Rio - O ano é 2011. Enquanto o batidão embala o intervalo de uma das etapas da Batalha do Passinho, no Morro do Salgueiro, dois garotos começam a dançar na pista. No meio da galera, eles destilam movimentos frenéticos e divertidos. A multidão vai ao delírio.
Protagonizada por Cebolinha e Gambá, a cena impactou o diretor Emilio Domingos, que estava começando a gravar o documentário ‘Batalha do Passinho — Os Moleques São Sinistro’. O filme acaba de estrear no cinema.
“Quando vi aquilo, pensei: ‘Preciso conversar mais com esses caras’. Fiquei impressionado com a intimidade deles enquanto dançavam. Mas percebi que, entre os garotos, existe algo mais profundo do que a questão da dança. A amizade que rola entre eles é muito forte”, explica Emilio.
O longa traz à tona a história de vida dos artistas da dança que virou mania nas favelas do Rio e bombou na internet . “Eu via os garotos na telinha do YouTube e sempre os imaginava no telão do cinema”, diz o diretor, que reuniu 80 horas de material bruto, reduzidas para 73 minutos. “É como se, de um prédio inteiro, tivéssemos de escolher só um quarto”, compara.
Mas o momento mais difícil mesmo foi a notícia da morte de Gambá, cujo estilo de dança se inspirava em trejeitos femininos . Conhecido como Rei do Passinho, ele foi assassinado, aos 20 anos, no Réveillon de 2012. “Ele era um menino muito inteligente, carismático, alegre”, lamenta Emilio. “O Gambá abriu espaço para todo mundo. Antes de morrer, ainda era muito criticado. É uma pena que as pessoas só reconheçam as outras depois da perda”, diz Jefferson de Oliveira, o Cebolinha.
VIDA DE POPSTAR
Tirar fotos com fãs e dar autógrafos é um sonho que se tornou realidade para os dançarinos do passinho. “Quando fomos a Angra dos Reis exibir o filme, tivemos até que sair escondidos do shopping. Tinha muita gente nos esperando!” lembra Cebolinha. Também há os ossos do ofício.“Não sei até quando vou dançar. Sinto muitas dores no corpo”, revela ele, que sonha abrir uma ‘academia do passinho’. Qual o segredo desta dança? “Alegria, espontaneidade, atitude e gingado”, enumera Luan Henrique, o Camarão Preto.