Por daniela.lima

Rio - Na época do primeiro álbum solo, ‘MC Buchecha’ (2003), chegaram a dizer que Buchecha havia virado evangélico e pastor protestante, por causa de músicas como ‘Laços’ (“hoje ninguém mais namora e o tapinha/é o convite mais ativo pro motel”). “Não é verdade, não. Mas leio muito a Bíblia e admiro muito as histórias que estão lá”, diz.

O cantor volta repaginado e mais apimentado em seu quarto disco solo, ‘Adesivo’, em músicas como ‘Pegador’, ‘Baile em Miami’ (“geme gostoso no ouvido e faz o chão tremer”, com participação do rapper Flo Rida), ‘Mo Mo Mo’ (“gentil, fogosa, sabe seduzir/apetitosa, quero te invadir”). Ainda tem ‘Gamou’, que fala em uma mulher que estava “a fim e cheia de tesão” e ganha participação do pornográfico Mr. Catra na versão remix. 

Buchecha está mais apimentado em seu novo CD%2C ‘Adesivo’Divulgação


“A gente sempre tem que seguir tendências”, conta o funkeiro, sempre risonho, ao telefone. “O primeiro disco era legal, produzido pelo DJ Memê, mas não emplacou por causa desse tom (conservador).” Os dois filhos, Clauci Julio, 14, e Giulie, 10, ajudaram nessa renovação.]

“Clauci fez algumas músicas. Em ‘Pensamentos Voam’, o Clauci canta, com o nome de Buchechinha. Foi uma música que ele fez para a namoradinha dele”, diz Buchecha. “A Giulie, por exemplo, nem ouve música infantil. Ela e o Clauci curtem meu som, o da Anitta, o do Bruno Mars. Esses cantores não têm letra ingênua e têm um certo sex appeal. Trouxe isso para o meu trabalho”, completa o cantor, que, em algumas fotos de divulgação, adota um visual igual ao de Bruno, com chapéu.

Doze anos após a morte do parceiro Claudinho, ele mantém a pegada de hits como ‘Só Love’ e ‘Nosso Sonho’ em músicas como o single ‘Frutilly’ (cujo ritmo é marcado por um violão) e na faixa-título (com um “se o destino vaticinar”, que lembra o velho hábito do funkeiro de pinçar palavras inusitadas no dicionário). Na mesma ‘Frutilly’ também tem um verso, digamos, de duplo sentido: “pega o lulu e aumenta o som, vamos dançar”. Opa, como assim, Buchecha? Pega o lulu?

“Não, não, sem maldade! Isso é uma homenagem ao Lulu Santos, que é o meu maior ídolo!”, diz, gargalhando. “Essa música é sobre uma época de vacas magras, quando eu tinha uma namoradinha e a gente só tinha dinheiro para comprar um picolé e um saco de pipocas. Na época, eu era servente de obras e ajudava minha mãe e minha tia com o salário. Eu era tão tímido que, para você ter uma ideia, foi minha primeira namorada que me pediu em namoro. A segunda, também.”

Buchecha fala sério: a letra depois cita ‘Dancin’ Days’, clássico das Frenéticas regravado pelo cantor nos anos 90. “Nem tive essa intenção. Até perguntaram para mim numa rádio se era duplo sentido, mas nem era. É verdade que o apelido do Lulu já é complicado, né? Você fala que ‘gosta do Lulu’ e as pessoas já vêm com maldade”, graceja.

Funkeiro pop na época em que Anitta ainda (literalmente) engatinhava, Buchecha curte a nova geração do estilo, apesar de achar que “o funk perdeu um pouco aquela essência do melody”. Cita a própria cantora de ‘Show das Poderosas’ e Naldo Benny como bons exemplos.

“A Anitta é muito bonita de olhar, é supersexy. Naldo é um cara que tudo o que põe a mão vira hit. Até mesmo esse funk ostentação é legal, como o MC Guimê. Antes, o funk falava mais de comunidades. Eles levaram isso para uma linguagem que todo mundo pode entender”, analisa. “Isso, ajudamos a conseguir lá atrás, e muita gente até me pergunta se não sou um ‘vovô realizado’. Pô, já vou fazer 40 anos, né?”

Ainda assim, o funkeiro tira um barato da ostentação das novas gerações em ‘Cor Sim, Cor Não’, do disco novo. A letra fala de um cara que “bancou o camarote, mas esquece da mulher”. Essa galera nova não está deixando o romantismo de lado, Buchecha?

“Sem dúvida. O cara chega lá se achando porque está cheio de amigos, comprando bebidas caras... Mas tem que dar atenção é para a mulher dele, né?”, diz. “Essa música é quase um ‘Berreco’ 2 (hit de Claudinho & Buchecha). O rei do camarote mesmo é o cara que vai com a mulher e dá toda a atenção para ela, vai lá para curtir com ela.”

Buchecha continua com o dicionário do lado para compor e pescar palavras diferentes — o hábito já lhe rendeu elogios inimagináveis. “Uma vez, encontrei um advogado que fez comentários sobre o verso ‘se o destino adjudicar’, de ‘Nosso Sonho’”, recorda. “Nem sabia disso, mas ‘adjudicar’ é um termo jurídico. Ninguém usa normalmente. Isso acabou trazendo uma grande diferença para o meu trabalho com o Claudinho.”

Buchecha está “com alguém”, como fala, mas prefere não revelar nomes. “Tô feliz, mas tô casado é com o dicionário, que fica lá sempre do lado da minha cama”, brinca ele, que até hoje se considera um cara tímido. “Depois a carreira me ajudou e acho que fiquei mais ‘sem vergonha’, vamos dizer assim. Mas ainda fico inseguro, tímido. A voz vai enrolando. Os gestos de amor é que suprem isso.”

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