Por daniela.lima

São Paulo - São Paulo respira moda: além da 37ª edição da São Paulo Fashion Week, que começou segunda-feira e termina amanhã, no Parque Cândido Portinari, apresentando as propostas para o verão 2015, foi aberta na terça-feira à noite a mostra ‘Ocupação Zuzu’, no Itaú Cultural.

O desfile-performance%2C na sede do Itaú Cultural%2C em São Paulo%2C deixou a plateia com os olhos marejadosChristina Rufatto / Divulgação


São cerca de 400 itens, entre vestidos, croquis, documentos, produtos de publicidade e cartas, distribuídos em quatro andares do espaço, que fica na Avenida Paulista. A exposição é uma viagem pela obra e pela vida da costureira (era assim que ela gostava de ser chamada) mineira Zuzu Angel (1921-1976), que entrou para a história por ter sido a primeira a assumir referências tipicamente brasileiras nas suas roupas, na década de 60, e por ter usado a moda como instrumento político na busca pelo seu filho, Stuart Angel Jones, desaparecido e morto durante a ditadura militar. Não por acaso, o evento foi aberto no dia 1º de abril, data em que o país lembrou os 50 anos do golpe.

A noite contou com discursos da ministra da Cultura Marta Suplicy, entre outros, e com um depoimento emocionado de Hildegard Angel, filha de Zuzu, jornalista e criadora do Instituto Zuzu Angel e do Museu da Moda, que divide a curadoria da mostra com Itaú Cultural e Valdy Lopes.

Coube à estilista Karlla Girotto assinar um desfile-performance (reapresentado ontem na São Paulo Fashion Week) que deixou a plateia de olhos marejados. “Além de modelos vestindo réplicas de criações de Zuzu, quis destacar a sua importância política. Vinte estilistas, como Alexandre Herchcovitch, Ronaldo Fraga e Isabela Capeto, cederam roupas pretas para modelos e atrizes usarem na passarela, simbolizando o luto dela, e três atrizes leram trechos de um livro inacabado escrito pela própria Zuzu, chamado ‘Minha Maneira de Morrer’”, explica Karlla. “Essa exposição tem uma importância política absurda, já que o Brasil vive uma fase delicada, em que os jovens vão às ruas e se deparam, de novo, com poderes reativos presentes na sociedade”, analisa.

Entre inúmeras preciosidades, destacam-se três exemplares usados por modelos americanas no famoso desfile-protesto que Zuzu realizou, em 1971, na casa do cônsul brasileiro em Nova York, nos Estados Unidos. Entre os bordados, canhões de guerra e soldados. “Lembro que as francesas, na época da ocupação nazista, usavam azul, branco e vermelho nas ruas, para marcar uma posição, mas desconheço outro estilista que tenha incluído um tema político na passarela”, afirma João Braga, professor de História da Moda da Faap e da universidade Santa Marcelina (SP). “E, independentemente desse fato, ela fugiu da atitude colonizada ao adotar a brasilidade numa época em que isso era considerado cafona. Mas o tempo foi o seu melhor crítico”, emenda João.

Para a estilista Isabela Capeto, o que mais chama a atenção é a atemporalidade da moda de Zuzu. “É tudo muito atual”, diz ela. Tão atual que existe o projeto de relançar ainda este ano a grife Zuzu Angel, sob a direção de Alice Tapajós, numa rede de lojas populares.

A mostra ‘Ocupação Zuzu’ segue até o dia 11 de maio em São Paulo e aterrissa no Rio de Janeiro em agosto, no Paço Imperial.

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