Por rodrigo.sampaio

Brasília - Apontada como estratégia do governo para barrar a denúncia contra Michel Temer, a liberação de emendas parlamentares na véspera da votação refletiu no placar da Câmara. Segundo levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, deputados que tiveram mais dinheiro liberado foram mais fiéis do que os menos favorecidos.

Dos 492 deputados que participaram da votação sobre a denúncia anteontem, 469 tiveram emendas empenhadas de janeiro a julho, até mesmo integrantes da oposição. Ao todo, foram R$ 3,28 bilhões destinados a projetos indicados por parlamentares em seus redutos eleitorais, segundo o Siga Brasil, ferramenta do Senado que permite acessar a execução das emendas.

Temer ofereceu emendas à aliados como forma de tentar barrar denúnciaAFP

Entre os deputados que tiveram mais de R$ 10 milhões empenhados no ano, 63,6% votaram a favor do presidente ou não votaram, o que, na prática, também favoreceu Temer, já que eram necessários 342 votos para que a Câmara autorizasse o Supremo Tribunal Federal (STF) a analisar a denúncia. Temer conseguiu 263 votos e foi beneficiado pelas 19 ausências e duas abstenções, além de dois deputados que não votaram.

A taxa de fidelidade a Temer, porém, cai de acordo com o valor de emenda por deputado. Entre os 53 parlamentares que tiveram até R$ 4 milhões empenhados, o placar foi equilibrado: 24 a favor de Temer, 25 contra, 3 ausências e 1 abstenção.

O deputado Aluisio Mendes (Podemos-MA), um dos que mais foram beneficiados - R$ 10,5 milhões -, nega que isso tenha influenciado seu voto. "Sou um dos únicos da bancada que não têm indicação de cargos no governo." Ele, no entanto, está entre os quatro deputados que informaram ao Estado que seriam a favor da denúncia, mas mudaram o voto no plenário.

Também beneficiado por mais de R$ 10 milhões em emendas, o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE), criticou o que chamou de "balcão de negócios" na véspera da votação e disse que o valor empenhado a seu pedido faz parte das emendas de execução obrigatória.

Em nota, o ministro Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) disse que o fato de parlamentares da oposição constarem do rol de beneficiados demonstra que o critério para liberação de emendas é técnico. O Planalto também negou relação entre emendas e votação. 

Temer diz que vitória na Câmara é "derrota" da oposição

O presidente Michel Temer disse nesta quinta-feira que a vitória de barrar na Câmara, quarta-feira, a denúncia contra ele por corrupção passiva deu início à "derrota" daqueles que querem afastá-lo.

"É curioso que, ao longo do tempo, o que tem acontecido é exatamente a derrota daqueles que querem ver prosperar essa eventual possibilidade do afastamento do presidente da República", afirmou, em entrevista à "Rádio BandNews". Temer voltou a chamar a denúncia de "inepta" e disse que as acusações são de "natureza política".

A Câmara rejeitou por 263 votos contra 227, a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente. Os governistas precisavam de 172 votos para barrar o prosseguimento da acusação. Em pronunciamento depois do encerramento da sessão, Temer disse que não era "uma vitória pessoal", mas "do Estado democrático".

Na entrevista desta quinta, o peemedebista chamou a denúncia de "kafkiana" e disse que não há "provas sólidas". "Quem ouve o áudio (da conversa entre ele e o empresário Joesley Batista) não verifica nenhum compromisso meu que permitiu esse processo que ninguém sabe bem o porquê (dele) e nem porque prosseguiu", afirmou.

O conceito kafkiano a que o presidente se referiu é oriundo da obra do poeta e escritor checo Franz Kafka, que tratou de situações surreais e confusas entre a realidade e a ficção. "A ideia kafkiana como se o presidente fosse um grande corrupto e o outro fosse o santo da história", disse Temer. O peemedebista ainda destacou que a gravação, feita "por cidadão que havia confessado milhares de crimes, foi muito bem urdida e articulada".

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