Por daniela.lima
Bia Willcox%3A O lugar-comum Divulgação

Rio - Segundo o ‘Caldas Aulete’, “lugar comum é Ideia, expressão ou argumento banal, sem originalidade; BANALIDADE; CLICHÊ.”

O clichê é uma frase ou expressão que, de tão utilizada, ficou previsível. É uma ideia batida, uma fórmula que se repete.

Eu sei que muitos aqui sabem disso. Não quero parecer didática.

Acho que comecei pelos dicionários porque preciso mudar em relação aos clichês.
Virei uma pessoa paranoica e quase amarga por causa deles. Passei muito tempo ouvindo pessoas interessantes e sabidas dizendo “isso é um clichê” quando queriam criticar um texto ou obra, tornando-o menor. Daí desenvolvi essa espécie de clichefobia: ando ligada o tempo todo para que o que penso, falo ou escrevo não caia em algum lugar-comum. Para não usar clichê.

Nossa, que pretensão a minha! Óbvio que não vou conseguir. E que chata venho me tornando com isso! Quero acordar enquanto é tempo (opa, detectei um...) e seguir escrevendo com liberdade o que sinto (ai meu Deus, mais um). Alguém pode me ajudar a parar de debochar de mim mesma? Tudo bem que hoje só se pode ser politicamente incorreta com a gente mesmo ( o famoso se autossacanear), mas essa história de patrulhar meu próprio texto atrás de clichês tá me fazendo mal.

A verdade é que essa busca frenética pelo “lado B” ou pelo que nunca se viu nem ouviu é quase ingênua. Escrever o que ninguém espera ler é admirável, fazer o que não se costuma fazer, ou fazer de um jeito novo, também. Os textos clichê-free de Rubem Fonseca, os dramas psicológicos de Bergman ou o humor refinado de Woody Allen justificam a minha saga pelo extermínio de clichês — eles são geniais. E eu admiro feitos geniais, esse é o meu tombo.

Mas, convenhamos (escrevo e falo pro espelho, pra tentar me convencer), se algo se repete porque deu certo, tem um grande mérito, não? Se virou clichê, é porque funcionou bem, ficou popular, fez sucesso na acepção simples e objetiva da palavra. É preciso mais respeito ao sucesso. Se é pop, se agrada a milhões, tem o seu valor, reconheçamos. De Romero Britto a Paulo Coelho, de Anitta a Marcelo Rossi, há uma legião de críticos se referindo a eles com desdém e sarcasmo. Se eles se tornaram clichês humanos, é porque agradaram a muitos fazendo o que fazem como fazem. Têm todo o meu respeito. Sempre tiveram. Principalmente hoje, quando tento humildemente entender meu erro em rejeitar tão radicalmente o lugar-comum.

A partir de hoje não terei medo de ser feliz (ops, lá vem ele). Nelson Rodrigues não deixou de ser do time dos geniais porque se utilizava de clichês (e ele abusava deles!). Faço minhas as palavras da Lispector: nasci pra ser livre (até ela, viu?) e não preciso fazer o Enem, portanto inauguro aqui uma nova fase. A fase em que amadureci e entendi que o estoque de opções de linguagem é limitado e que o que é bom vai se repetir, sim. E virar o tão malfalado lugar-comum.

Afinal de contas, por que o meu lugar não pode ser comum?
Pode, sim. E será.

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