Por tabata.uchoa

Rio - Sabe aquele estereótipo do nerd meio bobão, com óculos fundo de garrafa, cabelo oleoso e vida social nula? Pode esquecer. Antes alvo de muita zoação, eles conquistaram imensas fortunas (vale lembrar de Mark Zuckerberg e Steve Jobs) e, quem diria, popularidade. Os geeks, como ficaram conhecidos mais recentemente, comemoram hoje o Dia Internacional do Orgulho Nerd, escolhido por ser o aniversário da estreia do filme ‘Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança’, o primeiro da saga, lançado em 1977.

O Conselho Jedi RJ, que reúne os fãs da saga Star Wars pela cidade, fez apresentação no Vivo Open Air antes da exibição dos filmes 'Uma Nova Esperança' e 'O Império Contra-Ataca' na última quarta-feiraRaul Aragão / Divulgação

Para os fãs do clássico de George Lucas, aliás, acaba de ser lançada a edição inédita no Brasil do livro ‘Star Wars — A Trilogia’, (Editora Darkside, 528 págs., R$ 79,90). Outra novidade que promete agradar aos geeks é o livro ‘O Salmão da Dúvida’ (Editora Sextante, 302 págs., R$29,90), de Douglas Adams (1952-2001), mesmo autor da série ‘O Guia do Mochileiro das Galáxias’. Nascida de um programa da rádio BBC de Londres, a série de ficção científica virou livro, peça, seriado de TV e filme. Cultuado no meio nerd, Douglas deixou em seu computador relatos sobre sua infância, seus traumas, divagações sobre Deus, vida e universo que foram reunidos na edição que sai agora.

Os geeks foram parar até nas novelas: em ‘Geração Brasil’, trama das sete da Globo, o hacker Davi (Humberto Carrão) conquista as belas Luene (Ana Terra Blanco), Megan (Isabelle Drummond) e Manu (Chandelly Braz). “Acho que há uma visão dos nerds muito estereotipada, meio antiga. Há nerds de todos os tipos e muitos conseguem conciliar uma vida não só em torno de um computador, mas social, junto com saúde e esporte”, opina Carrão.

Também se engana quem pensa que todo nerd é igual. Flávio Trindade, de 35 anos, geek assumido, acredita que eles estão divididos em quatro grupos e tem até uma teoria sobre os diferentes tipos. “O nerd primordial é aquele que conhecemos como CDF, muito bom aluno, que só estuda. Considero a década de 90, com o advento do Super Nintendo, como o começo da segunda categoria de nerds: os gamers, aficionados pelos videogames. Depois, tem os da cultura pop: quem gosta de séries, HQ, seriados, livros, filmes se enquadra aí. Há ainda os de TI, que são os nerds de tecnologia, da grana”, classifica ele, grande fã de ‘Star Wars’, que conta, cheio de orgulho, ter um sabre de luz, réplica do usado pelo vilão Darth Vader no filme.

A adoração por ‘Star Wars’, aliás, é algo comum a muitos integrantes dessa tribo. Há até o Conselho Jedi Rio de Janeiro, que conta com mais de dois mil integrantes e, mensalmente, promove diferentes encontros em que os fãs da saga interagem, assistem aos filmes, conversam, debatem e — por que não? — fazem churrasco. O evento mais importante é a Jedicon, conferência anual que em 2013 reuniu 10 mil pessoas em um dia.

“A ideia do Conselho Jedi é romper com a solidão de quando a gente era criança e não conhecia ninguém que gostasse. Além de ‘Star Wars’, gostamos de várias outras coisas, é um meio de reunir pessoas que curtem o universo nerd de modo geral e ‘Star Wars’ é o ponto de encontro entre todo mundo”, diz Henrique Granado, de 36 anos, vice-presidente do Conselho Jedi, que na última quarta-feira fez uma apresentação no Vivo Open Air antes do início da exibição da sequência dos filmes ‘Uma Nova Esperança’ e ‘O Império Contra-Ataca’.

Leonardo Bigio tatuou no braço uma homenagem ao game ‘The Legende of Zelda’Daniel Castelo Branco

O fã e o nerd

Para Thaís Paiva, de 25 anos, o que diferencia o fã normal do nerd é a curiosidade acima da média em relação àquilo que curte. “O fã assiste ao seriado ou lê o livro e ponto. O nerd quer saber mais, não basta assistir à série: ele compra o livro, compara com a série, quer ler o livro antes da série, saber o que inspira cada personagem, o que rola nos bastidores, entender o autor, ver quem roteiriza, quem editou cada episódio”, diz ela, fã da série ‘Guia do Mochileiro das Galáxias’.

Para Leonardo Bigio, de 24 anos, o nerd é aquele que aplica à vida prática o que aprende com aquilo que gosta. “Eu gosto muito de filmes do Bruce Lee e do Jackie Chan. Então, comecei a praticar as artes marciais deles, o Parkour e Jeet Kune Do”, diz ele, que também é fã de ‘Star Wars’, de quadrinhos e do jogo ‘The Legende of Zelda’, o qual homenageou com uma tatuagem no braço.

Razões do sucesso

Mas como foi o processo que tirou os nerds do limbo da escola e os alçou ao atual status de ‘cool’? Para Patrícia Matos, mestre em Comunicação Social e especialista em cultura nerd, uma das hipóteses é o fato de eles serem excelentes para o mercado de trabalho. “Profissionalmente, eles possuem características desejáveis em um funcionário, dominam a tecnologia, são atualizados com o que está acontecendo. São trabalhadores meio que incansáveis, para quem a fronteira entre o trabalho e o lazer muitas vezes não está bem delineada”, diz ela. Flávio Trindade concorda: “Se você zoa o nerd hoje, amanhã pode estar trabalhando para ele”.

Outra característica está ligada ao alto consumo do grupo. “Geralmente, eles compram bastante tudo o que gostam: brinquedos, DVDs, livros, jogos, revistas, camisetas, objetos. Do ponto de vista da indústria, são muito interessantes”, analisa Patrícia.

Razões à parte, o que importa é que há mais espaço e amigos com quem dividir o culto das referências preferidas. ‘Star Wars’, ‘Game of Thrones’, Zelda, Homem Aranha, Batman, RPG, Dr. Who e tantas outras mais: escolha a sua ‘nerdice’ e que a Força esteja com você.

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