Por daniela.lima

Rio - Não raro, o menino de 11 anos passava o dia inteiro sentado em frente à gráfica. Esperava, pacientemente, a oportunidade de imprimir o jornal comunitário que começara a editar, no Complexo do Alemão. Oito anos se passaram. Ao mesmo jornal, esta semana, o governador Sérgio Cabral anunciou com exclusividade o fim da restrição a eventos em áreas com Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs). 

Aos 19 anos, Rene Silva conta com oito colaboradores fixos no jornalAlessandro Costa / Agência O Dia


Aos 19 anos, Rene Silva vê ‘A Voz da Comunidade’, que tem mais de 100 mil seguidores no Twitter, ecoar cada vez mais longe parte dos anseios dos cerca de 70 mil habitantes das 13 favelas da região. A história, que se confunde com a do próprio Complexo do Alemão, ganha as páginas do livro ‘A Voz do Alemão’ (ed. nVersos, 200 págs., R$ 34,90), lançado esta semana e escrito por Rene em parceria com a jornalista mineira Sabrina Abreu.

“‘A Voz da Comunidade’ só existe porque temos muitos problemas sociais. Desde a pacificação, muita coisa mudou. Mas ainda temos esgoto a céu aberto, falta de água e de energia...”, enumera Rene, que conta com oito colaboradores fixos. Há vagas abertas para novos voluntários. E a disputa é acirrada: na semana passada, ele recebeu nada menos do que 52 e-mails de interessados.

Foi em novembro de 2010 que o trabalho ganhou os holofotes: durante a pacificação, Rene postava freneticamente no Twitter. Resultado: pouco depois, com o número de seguidores na rede social multiplicado, ele era entrevistado pelos principais veículos de comunicação do país. “Eu tinha consciência do que estava acontecendo e sabia o que estava escrevendo”, explica.

Mas o livro está longe de ser mais uma história triste sobre a vida na comunidade. “A primeira editora que procurei pediu para que falássemos bastante sobre tragédias. Nossa intenção é outra. Me orgulho de ter feito um livro sobre um lugar, que durante anos foi muito perigoso, em que a capa não traz alguém tampando o rosto com uma camisa ou um lenço”, frisa Sabrina Abreu.

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