Por daniela.lima

Rio - O brasileiro é frequentemente criticado pela falta de memória. “Não esqueço de quando estava nos Estados Unidos e os 80 anos do Frank Sinatra foram reverenciados em todo o país e até no mundo. Na mesma época, o Dorival Caymmi estava completando também uma data redonda, e a comemoração para seu aniversário foi discreta, em uma boate pequenininha, num subsolo. E, para mim, o Dorival tem tanta ou mais importância que o Sinatra. Fiquei chocado com a falta de reverência a seus ídolos que o Brasil cultiva. Espero, sinceramente, com muita devoção e fé, que esse livro ajude a mudar um pouco isso”, desabafa Zé Mauricio Machline, idealizador do Prêmio da Música Brasileira, que festeja 25 anos de (r)existência com o lançamento de uma luxuosa publicação (Edições de Janeiro, 376 págs., R$ 120), organizada pelo jornalista Antônio Carlos Miguel e com design de Gringo Cardia, que documenta em texto e 250 imagens as últimas duas décadas e meia do cenário da música nacional. 

Alcione (E)%2C Tim Maia%2C Beth Carvalho%2C Martinho da Vila e João Nogueira confraternizam na cerimônia do 2º Prêmio%2C em 1989Divulgação


O livro será lançado hoje, na Sociedade Hípica Brasileira, às 19h. Já a 25ª edição da premiação está marcada para o dia 14 de maio, no Theatro Municipal do Rio. Para celebrar as bodas de prata, pela primeira vez um gênero musical será homenageado na noite, em vez de um artista, como já foram Dorival Caymmi, Milton Nascimento, Rita Lee, Ary Barroso, Lulu Santos ou Tom Jobim. O escolhido, claro, foi o samba. Beth Carvalho foi convidada para ser a consultora da cerimônia este ano, corresponsável, junto de Machline, pela elaboração do repertório e do conceito da cerimônia, que terá o roteiro assinado por Zélia Duncan e apresentação de Mateus Solano e Camila Pitanga.

“O Prêmio tem um conselho formado por sete pessoas, incluindo eu mesmo, que escolhe todo ano quem será o artista homenageado. Por ser um ano especial, optamos em não destacar um artista, mas sim um ritmo que é a representatividade mais brasileira de todos eles. O samba é muito abrangente, não existe um artista brasileiro que nunca tenha feito um samba”, decreta Machline.

O Prêmio da Música Brasileira teve início em 1988, no Golden Room do Copacabana Palace. O homenageado daquele ano foi Vinicius de Moraes e a cerimônia contou com a presença de Dorival Caymmi, Renato Russo, Cazuza e Elizeth Cardoso. Nestes 25 anos, performances ao vivo preparadas exclusivamente para a premiação entraram para a história.

PRINCIPAIS INDICADOS

Nesta 25ª edição do ‘Prêmio da Música Brasileira’, Wilson das Neves desponta como recordista com seis indicações, seguido de Ney Matogrosso, com quatro, Gal Costa, Patricia Bastos, Edu Lobo e Osesp, com três cada. Adriana Calcanhotto e Fernanda Villa-Lobos tentam a estatueta de melhor álbum infantil e o projeto visual com ‘Arca de Noé’. Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano, Léo Canhoto & Robertinho concorrem à melhor dupla. Na briga pela banda destaque do ano estão Cheiro de Amor, Banda Calypso e Monobloco. Ângela Maria, Lana Bittencourt e Roberta Miranda duelam para ver quem será a melhor cantora popular. Enquanto que na categoria MPB estão Maria Bethânia, Rosa Passos e Simone. Lulu Santos disputa com Moska e Ney Matogrosso o prêmio de melhor cantor na categoria pop/rock/reggae/ hip hop/funk. Em samba, Zeca Pagodinho, Riachão e Wilson das Neves são os indicados a melhor cantor. 

Caetano agradece com saia xadrezDivulgação


Momentos que marcaram os 25 anos da premiação

Saias de Caetano Veloso e Gilberto Gil, discursos de Renato Russo e Tim Maia entraram para a história do Prêmio da Música Brasileira

O Prêmio da Música Brasileira reúne nesses 25 anos também muitas histórias curiosas e divertidas, desde a sua primeira edição, em 1988, no Golden Room do Copacabana Palace. O homenageado daquele ano, em que a geração do rock revelada no início da década ainda estava em alta, foi Vinicius de Moraes. A cerimônia contou com a presença de Renato Russo e Cazuza. O troféu de Melhor Grupo foi para a Legião Urbana. Renato, ao subir no palco, iniciou seu discurso em inglês, como se estivesse na festa do Oscar, e depois agradeceu aos companheiros da banda e deu “um alô para Luiz Melodia, um cara de quem gostamos muito, ali na plateia”.

Em 1993, a noite de premiação foi uma das mais fashion, quando Caetano Veloso e Gilberto Gil chamaram atenção usando saias sobre as suas calças compridas.

Outro momento marcante foi em 1996, quando Tim Maia improvisou um discurso de agradecimento pela vitória nas categorias melhor cantor e álbum: ele não apenas pediu licença e o microfone a Marieta Severo (uma das apresentadoras da noite, ao lado de Elba Ramalho), como fez um relato de seus recentes problemas de saúde. Tim sofria com problemas respiratórios relacionados à obesidade e à diabetes. Naquele ano, ele teve uma gangrena de Fournier que foi retirada por uma operação de emergência (ele morreu em 1998). Tim dedicou os prêmios ao seu médico, que o acompanhou ao Theatro Municipal.

As performances ao vivo preparadas exclusivamente para a premiação também marcaram a história. E Machline tem tudo filmado, só não sabe ainda que destino esse material contendo tantas preciosas apresentações terão: “Está tudo bem arquivado comigo, mas isso envolve muitos direitos, então ainda não sei o que será feito disso”.

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