Por tabata.uchoa

Rio - Vamos ao coreto, lá na pracinha, assistir a um show? O convite pode soar até meio anacrônico hoje, mas era assim que as pessoas se divertiam há cerca de 50, 60 anos. “Há uma memória afetiva das pessoas ligadas a isso, especialmente no caso dos mais idosos. Mas mesmo os jovens adoram, até porque nosso trabalho se relaciona de certa forma com o Carnaval de rua”, conta Pedro Paes, saxofonista do octeto Luzeiro.

A banda (na tradição dos antigos grupos compostos por metais, madeiras e percussão) inicia hoje a segunda edição gratuita da turnê ‘O Som dos Coretos’, começando pelo da Praça da Harmonia, na Gamboa, às 16h. No show, tem como convidada a Go East Orkestar, que põe um clima europeu no evento, trazendo sons dos países da Península Balcânica.

O Luzeiro (Pedro no sax) mistura choro%2C samba e marcha-rancho com músicas da Grécia e da TurquiaSilvana Marques / Divulgação

Os coretos fazem parte do dia a dia dos músicos. “Alguns de nós nascemos em cidades do interior e aprendemos música com integrantes de bandas que tocavam neles. A gente até evita usar a palavra 'resgate’ para falar do que fazemos, porque isso ainda está vivo para nós. Estamos dando continuidade a um passado de glórias”, conta Pedro. Ele e Marcelo Bernardes (flauta e flautim), Rui Alvim (clarinete), Aquiles Moraes (trompete), Everson Moraes (trombone), Thiago Osório (tuba), Magno Julio e Marcus Thadeu (percussões) tocam músicas de Ernesto Nazareth, do compositor italiano Nino Rota, de Tom Jobim e até do sambista Marçal.

“Também tocamos Anacleto de Medeiros (1866-1907), compositor nascido em Paquetá que fazia músicas para várias bandas e nos inspirou muito. Nosso nome era Luzeiro de Paquetá, que é uma música que o (compositor) Mauricio Carrilho fez em homenagem ao Anacleto. Acabamos tirando o ‘de Paquetá’ porque as pessoas achavam que éramos da ilha”, brinca Pedro.

Há sempre muitas famílias assistindo aos shows. O público infantil, conta o músico, é um dos mais animados. “As crianças geralmente querem ver o que estamos lendo nas partituras e ficam animadíssimas com os instrumentos, com as apresentações. Tentamos criar uma cultura, entre todas as faixas etárias, de ir para a rua ouvir música. De sair um pouco do roteiro Centro-Zona Sul. E de acabar com essa ideia que algumas pessoas ainda têm de que o músico que se apresenta na rua tem qualidade inferior”, conta Pedro.

“Como o mercado para músicos vem tendo problemas há alguns anos, muitos estão ocupando as ruas. E também há grupos de teatro, de circo, fazendo o mesmo. É a hora de repensar esse uso do espaço público”.

O empenho do grupo volta e meia se choca com alguns obstáculos. O mais grave é justamente a má conservação dos coretos. “Muitos deles estão abandonados”, lamenta o músico. “Fazemos inspeção nos locais antes de bater o martelo, para saber se é viável tocar lá e ainda levar público. A gente tentou tocar no coreto da Igreja da Penha. É um lugar histórico, com uma relação enorme com a música que fazemos. Mas infelizmente não foi possível. Logo nas primeiras negociações, na primeira edição do projeto, vimos que não haveria condições”.

Nos próximos shows, o Luzeiro recebe o OOJazz (no Coreto do Méier, na quinta), a Orquestra Voadora (em Vigário Geral, no dia 21 de setembro), a Fanfarrada (em Sepetiba, dia 26 de outubro) e o Na Paralela do Frevo (no Flamengo, dia 30 de novembro).

“Nós tocamos dobrados, choros, marchas-rancho, sambas, polcas. Mas também adaptamos o nosso repertório a cada show, para receber as bandas convidadas. Por causa da Go East Orkestar, hoje, vai rolar até música da Grécia e da Turquia. Quando a Fanfarrada vier, vamos tocar música cubana”, conta o saxofonista.

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