Rio - De repente, Betty Faria interrompe José Wilker durante coletiva de imprensa num hotel da Zona Sul do Rio: “Quando você começa a falar, fico babando. Estamos juntos há anos, não é? Desde o Teatro Jovem. Mas nunca transamos, hein?”, dispara a atriz, fazendo a sala explodir de risadas. Sentiu o clima da turma que protagoniza ‘A Casa da Mãe Joana 2’?
A comédia reúne gente que se conhece de outros carnavais. São medalhões da dramaturgia nacional: dirigido por Hugo Carvana, o elenco ainda traz Paulo Betti, Antônio Pedro Borges e Anselmo Vasconcellos. O longa, que estreia nessa sexta-feira, encerra a franquia.
“Esse é o filme dos amigos. Delicioso. Só o Carvana mesmo para me fazer acordar cedo e tomar café da manhã às 6h”, lembrou Betty. “Trabalhar com amigos é muito mais confortável. Existe uma capacidade de captar a energia do outro. Mas também não dava para chegar lá e dar uma enganada, fazer uns truques. Aqui, todo mundo se conhece há 40, 50 anos”, explicou Wilker.
Para Antônio Pedro, também existe outra vantagem em estar rodeado de colegas. “Bom é que não temos que lidar com aqueles atores vaidosos, que ligam só para o nome”, confessa. “Meu camarada, hoje tem até gente que anda por aí com segurança!”, se indigna.
Nos bastidores, a turma se divertia para valer. “O Carvana já teve que sair do set algumas vezes de tanto rir”, conta Wilker, que também caiu na risada na cena em que seu personagem (Juca) participa de um campeonato internacional de maconha. “Se alguém fumasse um baseado daquele tamanho, daria uma volta em Plutão”, gargalha.
E, se tem amizade no bastidor, tem na telona também. Na história, o que garante as risadas são os inseparáveis Montanha (Antonio Pedro), PR (Paulo Betti) e Juca. Dessa vez, a turma está na mira da filha de uma viúva ricaça, que tomou um golpe do malandro PR. “PR é um prostituto. Foi muito bom de se fazer. O Carvana deixa a gente navegar por águas tranquilas”, diz Betti.
“Gosto de personagens trambiqueiros, amorais, que mudem a ordem natural das coisas”, comenta Carvana, autor de obras como ‘Vai Trabalhar, Vagabundo’ (1973) e ‘O Homem Nu’ (1997).
Aos 76 anos, o diretor, que luta contra o Mal de Parkinson, aposta no tom escrachado na trama — que, aliás, surgiu inspirada no apartamento em que morava junto com os colegas Miele, Roberto Maya e Daniel Filho, nos anos 60. “Claro que as histórias do verdadeiro apartamento não poderiam entrar. Éramos quatro rapazes, jovens, com hormônios fervilhando”, lembra.
“Resgatei a vivência de amigos que se amam e não vivem sem o outro. Acreditam no afeto”, comenta ele, que pretende reunir praticamente o mesmo grupo de atores para mais uma comédia: ‘Curto Circuito’.
FIM DE LINHA
Carvana, porém, decreta: “Não haverá ‘Casa da Mãe Joana’ parte 3. Acaba aqui”, diz. Ele tem acompanhado de perto o momento da comédia nacional no cinema. “Está bombando. Mas são obras diferentes das minhas. Não avalio se são piores ou melhores. É que o meu humor está mais ligado à dramaturgia, à ação”, ele esclarece.