Por luana.benedito

Rio - Apesar dos males causados à saúde pelo tabagismo serem amplamente divulgados, temos ainda hoje no país aproximadamente 20 milhões de fumantes. A Organização Mundial de Saúde estima que um terço da população mundial adulta, isto é, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas (entre as quais 200 milhões de mulheres), sejam fumantes.

À esq.%2C a socióloga Paula Johns%2C fundadora da ACTbr. Acima%2C a designer Chiara Krengiel e%2C abaixo%2C a museóloga Mariana VárzeaDivulgação

Segundo a psicanalista Stella Nessimian Olyntho, o ato de fumar muitas vezes está ligado às identificações com figuras que fazem parte do universo do indivíduo e à necessidade de pertencimento a determinado grupo. “O cigarro passa a fazer parte da rotina e ocupa um lugar ao lado de outras atividades diárias. Daí ele se fazer imprescindível e passar a ocupar o status de um companheiro, com quem se pode contar nos momentos difíceis”, esclarece.

Para a designer Chiara Krengiel, 41 anos, o hábito começou aos 13 como tentativa de parecer mais velha: “Parei há dois anos e meio. Tive que mudar todo estilo de vida e a rotina. Vivia para fumar: acordava, almoçava, jantava, falava no telefone com cinzeiro, isqueiro, maço de cigarro no colo”.
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Chiara conta ainda que já tinha problemas na gengiva por causa do cigarro e sentia falta de ar. “Quando parei, voltei a dançar, parei com álcool e cortei carne vermelha. Minha vida hoje é outra. Respiro e vivo muito melhor. Dá uma sensação imensa de liberdade”, confessa.
A psicanalista afirma que fatores individuais e ambientais vão determinar o grau de dependência psicológica ao cigarro, que talvez seja mais intensa e anterior à dependência química. “Por tudo isso é difícil parar, pois implica em enfrentar uma perda e viver o luto dessa perda. Vai depender da vontade do sujeito de modificar seu comportamento, aceitando perder com uma perspectiva de mais adiante ganhar qualidade de vida”, completa.
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São 72 horas que separam a museóloga Mariana Várzea, 51 anos, do hábito de 32 anos de tabagismo. “A decisão é um misto de vaidade e preocupação com a saúde. Não queria mais ter minha imagem ligada ao cigarro”, revela Mariana. “Há a dependência química, que você pode tratar com medicamentos, mas há a dependência emocional. A gente bebe, fuma e come as nossas emoções. Parar de fumar é restabelecer um diálogo com as próprias emoções”.
Mariana publicou sua decisão numa rede social e recebeu muito apoio. “Quando me perguntavam se não estava na hora de parar, eu respondia com Fernando Pessoa: ‘Acendo um cigarro (...) E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos’. Mas chega a hora em que aquela tossinha seca, a falta de ar na hora de rir, os pezinhos inchados no final do dia e o fedor de cinzeiro nos cabelos superaram o prazer de fumar.
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É isso aí: maldito cigarro, adeus, tchau, bye bye!”, escreveu.
Luta por saúde
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A socióloga Paula Johns, 49 anos, fumou durante quase 20. “Parei há dez anos. A decisão veio após enxergar o contexto social mais amplo”, diz ela, que é fundadora da Aliança de Controle do Tabagismo (ACTbr), uma organização não-governamental focada em ações para a diminuição do impacto sanitário, social, ambiental e econômico gerado pela produção, consumo e exposição à fumaça do tabaco. “Nos últimos anos, os principais ganhos foram as políticas públicas, e o aumento de imposto e preço. Apesar do lobby pesado da indústria do tabaco contra”, revela.
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