Por cadu.bruno

Rio - Se liga no papo, porque os caras são ‘chapa quente’: recebem até R$ 200 mil por mês, são os artistas da vez e só desfilam de carro potente. É isso mesmo: funk ostentação dá rima. Criado nas periferias de São Paulo, com inspiração no batidão carioca, o novo gênero ganha destaque nacional e faz seus representantes acumularem fortunas. Roupas de grife, carrões, bebidas, joias, mansões e mulheres fazem parte da rotina dos novos milionários funkeiros.

Na linha de frente, os paulistas MC Lon e MC Guime, com muitos hits no YouTube. No Rio, MC Ticão e Nego do Borel seguem o mesmo caminho e já comemoram as altas cifras na conta bancária.

“Estou bem de vida. O negócio não é ter muito dinheiro, mas, sim, conseguir fazer o que quiser com o que tenho. Quando eu era pequeno, não conseguia nem comprar um chinelo novo. Dinheiro é importante, sim. Só não compra amizade verdadeira”, afirma MC Ticão, 28 anos, que carrega um bracelete de ouro personalizado com o próprio nome e o da filha, Karen — uma homenagem que custou nada menos que R$ 9.800.

MC Nego do Borel (à esquerda) e MC TicãoJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Diante de tanto luxo, ele sabe que o bonde dos invejosos está sempre na espreita. “Foi o que aconteceu com o Daleste, não é?”, palpita, referindo-se ao funkeiro assassinado no início do mês, em Campinas. “Tem milhões que curtem a gente. Só uns dez, 20 não gostam. Não tem explicação”. E Ticão quer mais. “No mês que vem, vou gravar o clipe da minha nova música, ‘Festa na Mansão’. Vai ser o novo hit”, assegura.

Aos 21 anos, Nego do Borel garante que tem salário de magnata. “É pura ostentação. Ganho R$ 200 mil por mês. Para quem nasceu pelado, está bom demais”, gargalha ele, que chega a fazer seis shows em uma única noite. Nem sempre foi assim. “Vivenciei a realidade da favela. Cresci vendo traficantes andando de fuzil, ostentando com cordão de ouro. A gente também quer ter isso. No começo, cantava proibidão. Agora, estou light. Só canto ostentação”, conta.

O proibidão, por sinal, também foi a porta de entrada de MC Lon, de 22 anos. Criado na Baixada Santista, o cantor percebeu que fazer apologias não seria tão rentável quanto falar de bens materiais. “Eu cantava o que via nas comunidades, mas percebi que isso não ia me dar futuro. Aí comecei a valorizar a imagem e cantar sobre as conquistas”, diz Lon, que também fatura R$ 200 mil por mês. “Isso no bruto. Limpinho na minha mão”, ele faz questão de explicar.

“Também tenho uma cobertura e cinco carros. Ah! Não esquece de colocar o jet ski, porque isso ostenta muito”, pede ele, preocupado em não deixar nenhum item de valor de fora da matéria. O ouro que carrega no pescoço, ele garante, é 100% puro e maciço. “Graças a Deus eu tenho originalidade”.

MC Guime, de 20 anos, que mora em Osasco, é o queridinho na febre ostentação. Seus três últimos clipes reúnem mais de 100 milhões de visualizações no YouTube. “O mundo é capitalista. Me sinto bem em mostrar que também posso ter coisas de luxo. A gente ganha muito porque a galera curte. Chegou a hora de o funk também ganhar dinheiro”, vibra ele, certo de que escolheu uma profissão promissora .“Acho que outro emprego não me daria tanto dinheiro, mas eu estaria na luta”.

Cifras cor de rosa

Acha que ostentação é só coisa de garotões? Pois MC Byana está aí para provar o contrário. Aos 21 anos, a funkeira, que começou a cantar na igreja, ganha cachês de até R$ 9 mil em shows por todo o país e tira onda com mais de sete milhões de visualizações no clipe de ‘Luxúria’. “Traz a luxúria para mim. Eu sou Byana. Joga o dedo para o alto a mulher que gosta de grana”, ela canta na música.

“Acho que ainda falta um pouco de coragem das meninas para cantarem ostentação”, esnoba ela, que mora na favela carioca Furquim Mendes, no Jardim América. “Interpreto uma personagem. Deixo claro para os meus fãs que não sou milionária”.

Comprometida há um ano, a moça conta que o par ideal, na verdade, tem que ter mais do que dinheiro. “Tem que ter uma condição boa, é claro. Mas o que mais vale é carinho”, diz ela, que sempre vai à igreja. “Dou o dízimo. Abre portas no meu trabalho”.

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