Por bianca.lobianco
Rio - Por ‘rainha’, entendemos, como principal significado,segundo os dicionários de língua portuguesa: ‘soberana de um reino’. As atrizes Juliana Alves, 34, e Karen Mota,33, encarnam essa soberania com todo poder que pede a função que exercem no reino do Carnaval: a de ‘Rainhas de bateria’. Elas apresentam e representam a bateria, o coração de uma escola de samba,no caso de Juliana, a Unidos da Tijuca, ou de um bloco, no caso de Karen, o Me Esquece, que desfila pelo Jardim Botânico. Tudo isso “com dedicação e amor”, fazem coro.
Karen Mota e Juliana AlvesMarcio Mercante / AG. ODIA

REINADO NA AVENIDA

Juliana desfila na Marquês de Sapucaí à frente da sua Unidos da Tijuca, desde 2012. Para a atriz, o posto de ‘Rainha da bateria’ é mais do que uma função decorativa ou midiática. “São 300 ritmistas. A ‘Rainha’ é a pessoa que representa esse som, através de uma expressão corporal. Acho que o pré-requisito básico é você conseguir expressar com seu corpo, a potência do som. O que chamamos de samba no pé”, esclarece com humor. “Claro que existem vários estilos de ‘Rainha’, mas na minha opinião, isso é básico. Dá sentido e justifica . Além de carisma e simpatia, claro”.

Juliana AlvesMarcio Mercante / AG. ODIA

A atriz, no ar como a Dora de ‘Sol Nascente’, conta que nasceu em Bento Ribeiro, bairro da Zona Norte do Rio, passou por Bangu, e finalmente chegou na Tijuca, bairro que residiu da infância até bem pouco tempo atrás. “Minhas lembranças mais fortes são da Tijuca, onde passei boa parte da vida. Comecei a participar da Unidos da Tijuca, primeiro como foliã, teve uma época que eles ensaiavam na Praça Saens Peña.Minha história com o samba é de família, que é festiva. Meu pai cantava muito samba para gente. Minhas tias faziam rodas”, revela, que desfila dia 27 de fevereiro. 

A ‘Rainha’ Juliana Alves encara o desafio carnavalesco com muita alegria, mas leva o posto muito a sério. “Sou ‘rainha’ da escola do meu bairro de infância, tenho amor pela comunidade. É uma responsabilidade grande. Fico feliz de estar ao lado dessas pessoas defendendo a nossa escola. A ‘rainha’ representa uma cultura, a do samba, não só o carnaval. É gratificante esse ritual, é revigorante. Me fortalece como indivíduo”.
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Ela afirma que a preparação para ‘Avenida’ começa em julho do ano anterior, quando iniciam os ensaios, que são fundamentais para o entrosamento e boa performance. “Tem a preparação física, com exercícios, que dependendo do ano, faço de uma forma. Neste Carnaval, ainda estou gravando a novela, então, estou me desdobrando. São dois ensaios por semana, provas de fantasia, figurinos para os ensaios, divulgação”, revela.“Mas tudo vale muito à pena. Além de estar presente e participar, tem que entender que o que é soberano ali, é o samba, e não o posto”, diz, e completa: “Acredito que a Unidos da Tijuca vai ser campeã esse ano. O enredo está lindo: ‘Música na alma - Inspiração de uma nação’, fala da música americana. Minha fantasia será uma grande surpresa”.
REINADO NO CARNAVAL DE RUA
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Karen Mota está há sete anos brilhando na bateria do bloco Me Esquece. Ela confessa a paixão antiga pelo Carnaval, e conta que já foi musa das escolas de samba Salgueiro e São Clemente. Mas o fato, é que a folia carioca fisgou essa moradora de Copacabana, que se dedica todos os anos nesta época, ao seu bloco do coração. “ Amo ser ‘Rainha de bateria’ do Me Esquece. O astral é incrível, o carinho que recebemos passando pelas ruas. Vivi momentos inesquecíveis. Minha carne é de Carnaval”, garante.
Karen Mota Marcio Mercante / AG. ODIA

A atriz, que saiu do quadro de ‘coleguinhas’ do ‘Caldeirão do Huck’, há nove anos, para se dedicar ao ofício da interpretação, concilia os ensaios do bloco com a participação em ‘A Terra Prometida’, na Record,como Mandisa, uma Rainha Núbia, e também,com a produção da segunda temporada da peça ‘Passional’, que reestreia ainda neste primero semestre. “Mas isso tudo é gratificante. Também é um trabalho artístico, você personifica a identidade do bloco, se envolve com o tema. Esse ano falaremos de ‘Yemanjá’. Serei a primeira ‘Yemanjá’ negra no Carnaval”. E a preparação para a ‘maratona’ nas ruas? “O ideal para se preparar para cinco horas de desfile é malhar alguns meses antes. Embora esse ano não tenha conseguido”, confessa ela, que desfila no dia 12 de fevereiro, às 9h.

Karen salienta a ocupação das mulheres no carnaval, não só nos tradicionais postos de ‘Rainhas’ ou ‘Musas’. “Existem outras funções que não estão só ligadas à beleza, ou a exposição do corpo (o que por sinal, não me incomoda, dentro do contexto). Elas estão nos tamborins, nos repiques, nas direções. Lugar de mulher é aonde ela quiser”.  
Juliana Alves e Karen Mota Marcio Mercante / AG. ODIA

DE ‘RAINHA’ PARA ‘RAINHA: Karen pergunta para Juliana

Você acha que ‘Rainha de bateria’ poderia ser um quesito a ser avaliado pelos jurados?

Juliana - Acho. O posto de ‘Rainha’ ia ser mais valorizado, e não só midiaticamente. Iam valorizar o lado artístico, a performance, o samba no pé. Todo o conjunto. Quando se trata de arte, é o todo. Acima de tudo, estaria a performance artística. Estar integrada à bateria,com seu som ritmicamente.

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Quando foi a sua primeira vez na Sapucaí? Se puder descreva a emoção desse dia.
Juliana - A primeira vez foi na Unidos da Tijuca em 2001,achava que tinha uma relação próxima com o Carnaval do Rio. Sou carioca e sempre assisti os desfiles de escola de samba. Mas vivenciar o desfile,é diferente, uma emoção grande, de pertecimento a uma cultura. As pessoas trabalham tanto tempo pra fazer aquilo tudo, e você fazer parte é emocionante. 
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RECADO DA KAREN: “Gostaria de dizer que se ‘Rainha’ fosse quesito você seria a número 1 na minha opinião, não só pela simpatia mas pelo samba no pé, que é impecável. Boa sorte com a Unidos da Tijuca!” 

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DE ‘RAINHA’ PARA ‘RAINHA': Juliana pergunta para Karen
Qual é importância do carnaval de rua?
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Karen - É que todas as pessoas podem curtir. Não estamos mais tão presos só com as escolas de samba. Os ingressos na Sapucaí não são tão acessíveis. E os lugares mais em conta não têm boa visão.
Você chega a ficar mais de cinco horas se apresentando e curtindo com o seu bloco, muito mais do que uma ‘Rainha’ de escola de samba. Como você faz para conseguir ir bem até o final?
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Karen - Apesar da responsabilidade de sambar à frente da bateria, lá me sinto livre, minha família e amigos estão comigo sempre, desde as 9h. E em algum momento, também bebo aquela ‘gelada’, que ajuda a soltar os músculos pra aguentar a maratona. É só alegria! 
RECADO DA JULIANA: “Gostaria de dizer que foi uma alegria muito grande te encontrar e fico muito feliz que existam pessoas maravilhosas e cheias de energia positiva como você fortalecendo o nosso carnaval de rua” 
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Coordenação: Brunna Condini
Beleza: Titto Vidal
Fotógrafo: Márcio Mercante (Ag O DIA)
Agradecimentos: Cinemateca do MAM, João Vitor Ferreira (adorno cabeça Karen), Atelier Romulo Santos Ribeiro (adorno cabeça Juliana)