Por daniela.lima

Rio - Logo nos primeiros minutos do longa ‘Praia do Futuro’, Wagner Moura e o ator alemão Clemens Schick protagonizam uma cena de sexo selvagem dentro de um carro. Depois de viver um farsante, um pai à procura do filho e muitos outros tipos, entre eles seu personagem mais marcante, o machão Capitão Nascimento da sequência ‘Tropa de Elite’, Moura volta às telas no dia 15 de maio no filme de Karim Aïnouz, em um papel que retrata o universo masculino de uma forma completamente diferente da imagem do policial durão. Ele será um salva-vidas de Fortaleza que larga tudo ao se apaixonar por um alemão de passagem pelo Brasil. Aparece em nu frontal e faz outras cenas de sexo bem quentes.

Wagner Moura aparece em nu frontal no filme ‘Praia do Futuro’Divulgação

“O filme é intenso, na medida que é intenso o amor”, divaga Wagner, que acha importante falar sobre a homossexualidade, mas reitera que esse não é o foco do longa. “Se puder ajudar de alguma forma, acho legal. Mas o filme não foi feito para isso”, afirma ele.

Na história, o ator é Donato, que, após o afogamento de um amigo de Konrad (Clemens Schick,), na Praia do Futuro, se apaixona por ele. Os dois viajam juntos para Berlim e o salva-vidas decide abandonar todo o seu passado, inclusive seu irmão mais novo, Ayrton (Jesuíta Barbosa), de quem é quase um pai.

Para o diretor, a opção pelo casal não foi aleatória. Após retratar com recorrência o universo feminino, em filmes como ‘O Céu de Suely’ e ‘Abismo Prateado’, ele quis se arriscar por outros territórios. “Era uma oportunidade de adentrar no universo masculino e, além disso, nas consequências do masculino”, explica Aïnouz, que completa: “Então, como os homens se amam? Acho importante que seja uma relação de homem com homem.”

Para fazer esse recorte, o cineasta cearense assume ter incluído algumas provocações, em cenas como a primeira transa entre Donato e Konrad, logo nos primeiros minutos da trama. “Algumas pessoas me falaram que faltou um rolo antes. Fiz aquilo de propósito, porque acho que os afetos se dão de maneira física, e não psíquica. Só depois que o amor vem”, justifica ele, que, desde 2002, quando lançou ‘Madame Satã’, já explicitava sua vontade de retratar figuras até então um pouco marginalizadas.

“Antes da questão dele ser gay (Madame Satã), era negro”, conta Aïnouz, que prossegue: “Sentia falta de protagonistas gays no cinema contemporâneo brasileiro também. Agora são outros tempos, e acho que estamos aí para isso. Tem uma coisa do Brasil ser medalha de ouro entre os crimes contra homossexuais. Existe uma certa tolerância até a página 2, e o filme tem um papel político nesse sentido, sim”, defende.

Para viver Donato, Wagner Moura precisou se expressar em cena mais com ações do que com palavras, e teve que aprender a nadar. Ele confessa que o salva-vidas foi um de seus personagens mais difíceis até agora, mas que sua maior questão não foi expor o corpo. “É um filme que fala da identidade, coragem, paternidade. Donato abandona o irmão que o considera um pai. As cenas que mostram o reencontro e resgate entre eles sem dúvida foram muito mais complexas e difíceis”, avalia o ator.

“Tenho uma coisa muito física. Se me pedem para eu fazer uma cena dando um cavalo de pau, não vou pedir pra um dublê fazer. Gosto disso”, diz Wagner, que conseguiu o papel após muita insistência.

“Sou realmente muito fã do Karim e eu mesmo me convidei! Como ele mora em Berlim, quando fui lançar ‘Tropa de Elite 2’ lá (no Festival de Berlim, em 2011), liguei para ele e marcamos um jantar. Ele me falou do filme e já me apresentou o Clemens”, lembra-se Wagner.

PARCERIAS

‘Praia do Futuro’ rendeu boas parcerias futuras para seu elenco. Karim Aïnouz pretende fazer um filme em que Wagner Moura interpretará um pastor. “Queria muito fazer um filme sobre os evangélicos, porque estou muito incomodado com algumas coisas que estão acontecendo agora”, comenta o diretor, que também tem planos para uma história sobre a Argélia, país em que nasceu seu pai.

Por sua vez, Wagner, que vai dirigir ‘Marighella’, sobre o guerrilheiro baiano, não sabe nem qual papel dará a Jesuíta Barbosa, mas o quer de qualquer jeito no elenco do filme que deve começar a rodar em 2016. “‘Praia do Futuro’ gerou amores e parcerias. Comecei a escrever um roteiro para uma série da HBO, mas acontece que não vou poder fazer. Seria um trabalho que eu iria dirigir, sobre estrangeiros no Brasil. Dentro dela, eu acabei escrevendo um roteiro para o Clemens”, conta ele, que agora pretende guardar o projeto e um dia transformá-lo em um longa-metragem.

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