Por daniela.lima

Rio - Conhecido como o Livreiro do Alemão, Otávio Júnior está obstinado em resgatar e preservar a infância. Sua arma chama-se literatura e é com ela que pretende alcançar o seu principal alvo: o leitor mirim. Com presença confirmada no 16º Salão da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), que começa, hoje, no Centro de Convenções SulAmérica, ele lança ‘O Chefão Lá do Morro’ (Autêntica Editora, 24 págs., R$ 29), sua segunda trama infantil.

O Livreiro do Alemão posa na escadaria da Igreja da Penha%2C cenário de sua históriaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia


“Não basta entregar um livro na mão de uma criança. É preciso seduzi-la”, diz Júnior, que participa de uma tarde de autógrafos no dia 6. E de sedução literária ele entende bem. O seu primeiro amor foi encontrado em um lixão do Morro do Caracol, onde cresceu e mora até hoje. “Era um conto espanhol chamado ‘Don Gatton’. Eu tinha uns seis anos e fiquei completamente encantado com aquilo”, lembra-se o escritor, hoje aos 30, sobre sua primeira leitura.

Impulsionado pela curiosidade, viu sua fascinação pela literatura só aumentar com o passar do tempo. Ele é o idealizador do ‘Ler é 10 — Leia Favela’, projeto itinerante de promoção da leitura em comunidades cariocas, e hoje sua fama extrapolou o limite nacional. Em seis anos, já visitou 15 países, onde deu palestras e participou de eventos literários. Agora, assina seu terceiro título e sabe muito bem o que e para quem quer escrever. “Meu objetivo é transformar a infância nas comunidades em livros”, resume o autor, que cresceu indo ao Salão FNLIJ. “Aquilo era o meu parque de diversões!”, recorda.

A meta veio após ele perceber que muitas crianças não se envolviam mais profundamente com a literatura porque não se identificavam com as histórias contadas. “Quando uma criança de periferia olha para a capa do meu livro, já se identifica”, afirma ele, citando a ilustração de Ângelo Abu para a história de um popular chefão de um morro. Aliás, ele faz questão de inserir elementos que enalteçam também o entorno de onde vive, como o teleférico do Alemão e a Igreja da Penha.

“O Rio é uma cidade onde tudo está tão misturado que minhas histórias são interessantes também para quem não mora em comunidade”, defende Júnior, que teve seu livro recusado por uma editora devido ao título. “Muitos amigos meus também criticaram o título e questionaram se eu não estaria incentivando a violência. Mas, gente, é só uma brincadeira, justamente para despertar a curiosidade do leitor”, defende-se o escritor, que se dedica à literatura desde o encontro com ‘Don Gatton’.

Tantos anos de batalha não foram em vão. Além de ter ganho a medalha de maior personalidade do Rio pelo Tour da Taça da Copa do Mundo, ele tem muitos outros motivos para comemorar. Com jeito simples e olhos apaixonados, o Livreiro do Alemão conta, ainda, perplexo, os frutos de sua relação de amor com o livro.

“Em março, estive na Feira do Livro de Bolonha e foi como um sonho. No jantar de encerramento para os brasileiros, eu estava sentado ao lado do Ziraldo, na frente estavam a Ruth Rocha e a Ana Maria Machado. E eu pensava: ‘Não estou acreditando nisso, são os escritores que li na minha infância!’”, conta Júnior, com um sorriso estampado no rosto.

TARDE DE AUTÓGRAFOS

A partir de amanhã, no Conjunto SulAmérica, o time que entra em campo representando a literatura infantojuvenil reúne nomes como Ziraldo, Thalita Rebouças e Walcyr Carrasco. Destaque do 16º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, eles têm presença confirmada por lá, onde defendem a leitura com unhas e dentes.

Sem saber, a sobrinha de Thalita, Bia, de 9 anos, foi a grande incentivadora da tia em sua primeira história infantil, ‘Por Que Só as Princesas se Dão Bem?’. “Ela (Bia) estava gostando mais das princesas da Disney do que de mim. Então, fiquei com ciúme e escrevi esse livro”, conta a autora, que participa de uma tarde de autógrafos no dia 7.

Mais conhecido como autor de novelas, Walcyr Carrasco também tem uma vasta obra dedicada às crianças. Unindo sua experiência com os folhetins e a paixão pela leitura, no dia 1º, ele discutirá a promoção da literatura nas novelas e como incluiu personagens que trocavam dicas literárias nas cenas de ‘Amor à Vida’.

Ziraldo, veterano no universo infantil, dará autógrafos em várias datas: a primeira é dia 31. Ele é sucinto ao definir a meta de sua obra. “Quero transformar o Brasil em um país de leitores”, conclui.

DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO

HOJE
— Encontros paralelos com Graça Lima, às 9h e 14h.

AMANHÃ
— Laurentino Gomes (‘1889’ – Edição juvenil ilustrada), às 13h20.

DIA 31
- Ziraldo (‘Festa do Pijama’), às 15h.

- Pedro Bandeira (‘O Beijo Negado’), às 17h.

DIA 1º
— Walcyr Carrasco (debate sobre ‘A promoção da literatura nas novelas’ e lança de ‘Sonho de Uma Noite de Verão’ e outras publicações), às 14h e às 16h.

DIA 6
— Otávio Júnior (‘O Chefão Lá do Morro’), às 10h.

DIA 7
— Thalita Rebouças (‘Por Que Só as Princesas se Dão Bem?’), às 13h.

— Ziraldo (‘Feio, Bonito’) e Ruth Rocha (‘Poemas que Escolhi Para as Crianças’ e outras publicações), às 15h.

DIA 8
— Bia Bedran (‘Fazer um Bem’), às 11h. — Encontro com Pedro Bial, às 17h.

CENTRO DE CONVENÇÕES SUL AMÉRICA. Avenida Paulo de Frontin 1, Cidade Nova (3293-6700). De seg a sex, de 8h30 às 18h. Sáb e dom, das 10h às 20h. R$ 5. Até dia 8.

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