Por daniela.lima
Bia Willcox%3A Fim de festaDivulgação

Rio - Esses últimos dias me fizeram lembrar da minha infância, quando eu viajava de férias com a família, fosse pra longe, pra uma casa de praia ou pra algum hotel fazenda. Quando a temporada estava pra terminar e os primeiros sinais de volta à rotina apareciam, uma sensação horrível que misturava frustração, melancolia e inconformismo tomava conta de mim.

Minha memória sensorial me trouxe de volta um pouco disso tudo (claro que amenizada pelas doses cavalares de experiência de vida e maturidade) nesses últimos dias de Copa do Mundo.
A dor da derrota e a humilhação do último dia 8 foi a cereja do bolo. A verdade é que vivemos um período de anestesia, parecíamos todos respirar um ar diferente que nos tornou adictos por um tempo limitado — o ar da Copa.

Falo da atmosfera do Rio de Janeiro onde eu vivo e onde, em meio ao dia a dia de trabalho e compromissos, foi possível vivenciar um pouco daquele clima de férias e de festa.

Falo de ir ao supermercado e ver estrangeiros pelos corredores e nos caixas tentando se fazer entender. Falo das ruas cheias de gringos vestindo suas camisas de times e falando alto em outras línguas. Falo das cantorias do metrô, das idas em bando para o Maraca, dos bares cheios, dos points de nacionalidades diferentes e das inúmeras festas e espaços temáticos durante a Copa.

Falo de uma realidade específica, de uma espécie de ilha da fantasia, de um Rio que se arrumou e se maquiou para hospedar a maioria esmagadora de estrangeiros. Papo fútil em meio aos problemas do Rio? Pode até ser, mas falo de algo real e vivido por muitos que frequentaram os bairros e regiões invadidas por esse clima.

A lavada que o Brasil tomou da Alemanha naquele jogo surreal aprofundou o sofrimento inevitável do fim da festa.

Sediamos a Copa, fomos o dono da festança. Depois de muito terror e pessimismo, o evento aconteceu e o saldo foi pra lá de positivo. Foi possível viver aquela alegria das férias sem sair do lugar. Foi possível descansar um pouco a mente da chatice dos problemas cotidianos muitas vezes irremediáveis e se divertir.
Teve todo o tipo de celebração — de reunião em casa de amigos a grandes concentrações de torcedores em espaços preparados para isso. Teve decoração de escritórios, unhas pintadas de verde e amarelo, acessórios da seleção brasileira e muita interação entre locais e visitantes. Teve paquera com gringos e até romances intercontinentais.

Sabíamos que não era pra sempre e que a euforia tinha prazo de validade. Agora é encarar com maturidade e meter bronca nas nossas rotinas. Mais que nunca é hora de mostrar que sabemos dar festa e receber os convidados. Vai ter comemoração dos campeões sim e eles não serão brasileiros. Fechemos com chave de ouro, do jeito que abrimos.

Fim de festa é chato. Fim de férias mais ainda. Encaremos com elegância e cordialidade. Mostremos o que sabemos fazer bem e tentemos humildemente aprender com os que nos derrotaram — se dedicar com perseverança e disciplina nos levará sempre mais longe.

As festas inevitavelmente virão. As férias também.

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