Por tamyres.matos

Paraty - O cantor Gilberto Gil fez o show que deu o pontapé inicial no Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) na noite desta quarta-feira e deu uma entrevista coletiva na cidade nesta quinta. O baiano criticou veementemente a ausência de pessoas das classes sociais menos favorecidas nos estádios brasileiros durante a Copa das Confederações deste ano e pediu mudanças para a Copa do Mundo do ano que vem.

Cantor Gilberto Gil dá entrevista em ParatyJoão Laet / Agência O Dia

"Não sei o que vai ser feito, se com cotas através do governo ou mesmo da iniciativa privada, o que não dá é pra gente fazer uma Copa no Brasil sem os negros, os pobres, sem os torcedores nos estádios. Estive no Maracanã na final da Copa das Confederações (Brasil X Espanha), um lugar onde sempre vou por causa do Fluminense. Lá, vi o (Joseph) Blatter, o Zagallo, a Ivete (Sangalo), o Bebeto, mas não vi o povo", apontou Gil.

O cantor, que também participou da mesa "Culturas Locais e Globais" às 14h30 desta quinta, completou ainda: "Na hora em que o Fred e o Neymar foram comemorar os gols, ali próximo de onde era a Geral, vi o Maracanã muito esbranquiçado, sem matiz. Não dá para uma Copa não ter a (presença da) Mangueira, não ter a Rocinha e a Cajazeiras, lá em Salvador".

O músico lembrou que seus netos, antes da Copa das Confederações, pediram que ele não alugasse um apartamento em Salvador para que amigos paulistanos pudessem se hospedar lá. “Temos que repensar isso. Quem vai ver o jogo é somente a classe média alta paulistana e carioca, que pega um voo e aluga casa em Salvador? A Mangueira e a Rocinha ficarão de fora?” questionou.

Fluminense, o primeiro grande amor

Frequentador do Maracanã e do Engenhão nos jogos do Fluminense, Gil lembrou, bem-humorado, que costumam transformá-lo em rubro-negro por causa da música “Aquele Abraço”, composta em 1969, quando o Tricolor conquistou o Campeonato Carioca sobre o Flamengo.

“Eu mando um abraço para a torcida do Flamengo, mas lá do outro lado do estádio, da torcida do Fluminense, a campeã. É um tchau”, explicou, rindo. Gil contou ainda como começou a torcer pelo Tricolor. “Foi meu primeiro escudo, minha primeira paixão. Eu morava em Ituaçu, um vilarejo com 800 pessoas. E no rádio transmitiam os jogos do Rio, não os de Salvador. Só depois eu fui torcer pelo Bahia. Mas sou tricolor de coração”, avisou.

Legado Cultural da Flip

A cidade de Paraty celebrou nesta quarta, a abertura oficial da 11ª edição de sua Festa Literária Internacional (Flip) que, como qualquer jovem desta idade, está cheia de fôlego.

“A Flip é importantíssima para a cidade. Só por sermos a sede deste evento, recebemos turistas o ano todo, o que traz muita receita para o município. Não podemos pensar só no dinheiro, mas também no legado cultural que ela pode trazer para a cidade”, explica o secretário municipal de cultura, Ronaldo dos Santos.

A Flip chega a sua 11ª edição com uma homenegem a Graciliano Ramos. Na foto%2C show de abertura do evento%2C com o cantor Gilberto GilJoão Laet / Agência O Dia

O foco de Ronaldo e da gestão do prefeito Casé Miranda (PT) é incluir o cidadão paratiense como integrante, e não apenas como espectador de uma festa com perfil de classe média alta.

“A temática literária já faz parte do dia a dia de nossas escolas após dez anos de Flip, mas os resultados ainda são tímidos. E essa tarefa não é da Flip, mas nossa. Temos que aproveitar o que ela nos oferece, mas a transformação social tem que ser promovida pelo Estado”, admite.

No cargo desde janeiro, Ronaldo abriu as portas da secretaria para ser o QG da OFF-Flip, circuito paralelo à festa e que tem caráter popular. “A Off-Flip está para a Flip como a Cúpula dos Povos esteve para a Rio+20. É onde rolam amplos debates, saraus, shows e até concurso sobre gastronomia sustentável”, empolga-se.


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