Por daniela.lima

Rio - ‘Omelete de clara, um sanduíche de ricota com peito de peru e Cola-Cola Zero”. Paulo Gustavo pede algo que “dê liga” no estômago, antes de subir ao palco. Ele precisa de energia para gastar, já que seu tempo anda corrido demais e cheio de compromissos. Uma hora antes de encarnar Beyoncé e dançar igualzinho à diva do pop no espetáculo ‘220 volts’, em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, ele ainda atende a alguns telefonemas, pede ao fotógrafo que seja breve e começa o bate-papo com a fisionomia séria, comedido, falando sobre a nova temporada da peça, uma adaptação do programa homônimo que já é sucesso no canal Multishow. 

'Sou um cara bonito%2C né%3F E beleza chama público. Se fosse o Reynaldo Gianecchini ninguém ia querer assistir'%2C brinca Paulo GustavoFernando Souza / Agência O Dia


Mas como o forte do ator não é fazer o tipo durão, ele não demora muito para se soltar e mostra o que sabe fazer de melhor: graça. “Sou um cara bonito, né? E beleza chama público”, diz ele, aos risos, para justificar mais de 35 mil ingressos vendidos e sessões esgotadas até setembro de sua peça. Cadeiras vazias na plateia só mesmo na hora da sessão de fotos para a Já É! Domingo. “Se fosse o Reynaldo Gianecchini ninguém ia querer assistir”, brinca.

O assunto beleza contagia o ator. Ele se empolga e não economiza nas piadas sobre seu poder de atração. “Se eu não fosse ator, ia ser feio pra c*. Mas como as pessoas só costumam me ver montado de personagens, quando me veem ao vivo tomam um susto. Percebem que sou até bonitinho. Tenho aquele tipo de beleza que não enjoa. Vou além, sabe?”, continua ele, tornando difícil a tarefa de entrevistá-lo sem se desconcentrar com as gargalhadas.

'As pessoas já estão acostumadas com a minha fuça%2C eu entro na boate e viro a Xuxa'%2C brinca o humoristaFernando Souza / Agência O Dia

“O assédio aumentou bastante entre homens, mulheres, tudo. Eu curto. A mulherada fica em cima, querendo, porque elas estão muito necessitadas, né? A falta de homem é tanta que eu acabo sendo opção”, diverte-se e completa: “Mas eu estou namorando, estou quietinho.” Essa foi a única pista que deu sobre sua vida amorosa. Paulo optou por preservar o nome dá pessoa com quem está se envolvendo. “Não posso falar, não vem fazer a blogueira fofoqueira não, hein. Bota só namorando e acabou”, diz, aos risos. A fase romântica veio também para deixar o ator um pouco mais caseiro. Na época da ‘pegação’, Paulo Gustavo não aliviava nem os fãs. “Já peguei muitos, gente! Pegar fã é a melhor coisa que tem, porque a pessoa já está ali pra pegar você. Eu nem me preocupava se iam explanar na internet ou não, estou cagando para o mundo”, dispara.

A personalidade forte do ator faz com que ele fale o que vem à cabeça. Não titubeia ao dizer que é contra a Parada Gay e assuntos que envolvam sua sexualidade. “Eu não teria problema em falar se sou gay ou se sou hétero. Mas acho que ficar levantando bandeira para esse assunto é que gera o preconceito. Eu sou contra a Parada Gay, acho que não tem que ter isso. Não existe Parada Hétero. Acho que, com isso, a gente fica só valorizando os idiotas. Os que são preconceituosos devem ser ignorados simplesmente. Às vezes, acho que o silêncio fala muito mais. As pessoas têm que falar do meu trabalho. Sites e revistas de fofoca que gostam de dar destaque para essas coisas, mas eu nunca dou entrevista para revista de fofoca”.

Sem papas na língua, quem sai ganhando é o humor. Mesmo com piadas sobre gays, feios, pobres e gordos em seu show, Paulo Gustavo consegue burlar o politicamente correto sob aplausos de uma plateia bastante heterogênea. “Acho que falo de uma forma realmente ingênua, educada. Eu brinco com um assunto sério e, às vezes, pode sair de uma simples brincadeira e virar bullying, mas não vira porque as pessoas se divertem. A gente não tem intenção de agredir ninguém e isso fica muito claro com a minha interpretação. A Senhora dos Absurdos é megapreconceituosa, fala de gays, negros, pobre e as pessoas morrem de rir”, argumenta ele, reforçando que tudo o que fala cabe perfeitamente na boca da personagem.

É diferente se eu, Paulo Gustavo, fosse zoar um negro ou algum pobre. Aí não tem graça. Eu fui criado por uma família que tem zero preconceito, zero problema de brincar uns com os outros. A minha mãe é gorda e a minha irmã é gorda. Eu só não sou gordo porque já fiz duas lipos, entende? Porque cortei caminho. Mas eu não tenho problema em brincar com isso. Eu me chamo de bicha o tempo inteiro porque acho que não sou um cara masculino, falo que estou meio bicha, sabe? Levo a vida na esportiva e as pessoas acabam entendendo dessa forma também.” 

Para interpretar seis personagens femininas (Mulher Famosa, Mulher Feia, Senhora dos Absurdos, Vagaba, Maria Alice e Ivonete) em cena, o comediante admite ter emagrecido alguns quilinhos. “Sequei para poder entrar de Beyoncé, mas não fechei a boca, não. Estou comendo superbem, só que, agora, como tudo saudável. Tenho uma nutricionista que cuida de mim e uma chef de cozinha preparando minha comida”, explica Paulo Gustavo.

A verdade é que por mais que ame o universo feminino, Paulo Gustavo tem pavor de maquiagem. “Na hora de me maquiar, o meu primeiro pensamento é o ódio. Por mim, sumia com aquela maquiagem toda, jogava fora! Quando vejo cílios postiços, eu fico todo arrepiado. Tenho preguiça de colar peruca, pintar a cara. Mas depois que fico pronto, ninguém me segura. Mulher dá muito pano pra manga.” Futuramente, uma nova temporada da peça será feita com os personagens masculinos de ‘220 Volts’. Mas são planos futuros. Atualmente, Paulo se prepara para a nova fase do humorístico ‘Vai que Cola’, que estreia a segunda temporada em setembro, e também vai estrear um programa de auditório, ambos no canal Multishow. Além de se preparar para rodar o filme ‘Minha Mãe é uma Peça 2’, em outubro.

“Tem hora que fico exausto, tento dormir 12 horas para me recuperar. Não dá para sair para balada. Aqui no Rio, as pessoas já estão acostumadas com a minha fuça, eu entro na boate e viro a Xuxa”, conta ele, referindo-se ao assédio dos fãs. E as brincadeiras continuam quando ele fala da indefinição de seu novo programa de auditório. “Ainda nem tem nome, se você tiver alguma ideia pode me ligar, tá?”

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