Por daniela.lima
Rio - Depois de suspirar o cansaço de uma noite longa de trabalhos, o Bom Velhinho foi pego por uma surpresa pior do que qualquer pirraça de criança. Mal bateu a porta do táxi, um homem entrou no veículo, de soslaio, e anunciou o assalto. O sonoro “ho-ho-ho” no assento de trás foi fundamental para que o bandido acreditasse no que a motorista insistia, assustada: aquele era o carro do Papai Noel! Por sorte, a história não trouxe nenhuma manchete trágica no dia seguinte ao Natal. Pelo contrário: o bandido agradeceu, disse que, a partir dali, acreditava na tal lenda do velhinho — e que, com o dinheiro roubado na rua, compraria um brinquedo para o filho. 
Os barbudões comemoram a formatura na Escola de Papai Noel do Brasil sob o teleférico do AlemãoDivulgação


Inspirado por relatos de situações inusitadas, engraçadas e, às vezes, tristes, o jornalista Hélio Araújo escreveu o livro ‘Histórias de Papai Noel — Aquelas Que Só o Bom Velhinho Conhece’ (Litteris Editora, R$ 20, 64 págs.), que a partir de amanhã é lançado em ações pelos shoppings da cidade. “Há três anos, trabalho como assessor da Escola de Papai Noel do Brasil. Depois de ouvir um monte de histórias interessantes, resolvi que era importante eternizá-las no papel”, explicou o autor, que acompanhou os barbudões entre uma aula e outra de dicção, improvisação e música, no centro fundado há 20 anos pelo produtor cultural Limachem Cherem na Praça Tiradentes, no Centro.

“É impressionante que, mesmo com os pesares da profissão, todos têm muito orgulho do que fazem”, opinou Hélio, em referência aos “velhinhos” — a maioria é aposentada e tem idade média de 65 anos. Entre chutes de crianças birrentas e pais atormentados, eles conseguem engrossar a renda do fim do ano com R$ 3 mil a R$ 15 mil, por 40 dias de trabalho. “E tudo com muita alegria”, lembra o escritor, que, antes de narrar outras histórias, pondera: “Tem que saber lidar com o inesperado. Por isso, o curso é importante.”
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Exemplos não faltam. “Num desses tantos casos, um Papai Noel se surpreendeu ao ter que entregar um presente num motel da Zona Sul. Quando chegou no quarto, foi recebido por uma mulher. Na verdade, ela estava esperando o amante, que resolveu fazer uma surpresa, mandando uma joia”, conta, entre risos.
O autor logo emenda outra história, uma das suas preferidas, animado com os detalhes que vêm à mente. “Uma vez, um Papai Noel foi entregar presentes num apartamento em Copacabana. Depois de muito esperar no hall, foi surpreendido por uma música de boate bem alta. Era uma festa só de travestis!”, recorda.
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Alternando curiosidades históricas sobre a festa religiosa, o livro lembra que, sim — verdade ou mentira —, o Bom Velhinho sempre vem. E vem com um saco de emoções.