semana, a Medicina da capital também aprovou reserva de vagas pela primeira vez na história - cotas no Sisu para rede pública e PPI.
Procurada, a assessoria de imprensa da reitoria disse que vai se manifestar sobre só após reunião do CO. A mudança já teve parecer favorável de comissões internas. A adaptação do processo seletivo é uma das metas da gestão de Zago, que está em seu último ano à frente da USP.
Novas graduações. O Conselho Universitário também vai discutir na próxima terça-feira a proposta de criação de novos cursos na USP. Um deles é o de Medicina no câmpus de Bauru. Hoje a USP oferece a carreira só na capital e em Ribeirão Preto. A ideia é que esse novo curso no interior, que tem previsão para começar já no próximo vestibular, ofereça 60 vagas.
Outra proposta é inaugurar um bacharelado de Biotecnologia na USP Leste, em substituição à turma matutina da licenciatura de Ciências da Natureza no mesmo câmpus, que foi extinta. Essa graduação também tem 60 vagas previstas. Os dois casos ganharam aval de comissões internas.