Por cadu.bruno

Rio - Glam rock. O rock purpurinado feito nos anos 70 por nomes como David Bowie, Lou Reed, Iggy Pop, Slade, Marc Bolan (do grupo britânico T. Rex) nunca deixou de ser notícia. Lou, morto em 2013, teve todos os seus passos acompanhados pela imprensa. David Bowie, cujo álbum ‘The Next Day’ foi um dos destaques do ano passado, é o tema da exposição que leva seu nome, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, entre os dias 31 de janeiro e 20 de abril. E a história da revolução provocada por eles no rock dos anos 60/70 acaba de ser contada no livro ‘Dangerous Glitter — Como David Bowie, Lou Reed e Iggy Pop Foram ao Inferno e Salvaram o Rock’n Roll’, do jornalista britânico Dave Thompson (ed. Veneta, 400 págs., R$ 79,90).

Bowie e o macacão usado na tour do disco ‘Alladin Sane’%2C de 1973%2C que está na mostraThe David Bowie Archive Imagem Victoria and Albert Museum

"O glam rock lembrou às pessoas que elas poderiam ser elas mesmas, mas sem que tivessem que mostrar suas verdadeiras faces para o mundo. É aquela coisa do ‘não sonhe em ser, seja!’, brinca Thomspon, falando sobre um movimento cujo grande símbolo é o rockstar decadente Ziggy Stardust, personagem do álbum ‘The Rise and Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars’, de David Bowie (1971).

“Iggy, Lou e Bowie eram artistas muito diferentes, mas unidos pela admiração mútua e por estarem na crista da onda dos movimentos que fizeram sucesso na cena musical dos anos 70”.
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Com capa dura e repleto de fotos raras, ‘Dangerous Glitter’ começa lembrando a importância do artista plástico e diretor cinematográfico Andy Warhol para toda a movimentação. Warhol descobriu artistas como o Velvet Underground (banda de Lou Reed) e a cantora Nico. Seus famosos “testes de câmera” (pequenos filmes nos quais não fazia nada mais do que enquadrar o rosto de algum candidato a astro) abriram espaço para nomes do cinema underground, como Edie Sedgwick. Bowie descobriu sua faceta popstar ao assistir a uma montagem da peça ‘Pork’, de Warhol.
O desenvolvimento das carreiras do trio do título do livro é esmiuçado. E acaba até servindo de exemplo para novos artistas, já que Iggy, Lou e Bowie, antes do sucesso, eram verdadeiros casos perdidos, com várias histórias de fracassos.
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“É difícil de entender, mas, nos anos 70, era permitido aos artistas cometerem erros e fazerem experiências”, comenta. “Hoje, se seu primeiro disco não faz sucesso, ele é esquecido e não há uma segunda chance. E há um espaço de três, quatro anos entre os discos de um artista. Em 1972, se seu primeiro disco fracassasse, não havia problema: era só fazer mais um seis meses depois.” Isso realmente acontecia: em 1974 Lou Reed lançou dois álbuns, ‘Sally Can’t Dance’ e o ao vivo ‘Rock’N Roll Animal’. “Hoje, quem iria querer esperar metade de uma década por um novo disco depois de um fracasso?”, indaga Thompson.
Velvet Underground%2C com Lou (E) e a cantora Nico à frenteReprodução

O lado doidão do glam rock ocupa boa parte do livro. Histórias de abuso de drogas surgem a todo momento — como o vício em cocaína de David Bowie e as experiências de Lou Reed com heroína. Iggy Pop surge como um artista quase insano, capaz de abrir talhos no próprio peito no palco. Thompson, com tudo isso, acha natural que Bowie tenha se tornado o maior superastro dessa turma maquiada.

“Ele soube se atualizar, de forma que parecesse natural. Iggy e Lou ficaram bem lá atrás em termos de reconhecimento”. Já Marc Bolan passou como um cometa com seu grupo T. Rex. E morreu em 1977, deixando hits como ‘20th Century Boy’.
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Talvez estrelas como Lady Gaga, com seu visual exuberante, pudessem ser comparadas à turma glam. Thompson descarta. “Antigamente, parecia que os artistas trabalhavam sem plano de marketing. Era empolgante. Você não sabia o que essa galera iria fazer, porque nem eles sabiam! Hoje, parece que é tudo um plano de sete anos.”
O mundo de David Bowie
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Chamado de Camaleão do Rock, David Bowie sempre guardou todas as roupas que usou no palco, em suas diferentes fases — além de manuscritos, demos, fotos raras etc. A exposição ‘David Bowie’, que fez grande sucesso em Londres, aterrissa no Museu da Imagem e do Som de São Paulo trazendo cerca de 300 itens do arquivo oficial do artista. Alguns deles são muito raros, como a bota plataforma vermelha usada por ele durante a turnê do disco ‘Alladin Sane’, de 1973.
Ou as fotos promocionais de seus primeiros grupos. A expo ainda gerou o livro de capa dura ‘David Bowie’, que leva para as páginas muito do material mostrado no Museu (ed. Cosac Naify/MIS, 320 págs. R$ 119,90), incluindo ainda ensaios sobre a influência do cantor no mundo do cinema e da moda.
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Fã da turma glam, o DJ Wagner Fester anima-se com os livros e com a exposição. “O Bowie sempre guardou tudo! E ele sempre teve muitos fãs colecionadores. Quando um deles se destacava, ele acabava até procurando o cara e dava coisas para ele. Muitos artistas brasileiros colecionavam tudo do Bowie. O ator Sérgio Britto (1923-2011) tinha até shows dele filmados em super-8”, conta ele, que já chamou a atenção do ídolo. “Em 1990, quando ele veio ao Brasil , fiz um programa de duas horas sobre ele no rádio e ele pediu para me conhecer.”
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