Por daniela.lima
'Eu já cantei com orquestras e me sinto muito bem. É grandioso%2C denso%2C uma maravilha para um intérprete'%2C diz Zélia DuncanDivulgação

Rio - ‘Se Maomé não vai à montanha...’ É essa a lógica do Rio Internacional Cello Encounter, que, há 20 anos, trata de encurtar a distância entre o erudito e o público. Mais uma edição do evento, um dos principais da música clássica no país, ganha corpo hoje e vai tomar praças, parques, igrejas e centros culturais do Rio e de mais quatro cidades: Niterói, Cabo Frio, Teresópolis e Volta Redonda. Por aqui, as apresentações acontecerão em 14 endereços na Zona Sul, Centro, Estácio e Maré.

E os esforços não se resumem a levar a música aonde o povo está. O Rio Cello também se preocupa em juntar o que o mundo teima em separar: música clássica e pop. Hoje, por exemplo, o público verá que é possível misturar a batida forte do pop com instrumentos da música erudita. Às 11h, a estação de Inhaúma será tomada pelo DJ Muralha, acompanhado por David Haughey no violoncelo (ou celo, na forma abreviada) e Her Agapito no violino. Os bailarinos Paula Maracajá e Danilo D’Alma completam a apresentação. De lá, o grupo segue para a estação Carioca, no Centro, onde encerra a performance. À noite, na abertura oficial do festival, no Espaço Tom Jobim, Zélia Duncan cantará ao lado do Rio Cello Ensemble, com 11 violoncelistas, além do pianista Gilson Peranzetta e o saxofonista Mauro Senise. E este é só o primeiro dos dez dias de evento.

“Só no Rio, serão 50 concertos e, em todos eles, a vontade expressa de mostrar a sintonia fina que existe entre jazz, rock, chorinho e até o baião com instrumentos como o violoncelo, o violino e o piano. A novidade deste ano é o Cello Parade, uma exposição de esculturas do artista plástico Sérgio Marimba, que vai acontecer em vários locais, como o Parque Lage e o Jardim Botânico. Marimba criou violoncelos de metal. Depois, as obras serão leiloadas e o dinheiro, revertido para projetos sociais de comunidades cariocas”, conta o idealizador do festival, o inglês David Chew. Isso porque outra vertente do Rio Cello é atuar junto à periferia das cidades onde acontece, lançando mão da música clássica como meio de resgate de jovens em situação de risco através de oficinas, workshops e apresentações.

“Tive a ideia de criar o festival depois da chacina da Candelária, em 1992. Eu decidi que tinha que fazer alguma coisa para transformar a vida dos jovens. Comecei a dar aulas em um espaço na Lapa e, coincidentemente, lá havia um sobrevivente da chacina. Meu desejo só aumentou. Então, em 1994, aconteceu o primeiro Rio Cello. Foi um encontro de violoncelistas que acabou crescendo e se transformando no que se vê hoje”, celebra Chew, músico radicado e apaixonado pelo Brasil.

Zélia Duncan, à frente da abertura logo mais, confessa que sua relação com a música clássica não é muito assídua. “Mas é sempre prazerosa. Eu já cantei com orquestras várias vezes e me sinto muito bem. É grandioso, denso, uma maravilha para um intérprete”, garante a cantora, que terá no repertório música popular com sonoridade erudita.

Além de Zélia Duncan, o 20º Rio Cello terá entre as atrações a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), Banda Filarmônica do Rio, Wagner Tiso, Coral da Vila Olímpica da Maré e o carioquíssimo Choro na Feira, entre outros. Os programas, é claro, contemplam clássicos, como Bach, Mozart, Beethoven e Vivaldi. Entre os brasileiros de pegada mais popular, Pixinguinha, Tom Jobim e Ary Barroso. A programação completa está em www.riocello.com.

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