Por tabata.uchoa
João Carlos Assumpção%2C um dos autores de ‘Deuses da Bola — 100 Anos da Seleção’ Divulgação

Rio - A bola tem rolado solta no campo da literatura. Com a Copa do Mundo a pleno vapor em território nacional, muitas editoras aproveitaram para lançar e relançar histórias em que o futebol é o grande protagonista. Em forma de prosa, poesia, ilustrações ou fotografias, a paixão nacional ganha registros desde o primeiro jogo da seleção brasileira, que completa o seu centenário este ano.

As publicações vão além da zona esportiva. Dos estádios lotados a campinhos enlameados, a trajetória do nosso futebol se mistura à vida política, social e cultural da nação. “Termos vencido a Copa de 58, na Suécia, mudou a maneira como nós, brasileiros, nos enxergamos, bem como o mundo todo”, arrisca Gisela Zincone, editora da Gryphus, referindo-se a nossa primeira conquista do Mundial.

Não à toa, ela acaba de lançar três títulos, que complementam uma série iniciada em 98: ‘Didi — O Gênio da Folha-Seca’, de Péris Ribeiro (300 págs., R$ 49,90); ‘Milha Bola, Minha Vida’, autobiografia de Nilton Santos (248 págs., R$ 40), e ‘Jogada Ilegal’ (232 págs., R$ 44,90), de Luís Aguiar, sobre os escândalos que cercam a Fifa. “O que nós estamos tentando na Gryphus é pegar esta paixão nacional e transformá-la na história do país”, completa Gisela.

Em 1950, na primeira Copa que sediamos, a Fifa já exigia um padrão nos estádios e os brasileiros já atrasavam as obras necessárias. Alguns fatos se repetem até hoje. Outros, causam surpresa e uma certa nostalgia. “Em 1914, a Argentina marcou um gol contra o Brasil. O juiz, que era brasileiro, não viu e não considerou o lance. Mas os próprios jogadores argentinos avisaram o que havia acontecido”, conta o jornalista João Carlos Assumpção. Essa é uma das curiosidades contidas nas páginas de ‘Deuses da Bola — 100 Anos da Seleção Brasileira’ (ed. DSOP, 4320 págs., R$ 49,90), que ele assina com Eugenio Goussinsky.

A pesquisa que originou o livro começou ainda na década de 90. Na época, Assumpção e Goussinsky começaram a coletar fatos que antecederam as vitórias do Brasil em Copas do Mundo, além da trajetória do time canarinho, de 1914 até hoje. “A Seleção começou a ir bem e o povo se orgulhava muito disso. Existe essa relação muito forte. Mas, às vezes, o torcedor também entra na oposição”, avalia Assumpção, citando alguns ocorridos, como quando parte da população torceu contra o Brasil, na Copa de 70, por medo que a vitória favorecesse a ditadura.

Foto do livro ‘Onde Mora a Bola’%2C em que o fotógrafo Caio Vilela registra peladas de futebol pelo paísDivulgação

Mas não é só dentro dos estádios e em grandes campeonatos que o futebol inspira os brasileiros. Que o diga o fotógrafo Caio Vilela, que passou dez anos registrando peladas de rua por cinco regiões do país para o seu livro ‘Onde Mora o Futebol’ (ed. Cultura Sustentável, 152 págs., R$ 80). “É aí que mora a infância de estrelas como o Zico e o Garrincha, que vieram de bairros muito pobres”, comenta Vilela, que, em vez de jogar, prefere apenas registrar a poesia das partidas improvisadas na rua. “Vejo o futebol mais como arte do que como esporte”, explica ele.

Aliás, não é só Vilela que pensa assim. O escritor José Santos e seu filho Jonas Worcman de Matos também fazem parte desse time. Os dois são os autores de ‘Show de Bola’ (ed. FTD, 48 págs., R$ 31,90), que acaba de ser relançado como e-book, com poemas bem-humorados sobre o esporte mais popular do país. “A gente vê que essa paixão é hereditária, está no nosso DNA”, diz José Santos. Em 2002, quando seu filho tinha apenas 6 anos, já acompanhava o pai e acordava de madrugada para assistir à Copa do Mundo, que naquele ano foi na Coreia. Aos 8, começou a escrever poesia e aos 14, em 2010, lançou o livro com o pai. “Aqui, o futebol extrapola as fronteiras do esporte. Temos uma grande produção cultural em volta disso”, resume.

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