Por daniela.lima

Rio - Quando a Flupp — Festa Literária das Periferias — nasceu na cabeça de seus idealizadores, o grande desafio era provar que aquilo não era um delírio. Ao final da primeira edição, em 2012, Julio Ludemir, ao lado de Ecio Salles, constatou: “Temos o nosso atestado de sanidade mental. Podemos continuar”. Não pararam mais. Tanto que, amanhã, começa a segunda edição do projeto, com encontros entre os novos autores de comunidades e veteranos da literatura nacional e internacional. Tem também shows, exposição, saraus e espaço para quem quiser chegar na sede do AfroReggae, em Vigário Geral, até o dia 24. 

Ecio Salles e Julio Ludemir levam a segunda edição da Flupp para Vigário Geral Carlo Wrede / Agência O Dia


“Não podemos ficar restritos a lugares onde o governo conseguiu implantar uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora)”, diz Ecio, justificando a escolha de Vigário Geral como cenário para a Flupp deste ano. “Waly Salomão, nosso homenageado deste ano, frequentou aquele lugar e isso também pesou na nossa escolha”, explica.

Para falar do poeta baiano, nascido há 70 anos e morto há dez, seu filho Omar Salomão, Jards Macalé e Jorge Mautner marcam presença no centro cultural batizado com o nome do escritor, gerido pelo AfroReggae. A rapper afegã Paradise Sorouri também participa, entre outros. “Nossa ideia é desfazer estereótipos”, ressalta Ecio.

Se a ideia é essa, Lindacy Fidelis, de 56 anos, e José Luis Rocha, de 51, são a prova viva. Ela, que é doméstica e há 36 anos mora na Rocinha, sempre teve o sonho de contar sua história, mas não fazia ideia de como faria isso. “Cheguei na primeira Flupp me sentindo a patinha feia, porque não sabia de nada”, diz Lindacy, que, depois disso, voltou a estudar e, hoje, faz parte de um grupo de 41 pessoas com textos selecionados para publicação. Serão três livros: uma coletânea com narrativas curtas; outra com poemas, incluindo dois de Lindacy, e o romance ‘Esmalte, Batom e Sangue’, assinado por José Luis, que trabalha nos Correios e mora no Morro do Fogueteiro.

“Escrevia muita coisa e guardava, até que conheci a Flupp e achei que dava samba”, conta ele.
“Me criei em uma casa sem muitos livros, mas foi a partir deles que me descobri”, confidencia Ecio, que já foi Secretário de Cultura de Nova Iguaçu. Jornalista e autor de várias publicações que retratam a realidade das favelas, Ludemir sacou a mesma paixão pelo universo literário em vários moradores de comunidades. “Comecei a prestar atenção nessa molecada e perceber que havia neles essa necessidade de consumir literatura. O pessoal tem fome de aprender!”, define.

DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO

AMANHÃ, às 15h30. Com mediação de Ecio Salles e presença de Omar Salomão, Antonio Cícero e Jards Macalé, a poética e o legado de Waly Salomão são debatidos. Às 17h45, Jorge Mautner fala sobre o tropicalismo e sobre os escritores e compositores que fizeram a sua cabeça, com mediação de Antonio Carlos Miguel.

QUINTA, às 16h, João Máximo e Muniz Sodré desvendam onde está o samba na literatura brasileira.

SEXTA, às 20h, sarau sobre Mário Quintana.

SÁBADO, às 11h, Paradise Sorouri e Diverse Suhrab Sirat, com mediação de Toni Marques, falam sobre as dificuldades de cantar rap e fazer poesia em seu país, o Afeganistão.

DOMINGO, às 20h, o Sarau Tropicalista, apresentado por Jorge Salomão, encerra a programação da Flupp.

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