Rio - O escritor Affonso Romano de Sant’Anna abre hoje, na Caixa Cultural, o seminário ‘Fragmentos do Discurso Amoroso: Reflexões e Inspirações’, baseado na obra homônima do filósofo e crítico literário Roland Barthes. O evento inicia o diálogo sobre o amor num momento em que o carioca, em especial, vive uma onda de raiva, intolerância e desafeto.
Aos 77 anos e com mais de 40 livros publicados Affonso Romano de Sant’Anna continua dono de um discurso afiado e afinado com seu tempo. “Sim, estamos vivendo um momento de raiva. Mas se você analisar, todos os períodos têm a sua complexidade. Quando se tem 21 anos, você não tem uma visão geral do seu tempo. Quando você tem quase 80, é outra visão. Ou seja, a insatisfação, a luta, o conflito, sempre existirão. A ilusão brasileira foi achar que com a democracia seríamos todos felizes. E o ser humano não é feito para ser feliz, ele foi feito para viver a vida. E a vida é feita de altos e baixos, amor e desamor”, teoriza.
Também participam das mesas o professor Roberto Corrêa dos Santos (hoje), os escritores Clara Averbuck e Xico Sá (amanhã), a antropóloga Mirian Goldenberg e o deputado federal e escritor Jean Wyllys (sexta). Nos encontros, os convidados debaterão as mudanças ocorridas nas últimas décadas em relação ao discurso amoroso e seu reflexo na sociedade.
Para Sant’Anna, o discurso amoroso mudou. “Até os anos 1960, havia certo machismo, que aparece na poesia de Manoel Bandeira e Vinicius de Moraes. Era a busca da prostituta ou da mulher ideal. Com a pílula, as relações eróticas se modificaram. Desvinculou-se amor da procriação. O conceito de família também mudou muito. Não é mais baseado em duas pessoas de sexo diferente. E tudo isso refletiu, obviamente, na literatura”, explica ele.
Segundo o escritor, trata-se de uma mudança inevitável. “Julgar isso é uma questão de ideologia. O que me incomoda no mundo, hoje, é o cinismo. Vivemos numa sociedade cínica. O cínico é pessoa ambígua. Ele é a favor e contra ao mesmo tempo. Te dou como exemplo as chamadas artes plásticas atuais. São exemplos do cinismo, em que os autores produzem coisas que não entendem, o público não entende e todo mundo finge que entende. A vida é dura”, finaliza.
O seminário é gratuito. As mesas começam sempre às 18h30. Mais informações em www.facebook.com/discursoamoroso.