Rio - Ela é filha de agricultores. Aos 15 anos, saiu de Cuncas, distrito do município de Barro, no interior cearense, e viajou três dias em um ônibus lotado até chegar em São Paulo. No trajeto, só comia frango, torrada e farinha preparados pela mãe. Estudou somente até a 8ª série do Ensino Fundamental.
Hoje, aos 45 anos, Sylvia Design tem mais de 300 funcionários - sem contar os terceirizados-, é dona de cinco lojas, com 1.500m2, e vai inaugurar, na terça-feira, um shopping com seu nome, em São Paulo. “Lá, terá tudo voltado para decoração. Às vezes, um cliente compra uma mesa e falta adorno. E para que ele não saia e vá para a concorrência, ele encontrará tudo para a casa dele no Shopping Sylvia Design”, explica a dona do empreendimento. “É um grande passo e mais um sonho. Agradeço a Deus. Sabemos que o país está passando por crise, e é na crise que se cresce”, frisa Josefa Adecilda Silva, seu nome de batismo. “Josefa é em homenagem à minha avó, porque nasci enlaçada (com o cordão umbilical enrolado no pescoço) e reza a lenda que se não colocasse Josefa ia morrer afogada”, completa.
ORIGEM DO NOME
O nome Sylvia é porque a empresária sempre gostou dele e assim que chegou em São Paulo, como só tinha alguns familiares, adotou logo o novo nome. “O Design veio com o tempo. Achei chique”, diverte-se. Se você ainda não está ligando o nome à pessoa, Sylvia Design é aquela mulher que aparece fantasiada nos comerciais da loja homônima.
“Cheguei, cheguei chegando pra matar os preços altos”, diz vestida de Mulher Gato (com direito a chicote), para vender um sofá articulado com almofada solta (ela joga a almofada longe). Outra vez, ela apareceu em um comercial montada em um jegue. “Venha de qualquer jeito para a Sylvia Design, de ônibus, helicóptero, fusca. Você pode até vir de mula”, dizia, montada no animal.
A ideia de se fantasiar era para chamar a atenção dos consumidores que estavam no canal de vendas acostumados aos vendedores tradicionais. “Nos dias seguintes aos comerciais, tinha fila para entrar na loja”, comemora, cheia de orgulho.
COMEÇO DA FAMA
Presença cativa em quase todos as emissoras, Sylvia começou sua peregrinação televisiva quando foi entrevistada por Jô Soares, em julho de 2007, na Globo. “No outro dia, eram convites de jornais, revistas e programas para participar. A partir dali, comecei a cuidar mais de mim, da minha imagem”, conta ela, que foi entrevistada por causa do sucesso do comercial como Mulher Gato.
CARREIRADE ATRIZ
Seja no ‘Programa do Porchat’, ‘Hora do Faro’, ‘Escolinha do Gugu’, ‘Hoje em Dia’, todos na Record, passando pelo ‘Sensacional’ e ‘Programa Amaury Jr’, ambos na RedeTV!, até ‘Eliana’, ‘The Noite com Danilo Gentili’ e ‘Domingo Legal’, no SBT, Sylvia é a cara da autopromoção. “Peço direto para aparecer. Quem não é visto não é lembrado. Não tem ego, já fui convidada para ter um programa só meu e já recusei. Acho bom fazer participações, com horário. Faço e vou embora, vou viver. Não tenho contrato com nenhuma emissora. Toda vez que faço uma aparição na TV, estou divulgando o nome da minha loja”, explica ela, que gravou recentemente uma participação na novela ‘Carinha de Anjo’, do SBT.
“Foi uma experiência única. Nunca tinha feito novela, fiquei nervosa, saí valorizando muito os atores. Sou péssima em decorar texto. Tudo meu é na base do improviso. Interpretar não é fácil. E mais difícil é gravar com criança, já que adoro falar palavrão. Tive que me conter (risos). Mas foi maravilhoso”, entrega a artista. “Ano que vem, quero fazer teatro”, acrescenta.
A propósito, a empresária faz questão de esclarecer que não irá para nenhum reality show, apesar de ela já ter sido convidada duas vezes para ‘A Fazenda’, da Record. “Tenho mais de 300 funcionários. Não posso ficar meses sem poder sair de uma casa. A gente tem que segurar o que tem”, salienta.
BANCA DE PATROA
A irreverência é a marca registrada da mulher de negócios, que começou como empacotadora - fazendo embrulhos de presentes - em uma loja. “Sempre pensei como patroa. Não ficava só atrás do balcão fazendo aquilo. Ia para outra seção, para o setor de brinquedos, arrumava tudo, passava flanela, limpava tudo. A gente tem que ser notado pelo patrão”, explica.
Sylvia faz questão de mostrar o corpão que a natureza lhe deu e que mantém em forma na academia. “Já fiz lipo e coloquei prótese de silicone. Lipo dói pra caramba. Parece que passou um ônibus em cima. Prometi que não faria mais. Malho durante uma hora e meia quatro vezes por semana. Não abro mão da minha academia, não por corpo, mas por saúde”, garante ela, que adora sapatos. “Talvez porque quando era pequena só tinha direito a um calçado novo uma vez por ano”.
PÉ NO CHÃO
Sylvia é casada com o empresário do ramo de transporte Alexandre de Araújo - eles são pais de Alexandre, de 19 anos. “Conheci o meu marido, que é pernambucano, no forró, no rala-bucho (risos). Ele é totalmente diferente de mim, não gosta de câmera. Ele me respeita muito, e eu o respeito também, principalmente quando ele não quer aparecer”, conta ela, que assume: “Sou viciada em trabalho”.
Extravagante, animada, boa vendedora e orgulhosa das raízes. “Minha mãe é muito orgulhosa de mim. O meu pai faleceu há um ano. Foi uma perda muito grande. Não sou deslumbrada. Valorizo muito a família e pé no chão. Não sou melhor do que ninguém. Nasci nua e sem dente e talvez vá embora assim”, profetiza, retomando o bom humor.