Rio - Belchior, como é público e notório, desapareceu. O cantor teve algumas voltas forçadas - chegou a ser achado pela Rede Globo no Uruguai, logo após matérias do "Fantástico" - mas nunca mais retomou a carreira, nem com shows nem com disco. Se o autor de 'Como Nossos Pais' recusa-se, aparentemente, a voltar aos palcos, tem uma turma muito especial que aproveita para homenageá-lo e torce para que Bel (um de seus apelidos) retorne ao trabalho. É a banda Radar, que tocou com Belchior de 1986 a 1994 e gravou dez álbuns com ele.
Com João Mourão (baixo), Sérgio Zurawski (guitarra), Monsieur Parron (bateria) e Roger Carrer (teclados) na formação, além do novato cantor David Silva, o grupo estreia o show 'Radar Canta Belchior' no dia 20 de outubro, às 18h, no Centro Cultural São Paulo, em São Paulo. E já procura datas no Rio.
"Torcemos para que o Belchior goste da homenagem e, quem sabe, apareça em algum dos nossos shows", diz o guitarrista Zurawski, que após fazer várias turnês com Belchior, gravou solo (o CD instrumental 'Pulsares', de 2000, com um quadro do ex-patrão adornando o trabalho gráfico), mudou-se para Portugal (lá, tocou com o Madredeus e com o grupo Couple Coffee) e agora está de volta ao Brasil. Após 1994, ele ainda se reencontrou no palco com Belchior algumas vezes.
"Voltei a tocar com Belchior em formato de duo até 2001, quando me mudei para Portugal. Nunca notei absolutamente nada diferente nele. A última vez que encontrei o Belchior foi mais ou menos há 4 anos. Ele me ligou em Lisboa e me convidou para tocar num festival de jazz em Ankara, na Turquia. Desde então não nos falamos mais. Estava tudo normal com ele, era o velho e bom Belchior de sempre", recorda. "Quando surgiram essas notícias recentes sobre o Belchior, nenhum de nós estava próximo a ele. Nem percebemos nada".
Antes de tocar com Belchior, o grupo acompanhava ninguém menos que Raul Seixas. "Em 1986 a gente se separou do Raul, e o Belchior, que tinha visto a gente tocando com ele várias vezes, nos convidou para sermos sua banda de apoio", diz Zurawski. Durante o período, nem sombra do cantor que abandonou empresários e amigos sem deixar vestígios e largou os palcos.
"Fazíamos uma média de 20 shows por mês e chegávamos a ficar fora até três meses, sem nem pisarmos em casa. O Belchior tinha um perfil totalmente nômade. Adorava a estrada, quanto mais melhor. Há músicos que não suportam essa vida e têm sua estabilidade emocional extremamente abalada quando estão há muito tempo fora de casa. Mas nós não, aquela era a vida que a gente tinha pedido a Deus. E o Bel era um excelente companheiro de estrada, muito gente fina, sempre com bom astral e bom humor. Muito culto, era sempre um ótimo papo. Não faltava tempo para isso, aliás", recorda Mourão.
O bigode e a voz marcante já fizeram com que Belchior fosse alvo de vários humoristas - os Mamonas Assassinas o imitaram no hit 'Uma Arlinda Mulher', de seu único disco, lançado em 1995. Para o vocalista que vai se apresentar com a banda, resta a tarefa de não cair na caricatura e convencer os fãs.
"O cantor que a gente procurava e queria deveria ter uma personalidade vocal forte e marcante, mas que fosse capaz de preservar integralmente a essência bluesy das canções de Belchior. Além disso, deveria ter carisma e muita familiaridade com o palco e com o público. Demos sorte, conseguimos o cara que reúne todas essas qualidades e estamos muito satisfeitos com seu ingresso na banda. Temos certeza de que os fãs gostarão muito de ouvir aquelas canções na sua voz", esclarece Zurawski. “Belchior é referência na minha carreira, e de na qualquer músico brasileiro. É uma enciclopédia musical. Tomara que nos ouça e venha dar uma canja”, torce David.
Reportagens dão conta de dificuldades que alguns artistas já tiveram para agendar shows com músicas de Belchior. Os rapazes da Radar, crias do cantor, não temem problemas.
"O show é um tributo prestado por velhos companheiros de batalha, que além de prezarem muito o Belchior, são admiradores incondicionais de sua obra", diz o guitarrista. "Ele é um artista muito querido e seu público é muito fiel. Há muita gente querendo ouvir, cantar e recordar essas obras-primas criadas por ele. Fizemos mais de mil shows e em todo lugar onde que voltávamos lá estavam de novo vários rostos conhecidos de pessoas que não perdiam nem um show dele em suas cidades. Muitas vezes, essas pessoas apareciam agora acompanhadas de seus irmãos, filhos ou sobrinhos. Belchior renovava ano após ano seu público".






