Por daniela.lima

Rio - Talvez nem ele saiba explicar como consegue tempo para tocar tantos projetos. Tico Santa Cruz só pode ter uns clones espalhados pela cidade. Veja só: mal o cara disparou um CD duplo (duplo!) com seu grupo Detonautas, já anuncia o lançamento de seu terceiro livro, ainda assina uma grife de camisetas, é superpresente na internet (opinando diariamente sobre diversos assuntos no Facebook), dá palestras Brasil afora, ajuda associações beneficentes, faz shows solo, mantém o projeto O Rebu (para cantar Raul Seixas) e ainda conseguia, não me pergunte como, apresentar um programa de rádio, o ‘Transamérica Rock Clube’.

Tico Santa Cruz com o grupo%2C que dispara 18 músicas em dois discosDivulgação


“Mas do programa eu tive que sair recentemente, não estava dando tempo mesmo”, lamenta o multi-homem. “A agenda do Detonautas está lotada. Mas eu gosto mesmo de passear por vários caminhos, não gosto de ficar parado. Se começo a me sentir acomodado, logo busco outra coisa para me movimentar”.
Ele ressalta que ‘A Saga Continua’ é o quinto CD de inéditas do Detonautas depois de um hiato de seis anos sem lançar. Mas, para compensar o tempo, o novo trabalho traz 18 faixas em dois discos.

“A gente tinha muito material, acumulado durante uma fase de monocultura musical de duplas sertanejas. Foi um período difícil para o rock, mas eu viajo muito e percebo que já há uma saturação desse mercado”, aposta. “Vivemos em ciclos, e quando uma coisa começa a se proliferar muito, vem uma nova para virar referência. O (reality global) SuperStar ajudou bastante o rock, revelando boas bandas. E quando a mídia de massas começa a abrir espaço para o rock, é porque alguma coisa está mudando. É a hora do rock, mas não mais daquele rock infantil das bandas coloridas, que destoaram do bom rock que sempre foi feito no Brasil”, decreta, alfinetando a geração de grupos como Restart.

A típica língua afiada continua em ação. “Sempre associei o rock com as questões sociais e políticas. É típico do roqueiro ser contestador, e quando crises políticas começam a surgir, quem toma a frente para falar o que o povo quer ouvir é o rock”, dispara Tico, apontando também contra a Copa do Mundo. “O que me incomodou não foi a Copa em si, mas não poder curtir a Copa, que disseram ser para o povo, mas os ingressos caríssimos não mostraram isso. Precisou que houvesse a Copa do Mundo para o governo fazer obras que são necessárias há anos. Por isso o Detonautas recusou o convite para fazer show na Fifa Fun Fest”.

Tico acredita que uma seleção brasileira mais rock and roll poderia ter feito a diferença no campo — lembrando que o time de Felipão escolheu como música do time o pagode ‘Tá Escrito’, do grupo Revelação. “Eles são muito oba-oba, muito ‘saúde e beleza’ e pouca atitude. Tinha que ter uma atitude mais rock and roll para ganhar”, brinca.

LIVRO E CAMISETAS

Autor dos livros ‘Clube da Insônia’ e ‘Tesão’, Tico Santa Cruz anuncia a chegada de seu terceiro título. “É um romance policial que escrevi no meu blog e resolvi lançar, chamado ‘Pólvora’. É algo meio ‘Assassinos Por Natureza’ (filme policial de 1994 dirigido por Oliver Stone, com roteiro de Tarantino), mas com uma abordagem mais tupiniquim”, detalha.

Tico Santa Cruz falou com O DIA de Teresina. É de lá que vem mais um braço de suas atividades musicais-conscientizadoras.

“Tenho amigos do Piauí com quem produzo a grife Moska Na Sopa. Fazemos estampas para camisetas com mensagens políticas. Não faço muita propaganda disso porque tenho dificuldade com comercialização. Apenas aprovo as estampas e sugiro alguns temas”, explica. “Eu adoro falar, mas sou um péssimo vendedor!”.

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