Rio - É tempo de amor na terceira idade. Sem pudores, Bernarda (Nathalia Timberg) e Lutero (Ary Fontoura) finalmente foram para a cama em ‘Amor à Vida’. O casal mostrou que nunca é tarde para amar e que é ainda possível ter prazer com o sexo, apesar de agora sofrer com o preconceito da família. O romance, que caiu na boca do povo, é uma homenagem do autor Walcyr Carrasco à mãe, que, depois de ficar viúva aos 64 anos, arranjou um novo companheiro.
“Minha mãe permaneceu com ele até o fim de sua vida (aos 75). Inclusive, foi ele quem ficou com ela no hospital. Na época, eu aceitei a relação com muita felicidade, assim como meus irmãos, porque minha mãe morava em outra cidade e já nos preocupávamos, com medo de que ficasse sozinha. Quando ela me contou que tinha começado a namorar, eu disse que esperava que fosse feliz”, conta Carrasco.
Diferentemente da mãe do novelista, a aposentada Philomena de Medeiros, de 77 anos, não teve o apoio dos filhos quando revelou que estava namorando Jaime Ramos, de 82. Viúvos, os dois se conheceram no final de 2008, na fila para a inscrição das aulas de dança de salão da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), na Uerj. “Já gostei dele de cara! Começamos em turmas diferentes, mas ficávamos trocando olhares pelo corredor”, lembra ela. Em 2011, o romance engatou, depois de idas a teatros e shows.
“No dia em que íamos ficar pela primeira vez, resolvi contar para a minha filha. E ela logo insistiu para eu não ir, dizendo que eu já tinha passado da idade de namorar. Mas eu fui e acabou rolando!”, diz Philomena. Depois de aparecer no programa ‘Mais Você’, de Ana Maria Braga, na última quarta-feira, a rejeição dos filhos dobrou. “Respeito a opinião deles, mas fico muito sentida, pois o Jaime não pode participar das reuniões de família”, desabafa ela.
Os olhares discriminatórios também estão na rua, em muitos momentos. “Uma vez, nos despedimos com um beijo, no ponto de ônibus, e uns jovens fizeram graça, dizendo que o vovô aqui estava com tudo em cima. Existe uma curiosidade muito grande sobre a vida de um casal idoso”, opina Jaime. Quando o assunto é sexo, ele responde sem meias-palavras: “Corcunda sabe como se deita! Foi muito bacana a cena em que o personagem do Ary Fontoura falou sobre o remédio[PARA EREÇÃO], sem vergonha. Muitos abandonam a chuteira sem saber disso”.
“O sexo acontece, mas sem o fogo da juventude. O calor é outro, mas as coisas acontecem normalmente. Espero que todos na terceira idade vivam com essa felicidade. Depois que o Jaime apareceu na minha vida, a minha alma mudou”, afirma a mulher, que não mora com o namorado. “O amor entre idosos é mais sereno, tranquilo. Valorizamos o companheirismo e a amizade. É muito bom ter alguém ao lado para compartilhar os fatos da vida”, retruca Jaime, aplaudido por toda a turma da aula de teatro depois de declamar uma poesia para a sua “musa inspiradora”, como ele diz.
Romantismo igual está no lar de Edite Cândida, de 68, e José Salema, de 77. Há pouco mais de dois anos, o cupido os flechou, também nas aulas de dança de salão da Unati. Após oito meses, os viúvos foram morar sob o mesmo teto, com todo o apoio da família. “Nossos parentes nos motivaram. Eles adoraram saber da nossa felicidade como casal”, explica Edite, que toda semana recebe uma carta amorosa do namorado. As juras são tantas que mal cabem no pequeno baú de palha onde ela as guarda.
“O amor é baseado em amizade, confiança, parceria mútua e sinceridade. Somos muito parceiros. Na vida, o coração não envelhece. É claro que também temos um relacionamento mais íntimo. O sexo acontece de outra forma, com mais moderação”, esclarece a mulher. “Não existe mais aquele pique de quando tínhamos 18 anos. Enquanto há vida, temos que viver da melhor maneira!”, orgulha-se José. A sintonia entre os dois é nítida no olhar do amante, que não desgruda da namorada. “Podemos fazer a foto do beijo dez vezes?”, disse ele ao fotógrafo.
Mãe de Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho e Emprego, Carmelita Lupi, de 80, chegou a ser chamada de periguete pela irmã, depois de mostrar uma foto em que posa ao lado do namorado José Gonçalves, de 79. “Mas levo tudo na esportiva!”, defende-se. Viúva há 38 anos, conheceu o amante entre passos de dança, também na Unati, há dois anos. “Sinto um vazio quando não tenho um companheiro. É ótimo estar acompanhada. A gente envelhece melhor!”, aconselha.
Prazer por toda a vida
por Regina Navarro Lins
Durante muito tempo o sexo só foi aceito para a procriação. Muitos homens e mulheres que se casaram antes da liberação dos anos 70 carregam pela vida uma moral sexual rígida e repressora. Foram criados com uma visão do sexo bem diferente da que se tem hoje, e havia pouco espaço para o prazer. Contudo, quem está com mais de 60 anos e conseguiu se livrar dos antigos preconceitos, passando a aceitar o sexo como importante e natural, esbarra agora em outro obstáculo social.
É a crença tão difundida socialmente de que na velhice as pessoas são assexuadas, como se sexo e juventude fossem sinônimos. Assim, o homem estaria condenado à impotência e a mulher, depois da menopausa, não se interessaria mais pelo assunto. Mas nada disso é verdade. Apesar de toda a transformação fisiológica que ocorre com o envelhecimento, não existe limite para o exercício da sexualidade e, sem dúvida, homens e mulheres podem ter muito prazer sexual até o fim da vida.