Por O Dia

Rio - Esperado pelo mercado e por correntistas há muito tempo, por exigência do Banco Central, os bancos comerciais finalmente vão promover mudanças no cheque especial para favorecer os clientes. As novas regras entrarão em vigor em 1º de julho e representam alternativa mais barata para quem tem o hábito de estar sempre com a conta corrente no vermelho.

Apesar da inflação baixa, inferior a 3% ao ano, e da queda na taxa básica de juros - que hoje é de 6,5% ao ano -, os juros do cheque especial, de acordo com o BC, são de 324,1% ao ano, o que equivale a 12,79% ao mês. Há um abismo entre a taxa básica e a do especial. Isso, em termos práticos come o dinheiro das pessoas que ficam em dificuldade e precisam recorrer ao limite da conta para fecharem o buraco do orçamento mensal.

Pela nova sistemática, toda vez que o correntista comprometer mais de 15% do limite do cheque especial por mais de 30 dias, o banco enviará proposta para o cliente com empréstimo similar ao de crédito especial, que em média custará a metade dos juros praticados no especial.

O raciocínio lógico por traz dessa ideia é que ao invés de cobrar logo os juros mais altos da economia, primeiramente se dê uma chance à pessoa para salvar a sua vida econômica.

A oferta será uma operação mais barata, que pode ser contratada de forma automática, sem precisar ir ao banco, discutir com gerente, contar história triste, assinar a papelada e ainda comprar algum outro serviço bancário como seguro, cartão de crédito, título de capitalização e etc.

Outras duas mudanças também são positivas. Uma dela é a obrigatoriedade de o banco mandar algum aviso toda vez que o cliente ficar negativo e entrar no especial. Pode ser um SMS, e-mail, mensagem de WhatsApp. A outra, é que ficará vedado demonstrar no extrato o saldo da conta corrente somado com o limite do cheque especial, o que induz muita gente desapercebida a pensar que pode gastar mais do que tem.

No passado, ter cheque especial era sinônimo de status, pois só tinha essa prerrogativa o cliente com bom relacionamento bancário, o que significava ter renda elevada. Como quem tem dinheiro dificilmente precisa de empréstimo, com o passar do tempo, os bancos perceberam que é bem mais lucrativo conceder o especial a todo e qualquer correntista, independentemente da renda.

Logo quem recorre ao cheque ao especial, que permite lucros absurdos para os banqueiros, é quem mais precisa de ajuda. Esses são justamente os que se enrolam, porque ao invés de conseguirem sair do buraco, acabam se afundando mais, pagando juros estratosféricos.

Ao contrário, até aumentam mais as taxas. Pela primeira vez nos últimos tempos parece que vem uma mudança que pode ajudar a quem realmente precisa a tirar o pé da lama, fazendo com o que cliente especial deixe de ser um devedor comum.

Gilberto Braga é professor de Finanças do Ibmec e da Fundação Dom Cabral

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